Descrição de chapéu Zona Sul

Balé de Paraisópolis brilha no maior festival da América do Sul

Grupo de dança foi atração em Joinville (SC) e levou para a favela prêmios em três categorias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Na segunda maior favela de São Paulo, com mais de 100 mil moradores, o verbo dançar virou sinônimo de ganhar. Pelo menos para os meninos e meninas do Ballet Paraisópolis, vencedores de três categorias no Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina, a principal competição do gênero da América do Sul.

O festival ocorreu de 16 a 29 de julho, e Paraisópolis (zona sul) foi representada por 16 bailarinos com idade entre 13 e 16 anos que tiveram o apoio técnico de mais dez pessoas, entre professores, coreógrafos e até pais. Mas a disputa começou bem antes, em janeiro, quando a diretora do balé, Monica Tarragó, inscreveu 25 vídeos de coreografias para o festival. Destes, três foram selecionados entre os mais de 11 mil enviados.

O Ballet Paraisópolis é premiado no festival de dança de Joinville - Rubens Cavallari/Folhapress

E os três inscritos estão entre os vencedores. No balé neoclássico (menos rígido que o balé clássico, mas com uma forma mais técnica), o conjunto júnior ficou em terceiro lugar com a coreografia Oníricos, de Carol Segurado. Na dança contemporânea (gênero de dança teatral), o conjunto júnior ficou em primeiro lugar com a coreografia Airis Process, de Danielle Rodrigues. E também na dança contemporânea, o solo masculino júnior ficou em primeiro lugar com a coreografia Tão Próximo, de Christian Casarin.

"É um exemplo de que é possível vencer a partir de uma oportunidade de mudar a vida. É possível vencer para quem é da favela", diz Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores e Comércio de Paraisópolis.

E os bailarinos de Paraisópolis venceram. Mas dizem que não foi fácil dançar para ganhar.

"Foi com muito esforço, dedicação e com a união de todos que chegamos lá", disse a estudante Yasmin Araújo de Melo, 16 anos, uma das bailarinas do grupo.

A estudante Haissa dos Santos Rocha, 15, também destaca o esforço. "Foi muito cansativo mas prazeroso também. Foi uma conquista importante para todos nós".

E se eles pretendem continuar dançando e ganhando? "Eu nasci para ser bailarina", disse Yasmin.

Coreógrafos comemoram conquista

O festival de Joinville é uma vitrine também para coreógrafos, cenógrafos e toda equipe técnica.

A coreógrafa Danielle Rodrigues, 47 anos, ainda custa a acreditar que sua criação, a coreografia Airis Process, foi a vencedora no conjunto de dança contemporânea na categoria júnior.

"Não é em todo lugar que a direção de um balé abre espaço à nossa criação", disse.

"[A premiação] Não é importante só para as crianças mas uma oportunidade para toda a equipe", disse a diretora do Ballet Paraisópolis, Monica Tarragó.

O coreógrafo Christian Casarin, 30, comemorou a apresentação da coreografia Tão Próximo, ganhadora do solo masculino júnior de dança contemporânea.

"Já participei outras vezes do festival de Joinville como bailarino e como coreógrafo. Mas desta vez teve um gosto diferente colocar aqueles meninos no palco e vivenciar aquela troca de experiência." (RS)

Projeto tem uniforme e inglês grátis

Atualmente são cerca de 200 crianças entre 13 e 16 anos que todos os dias recebem atendimentos ao longo de seis horas.

Além de dança, os meninos e meninas de Paraisópolis também têm aulas de inglês, pilates e fisioterapia. Isso além do uniforme de treino, figurino para as apresentações e sapatilhas. Tudo de graça.

Todo o projeto é financiado pela lei de incentivo à cultura, patrocínio do Itaú.
Para participar do grupo, o Ballet Paraisóplis faz duas seleções por ano. E a procura é grande. São mais de 2.000 adolescentes na fila.

A proposta da diretora do Ballet Paraisópolis, Monica Tarragó, é formar profissionais da dança que possam seguir carreira como dançarinos. "Aqui não é uma creche. É um projeto de formação", afirmou Monica.

Com sete anos de existência, o Ballet Paraisópolis ainda não enviou nenhum jovem dançarino para grandes companhias. Mas talentos não faltam.

David se esforça para ser profissional

Não foi a primeira vez que o estudante David Rocha, 14 anos, ficou entre os primeiros no festival de Joinville. Em 2017, ele conquistou o terceiro lugar no solo masculino, categoria infantil. Mas queria mais.

Na edição deste ano, David ficou em primeiro lugar no solo masculino na categoria júnior, com a coreografia Tão Próximo. 

"Foi difícil. Ensaiamos muito e demos o sangue neste projeto", afirmou o estudante, que já pensa em outros planos.

O estudante David Rocha, 14 anos, nascido no interior da Bahia; ele foi vencedor na categoria solo masculino júnior do festival catarinense, onde já havia conquistado terceiro lugar há dois anos; ele já pensa em ser professor - Rubens Cavallari/Folhapress

"Quero continuar dançando, ser professor de dança ou coreógrafo. Quero ser um dançarino profissional", afirmou David.

Mas este sonho de viver da dança só surgiu há oito anos, quando ele tinha cerca de 6 anos de idade e decidiu se inscrever nas aulas do Ballet Paraisópolis. 

Nascido em Barra do Choça (BA), veio para São Paulo com a família e hoje mora com a mãe e uma irmã, que também dança no projeto.

"Fiquei satisfeito com o resultado [da competição em Joinville]. Mas sei que posso fazer melhor. Por isso vou continuar treinando todos os dias", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.