Goteiras, infiltrações, mato alto, sujeira e problemas elétricos. Essas são algumas das condições de escolas estaduais, da gestão João Doria (PSDB), na Brasilândia (zona norte). No dia a dia, é comum ter as aulas interrompidas ou mesmo suspensas por conta de problemas relativos a infraestrutura, segundo pais, alunos e professores.
No mês passado, um vazamento de gás na E. E. Professor Crispim de Oliveira manteve a escola fechada por uma semana inteira, lembram os pais. Em dias de chuva, as goteiras também atrapalham. "Meu filho conta que a sala enche de água e as crianças têm aula no corredor", diz o cobrador de ônibus Jonathan Soares, 32 anos.
Na mesma escola, há quadros de energia expostos e, segundo o pai de um aluno, a cobertura do acesso principal do prédio tem tantas infiltrações que ameaça desabar.
Também faltam itens básicos de combate a incêndio, como extintores e mangueiras para hidrantes. Atualmente, a escola funciona sem AVCB, o alvará do Corpo de Bombeiros.
"Esses problemas existem desde antes de meu filho ser matriculado, há dois anos, mas estão cada vez mais urgentes", afirma Soares.
Também na Brasilândia, a E. E. Professora Dalila de Andrade Costa tem problemas parecidos, como mato e infiltrações. Nos banheiros, as cabines estão todas sem porta e vasos sanitários, sem assentos. Falta ainda material básico de higiene, segundo pais e alunos.
"Eu tenho que mandar papel higiênico e sabonete com o meu filho, pois a escola não oferece", afirma uma mãe que não quis ser identificada.
No último dia 14, o Agora mostrou a situação de outra escola estadual da Brasilândia, a João Solimeo. Na unidade, lousas que não apagam desde 2018 prejudicam as aulas. Na ocasião, a Secretaria Estadual de Educação disse que o processo para compra de novos quadros estava em andamento.
Cobras
O mato alto no terreno da E. E. Professor Crispim de Oliveira tem atraído animais peçonhentos e bichos para a unidade. Há algumas semanas, alunos do quinto ano se depararam com uma cobra dentro da sala de aula ao chegarem na escola pela manhã. Naquele dia, as aulas foram interrompidas até que o animal fosse retirado do local, horas depois, pelo Corpo de Bombeiros.
"A gente sempre vê cobra, aranha e rato, principalmente, na quadra, por causa do matagal que tem do lado. Até escorpião já encontraram", disse a estudante Isabele Damaceno, 9 anos. O espaço onde ocorrem as aulas de educação física sofre ainda com infestação de pombos, que podem transmitir uma série de doenças.
A mãe da menina, Patrícia Damaceno, 28, diz que os problemas do colégio já foram relatados à Diretoria de Ensino, mas nada foi feito. "A escola está abandonada. Não é só o aprendizado das crianças que está prejudicado, mas a segurança delas", afirma.
Infraestrutura
Para o coordenador de projetos do Movimento Todos Pela Educação, Caio Callegari, uma boa infraestrutura básica é essencial para que alunos e professores vejam as escolas como ambientes de aprendizagem.
Em locais onde as condições físicas provocam sensação de desconforto e insalubridade, a tendência é que se sintam tratados de forma indigna pelo poder público, diz o especialista.
"Essa percepção de não valorização leva a um processo de grande desgaste dos professores, o que frequentemente provoca problemas de saúde e afastamento médicos", explica Callegari. "Do ponto de vista dos alunos, ao não sentirem que a escola é um ambiente atrativo, o resultado final é a evasão".
Resposta
O presidente da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) Leandro Damy, disse à reportagem que há no estado 1.348 escolas com a necessidade de reformas estruturais. O órgão, vinculado à Secretaria Estadual de Educação, sob gestão de João Doria (PSDB), aguarda liberação de um aporte de R$ 1,1 bilhão para realização das obras nos próximos dois anos e meio. As 630 avaliadas como de maior urgência serão iniciadas ainda em 2019.
Segundo Damy, a E. E. Crispim de Oliveira está entre as prioridades da pasta para as reformas. "Já fizemos uma avaliação e há necessidade de uma reforma bem ampla, envolvendo revisão elétrica, manutenção de esgotos e reposição de itens de combate a incêndio, além de corte do mato e dedetização". O orçamento para as intervenções na unidade,diz, ultrapassa os R$ 900 mil.
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