Plano de revista em hospital municipal revolta funcionários

Memorando distribuído na unidade aponta medida como necessária para evitar furtos no local

São Paulo

Um memorando distribuído na sexta-feira (10) determinou que funcionários do Hospital Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste), passem a ser revistados ao final do expediente, obrigatoriamente, como forma de prevenção a furtos que, segundo a direção, teriam ocorrido na unidade.

A medida, prevista para ser adotada em 1º de fevereiro, gerou revolta entre os servidores públicos.

Hospital Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), onde direção tentou implantar revista em funcionários - Rivaldo Gomes/Folhapress

O documento assinado pelo diretor-técnico do Tide Setúbal, Carlos Alberto Velucci, afirma que as revistas devem ser feitas em bolsas, sacolas, mochilas e malas. O memorando fala ainda na "impossibilidade de proteção do patrimônio" e diz que o crime se enquadraria como "peculato", que é a subtração ou desvio de bens públicos.

A Secretaria Municipal da Saúde disse que revogou a decisão (veja abaixo). 

Com papel timbrado da própria secretaria e da Autarquia Hospitalar Municipal, ambas sob a gestão de Bruno Covas (PSDB), o memorando provocou reclamação dos funcionários.

"O hospital inteiro recebeu a notícia de uma forma constrangedora. O memorando fala de uma maneira geral e como se todos nós fôssemos ladrões", afirmou uma trabalhadora.

"Se houve algum furto, deveria abrir sindicância e afastar o responsável. E não passar uma circular falando que vai promover revista, chamando todo mundo de ladrão", diz. "É uma conduta arbitrária de assediar o trabalhador", afirma a servidora pública.

Limites

Presidente da Associação dos Advogados Trabalhista de São Paulo, Sarah Hakim diz que o empregador tem poder de fiscalização sobre seus funcionários, mas isso deve acontecer dentro de limites e parâmetros legais.

A advogada trabalhista afirma que não se pode, por exemplo, apalpar o corpo ou pedir para que o funcionário tire a roupa. "Se for abrir a bolsa das mulheres, por exemplo, deve ser feito por outras mulheres, sem colocar a mão, ou com detector de metais. Sem aviltar a intimidade da pessoa", diz.

Segundo Sarah, hospitais já costumam ter meios para prevenir atos ilícitos, como a gravação de imagens por câmeras. "Nada impede que se queira reforçar as medidas, mas se for verificado e comprovado que essa atuação se dá com vistas a intimidar e fazer com que o ambiente de trabalho fique conturbado, então leva a uma situação muito sensível ao trabalhador. Visa retaliar o trabalhador."

Segundo ela, o memorando parte do pressuposto de que os furtos foram feitos por trabalhadores, quando podem ter sido resultado da ação de outras pessoas. "Aí, também, há um indício de que é mais uma medida de represália do que para inibir furtos alardeados. O memorando já imputa os furtos aos trabalhadores."

A especialista afirma que os trabalhadores podem até acionar a gestão por assédio moral.

Resposta

Questionada sobre o memorando que indicava a revista de funcionários, distribuído pela direção-técnica do Hospital Tide Setúbal, a Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), que responde pela instituição médica da zona leste da capital, afirma em nota que a determinação acabou revogada.

"A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informa que a medida já foi revogada por determinação do secretário Municipal da Saúde, Edson Aparecido, e que foi tomada sem o conhecimento da pasta e da Superintendência da Autarquia Municipal Hospitalar", disse a nota.

Questionada pela reportagem, a secretaria não informou quais foram os alegados furtos que ocorreram na unidade hospitalar ao longo dos últimos dois anos, que incentivaram a decisão de se implantar revista, bem como se esses crimes foram devidamente registrados na Polícia Civil, com boletim de ocorrência e investigação em curso.

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