Escolas estaduais da zona sul de São Paulo iniciaram o segundo semestre de 2019 sem funcionários para cozinhar a merenda dos alunos. Desde a quinta-feira (1º), estudantes de todas as idades estão recebendo apenas “merenda seca” (café, leite em caixinha e bolacha de água e sal).
A reportagem do Agora apurou ao menos oito escolas da região que estão com essa falta de merendeiras. Segundo funcionária da Escola Estadual Jardim Aracati 2, o contrato com a empresa que terceirizava essas merendeiras venceu durante as férias e, desde então, a instituição espera que o estado contrate uma nova empresa. A estimativa é que esse processo ainda demore 15 dias. Até lá, a merenda seca continuará sendo distribuída nos lanches e no almoço.
A copeira Paloma Cristina, 24 anos, estuda na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) da E. E. Jardim Aracati 2, assim como a prima de 10 anos, do ensino fundamental. Para ela, esse tipo de situação “tira a vontade de mandar as crianças para a escola”. Paloma comenta que a falta de comunicado oficial sobre o assunto tirou das famílias a possibilidade de se planejar. “Muitas mães desta região passam dificuldade e a merenda pode ser a única refeição dos alunos, porque eles não têm comida em casa”, diz.
Dividindo o muro com a Jardim Aracati 2 está a E. E. Soichi Mabi. Segundo os alunos, o colégio também sofre com falta de profissionais. “Neste semestre ainda não recebemos comida de verdade no almoço. Eles só dão bolacha, bolinho, sucrilhos e, às vezes, suco. Mesmo no semestre passado, só tinha comida de vez em quando, e ninguém nunca explica o porquê”, diz um estudante da 7ª série da manhã, de 12 anos.
Já no período da tarde, uma das alunas do 8° ano, de 13 anos, relata que desde que voltou de férias não viu nenhuma das “tias da merenda”.
Desorganização
Mães e pais em frente às escolas comentaram nesta terça-feira (6) que não receberam nenhum comunicado oficial da direção alertando para a falta de merendeiras. A mãe de dois estudantes da E. E. Jardim Aracati 2, Karen Priscila, 28 anos, ressalta que, sem merenda, não é possível alunos apresentarem um bom desempenho na escola.
“A administração da escola está sendo desorganizada e irresponsável. Como pode deixar as crianças sem comer? Como elas vão conseguir se concentrar nas aulas com fome?”, questiona. Karen também comenta que algumas famílias nem tem como oferecer “um almoço de verdade em casa”.
A dona de casa Patrícia da Silva, 26 anos, tem duas filhas que estudam na Jardim Aracati 2. Além disso, ela também estuda na modalidade EJA, à noite. Patrícia comenta que “estranhou” sua filha ter chegado em casa “desesperada para comer”.
Só à noite, descobriu o motivo. “Quando cheguei à escola tinha muita gente com fome. tenho colegas que vão ao EJA direto do trabalho. A gente ficou olhando um para o outro, sem saber como aguentaríamos até às 23h”, disse.
Alimentos industrializados
A nutricionista clínica Alessandra Stivaletti disse que alimentos industrializados como bolacha, bolo e suco de caixinha são ricos em gordura, açúcar, sódio e conservantes e não têm os mesmos nutrientes que uma refeição completa.
“Quando a gente pensa em uma alimentação saudável, esses alimentos industrializados não devem existir”, afirmou.
Segundo Alessandra, quanto mais natural a refeição, melhor, pois tem vitaminas e minerais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes que estão em fase de crescimento.
“Um alimento industrializado não é equilibrado na quantidade de gordura, proteína e carboidrato nem saudável. A falta desses nutrientes pode até impactar no aprendizado das crianças”, afirmou a nutricionista.
Alessandra disse ainda que quando um alimento é preparado para uma refeição é possível incluir fibras, como aveia e frutas, para enriquecer a refeição. Uma dica da nutricionista é ler sempre o rótulo dos produtos industrializados. “Muitas vezes a gente não acha o alimento, só gorduras e conservantes”.
Resposta
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirma que o processo para contratação de merendeiras está em fase final.
Segundo a pasta, que responde ao governador João Doria (PSDB), a situação deverá ser já resolvida nos próximos dias. “Uma empresa já foi homologada e as profissionais serão encaminhadas às escolas ainda nesta semana”, afirma, em nota.
A administração estadual afirma que essa contratação teve início antes do término do contrato anterior. Segundo a Secretaria da Educação, o novo contrato terá a vigência de 30 meses (dois anos e meio).
O governo estadual afirma que para a contratação das merendeiras serão investidos R$ 12 milhões durante o período de vigência do contrato.
A secretaria afirma, no momento, os alunos estão recebendo o alimento “não manipulado”.
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