Obras paradas tiram o sono e a esperança de paulistanos

Canteiros abandonados e estruturas se desmanchando são parte do cenário

Luciano Cavenagui
São Paulo

A paralisação de diversas obras do poder público na capital vem causando transtornos e dor de cabeça principalmente para moradores vizinhos aos locais.

Canteiros abandonados, com esqueletos de estruturas degradados, imóveis desapropriados vazios e espaços tomados por moradores de rua são cenários comuns por toda a capital.

Atualmente, na área da saúde, estão paradas a construção de seis UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) em diversos bairros: City Jaraguá (zona oeste); Vila Mariana, Jabaquara, Parelheiros (zona sul); Mooca e Cidade Tiradentes (zona leste). O investimento médio de cada unidade é de, aproximadamente, R$ 6 milhões.

As UPAs são unidades de complexidade média e servem para desafogar o atendimento especialmente em pronto-socorros dos hospitais. Costumam atender casos de ortopedia e problemas respiratórios, situações com bastante procura entre os pacientes.

"A nossa região já é bastante carente, principalmente em unidades de saúde. Quando a gente vê uma obra começando, temos a esperança que esteja pronta de maneira rápida. É lamentável ver um canteiro de obras parado no bairro", afirma o autônomo Marcos Coelho, 48 anos, morador da Cidade Tiradentes (zona leste).

Na área da mobilidade urbana, estão engessadas atualmente obras de dois ramais do metrô. São a construção da linha 6-laranja, que ligará a Brasilândia (zona norte) até a região central, e o prolongamento da linha 2-verde, prevista para ir da Vila Prudente (zona leste) até a cidade de Guarulhos (Grande SP).

Os investimentos previstos nessas linhas são de R$ 20,9 bilhões no total, sendo R$ 9,6 bilhões na laranja e R$ 11,3 bilhões na verde.

Diversas desapropriações e demolições de casas já foram realizadas na expansão da linha verde e os terrenos estão vazios. É o caso da futura estação Água Rasa, em frente à casa do comerciante Nardélio Rodrigues, 35 anos.

"Pelo menos umas 30 casas foram demolidas e os moradores tiveram de ir embora. E a área está vazia, sem nenhuma movimentação. É uma frustração muito grande para todo o bairro", conta o comerciante. 

Morador da Brasilândia, o aposentado Antônio Ferreira dos Santos, 68 anos, está desanimado com os rumos da construção da linha 6 - laranja. "Boa parte dos terrenos por aqui virou um lixão", afirma.

Lixão

O técnico em informática Sandro Pereira, 41 anos, mora com a mulher e um filho adolescente ao lado do terreno degradado da UPA City Jaraguá (zona norte). 

A área virou um lixão. Além disso, moradores de rua e usuários de drogas costumam frequentar o esqueleto corroído da obra. 

"É uma tristeza muito grande o que vemos aqui todos os dias. Vai fazer quatro anos que pararam a construção e a área ficou totalmente abandonada. Nossa família sente os efeitos de perto, pois a casa fica colada com o terreno", afirma o técnico. 

"Se não fosse o trabalho voluntário de alguns moradores, a situação seria bem pior", diz Pereira. Sem a UPA, moradores vão à AMA (Assistência Médica Ambulatorial) City Jaraguá e ao Hospital Geral de Taipas.

Tribunal

Levantamento do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) entre os meses de fevereiro e março aponta que 758 obras estão paradas em todo o estado, excluindo a capital. Isso porque a cidade de São Paulo tem um tribunal próprio, o TCM (Tribunal de Contas do Município), e não está subordinada ao TCE.

Essas obras são de responsabilidade do estado e dos municípios e somam quase R$ 36 bilhões em contratos. O TCE compilou dados de 4.474 órgãos para fazer esse relatório.

A maior parte dessas construções é da área de educação, representando 25%, incluindo ações em universidades, faculdades e escolas. Em segundo lugar, figura equipamento urbano, como praças, quadras e similares, com 23%. Na terceira posição, estão obras de mobilidade urbana, representando 16%.

O tribunal criou mapa virtual onde é possível ve­rificar a situação de cada obra. A ferramen­ta mostra as principais fontes de recurso, por tema, e fica no site do TCE.

Resposta

Sobre as UPAs, a Secretaria Municipal da Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que as obras serão retomadas, mas não afirma quando. Diz que entregará nos próximos meses outras UPAs que estão em fase final de construção, como a Tito Lopes, Júlio Tupy, Pirituba, Perus, Ermelino Matarazzo e São Luiz Gonzaga.

A secretaria afirma que, desde 2018, já entregou dez novas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), dez novos Caps (Centros de Apoio Psicossociais) e 40 novas ESFs (Equipes de Saúde da Família). 

Sobre o metrô, a Secretaria de Transportes Metropolitanos, da gestão João Doria (PSDB), afirma que a diretriz é não deixar nenhuma obra parada.

Sobre a linha 6-laranja, a pasta afirma que analisa alternativas para retomar a obra assim que for concluído o processo de caducidade do contrato de concessão, o que deve ocorrer em agosto. Uma das possibilidades é o metrô criar subsidiária para assumir o empreendimento. A pasta afirma que a linha 2-verde não está parada.

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