"A população e a igreja não querem condenar ninguém, mas pede ao comando da Polícia Militar e as demais autoridades públicas ações mais inteligentes, sem truculência, pois Paraisópolis é um lugar de pessoas de bem". A declaração é do padre Luciano Basílio, da paróquia São José, em Paraisópolis (zona sul), durante a missa de sétimo dia em memória das nove vítimas que morreram na ação da Polícia Militar em baile funk no último domingo (1º).
Durante a missa campal, dezenas de fiéis vestiam camisetas brancas, cantaram hinos e soltaram balões com os nomes de cada uma das vítimas. Nenhum familiar dos jovens mortos esteve presente. Segundo os organizadores, aproximadamente 300 pessoas participaram do ato.
"O funk deve ser realizado com organização e decência, assim como acontece nas demais manifestações culturais. Não pode continuar sendo feito dessa maneira", afirmou o padre. Para o advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos, a ação da PM foi abusiva. "Foi uma ação criminosa. Eles atuaram para ferir e torturar. Esse não é o padrão que conheço da PM", disse.
Ainda segundo Castro, falta união dos órgãos públicos para discutir soluções para o tema. "Até o momento, não houve manifestação do conselho tutelar ou dos demais órgãos competentes. Precisamos definir regras claras para a execução de eventos como esse para evitar novas tragédias", afirmou.
A doméstica Maria do Carmo, 63 anos, que mora no bairro há 20, chorou parte da cerimônia religiosa. "Penso muito nos meus netos que também gostam de funk. Por mais que seja doloroso, espero que tudo isso que aconteceu em nossa comunidade sirva de lição para que algo seja feito e mudado", afirmou a idosa.
O ajudante de pedreiro Raimundo Silva, 34, que curte funk, divide a mesma opinião da Maria do Carmo. "O povo de Paraisópolis é carente de lazer, e o baile é uma das poucas opções pra gente. Se houver organização e colaboração de todos, a paz sempre estará em Paraisópolis" afirmou.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar disseram que não comentariam as declarações do padre Luciano Basílio.
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