Descrição de chapéu Centro

Obra de shopping popular inferniza moradores no Brás

Vizinhos relatam incômodo com barulho na madrugada, aos sábados e domingos

Camila Feltrin
São Paulo

As obras para conclusão de um complexo de quatro pavimentos para abrigar boxes de comércio popular localizado na esquina das ruas Tiers e Conselheiro Dantas, no Brás (centro), têm tirado o sono dos vizinhos. Os moradores de um prédio no entorno se queixam de barulhos de máquinas, caminhões e funcionários 24 horas por dia, incluindo sábados e domingos. 

Previsto para o fim do primeiro semestre de  2020, o Elev Shop Brás deve abrigar 410 lojas em mais de 30 mil m² de área construída. 

“Não sou contra a obra. Sou a favor do progresso, mas o barulho de máquinas, ferramentas e pessoal de madrugada é insuportável e está acabando com meu sossego. Isso é injusto”, diz a aposentada Isaura Rodrigues Namen, 85. 

Ela fez duas reclamações no PSIU (Programa Silêncio Urbano) e mesmo assim se diz atordoada com os barulhos de perduram também aos sábados e domingos. “Durante o dia eu não vejo problema no barulho e movimentação, mas não posso aceitar que minha saúde seja comprometida por causa da ganância de alguns”.

A cabeleireira Marilene Ganzarolli, 67, também sente-se prejudicada com a obra que começou entre setembro e outubro de 2018. “Eles trabalham a todo momento e não se importam nem um pouco com os moradores. Já reclamei pessoalmente três vezes e fui tratada com pouco caso. Ouço som de caminhão, máquina de concreto e bate-estacada o tempo todo. É horrível não ter um segundo de sossego”, relata. 

Moradora do bairro há 40 anos, Marilene chegou a parar uma viatura da polícia militar que passava pela rua para que pudesse reclamar do barulho.  Ela conta que já era mais de 20h e o barulho persistia. “Na hora funcionou, mas depois a falta de respeito continuou. Não aguento mais”, afirma. Embora descontente com a situação, ela diz não ter procurado medidas legais ou a prefeitura para resolver a questão. “Não fui atrás porque sei que não vai dar em nada”, fala.  

O professor de inglês Karam Awada, 34, lembra de outro inconveniente com a obra colada à Galeria Pagé: a poeira ocasionada pela s atividades da construtora que entra no apartamento. “Há também muita bagunça na rua e na calçada”, se queixa.  Além das lojas, o prospecto do Elev Shop Brás promete praça de alimentação com 244 lugares, estacionamento com capacidade para ônibus e automóveis.

Prece

Tampão no ouvido, prece para santo Expedito, aumento da dosagem do remédio para dormir e a utilização de toalhas no vão da janela são algumas das estratégias da aposentada Isaura Rodrigues Namen, 85, para se livrar do barulho da obra do Elev Shop Brás.

Após passar uma temporada morando em Santos (72 km de SP), a aposentada voltou para o apartamento do qual é proprietária no começo deste ano. Não contava, porém, com o barulho que classifica como “infernal”.

“Tenho meu direito ao sossego pelo menos de madrugada e aos fins de semana. E nem isso tenho conseguido dentro de casa”, afirma ela que está no aguardo de dois protocolos registrados junto ao PSIU no primeiro semestre deste ano.  

“Faço tratamento para artrose, artrite e osteoporose. Não preciso de novos problemas. Fui parar no pronto socorro por estresse de não conseguir dormir por causa dos barulhos da construção. Eu só quero que meus direitos seja respeitados”, diz.

Direito

Advogado especialista em direito imobiliário, Sidney Spano recomenda que incomodados façam boletim de ocorrência. “De fato, não tem legislação a respeito disso. O PSIU acaba servindo mais para conflitos que envolvem bares, baladas e pancadão”.

Sócio da Karpat Sociedade de Advogados, Alfredo Pasanisi fala que a depender da intensidade do barulhos é possível acionar o Ministério Público ou ingressar com ação.

Resposta

Coordenador da obra tocada pela MJS Construtora e Incorporadora, o engenheiro José Mário Simões Jacinto afirma que a empresa “não opera mais fora dos limites” de horário, embora tenha, de fato, trabalhado durante o período noturno para construção do Elev Shop Brás 

O engenheiro, no entanto, diz que é provável que novas operações em horário avançado aconteçam. “Tentamos minimizar o transtorno, mas não tem como não ter. É uma obra de grande vulto”, diz.

Questionado sobre as datas para estas operações, ele disse ainda ter um planejamento específico. 
O técnico afirma que barulhos recentes de madrugada faziam parte da etapa, já finalizada, de fundação da obra. As próximas fases a serem concluídas, informa o site da empreiteira, são as de estrutura, alvenaria, instalações, fachada e acabamento.

“Temos algumas ações para diminuir o impacto no local, como lavar a rua constantemente para não criar muito problema de poeira, limitação de acesso de pedestres, quando necessário, para não ter problema de acidente e temos uma operação junto à CET para não ocupar vagas de comércios no entorno”, afirma.

Questionada sobre a perturbação dos moradores e o andamento dos protocolos do PSIU de Isaura Rodrigues Namen, a prefeitura afirmou que vai “apurar o caso mencionado” e que “tomará as medias necessárias”.

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