Descrição de chapéu Alalaô

Grupo de Acesso terá maiores campeãs do Carnaval de São Paulo

Vai-Vai, Nenê e Camisa Verde e Branco têm 35 títulos e muita influência no samba paulista

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São Paulo

Trinta e cinco títulos e muita influência no samba paulista. Essa é a síntese do que poderá ser visto neste ano no Grupo de Acesso 1 do Carnaval de São Paulo. Das quatro maiores campeãs, três entram no Sambódromo do Anhembi entre a noite deste domingo (23) e a madruga de segunda (24), na luta para voltar para o Grupo Especial: as tradicionais Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde Branco.

Completando 90 anos em 2020, a Vai-Vai surgiu como um cordão carnavalesco em 1930, no bairro do Bexiga, na Bela Vista (região central da cidade de São Paulo). A escola é a maior vencedora da festa, já levou 15 troféus.

Chico Spinosa, carnavalesco da escola de samba Vai-Vai, que tenta voltar ao Grupo Especial de São Paulo - Rubens Cavallari - 6.fev.20/Folhapress

A agremiação tem raiz na formação do samba paulista. Embora nunca tenha morado no Bexiga, Adoniran Barbosa frequentava constantemente os bares e os sambas em torno da Vai-Vai.

Outro nome importante do samba com ligação com a Saracura é Geraldo Filme. O samba Tradição se tornou um verdadeiro hino da escola e a música Silêncio no Bixiga faz referência a morte de um diretor da Vai-Vai.

O último título foi conquistado pela escola em 2015 com um enredo em homenagem a Elis Regina. "Meu coração está partido em quatro. Eu comecei a desfilar com três anos de idade", conta Claudete Mercedes, 68, integrante da Velha Guarda da Vai-Vai. "Acho que quem está julgando não conhece a tradição dessas escolas, a história", diz sobre o rebaixamento no ano passado.

Após amargar a última colocação no Carnaval de 2019 e sofrer com brigas internas, a agremiação vai para a avenida com o enredo "Vai-Vai de Corpo e Álamo", que será desenvolvido pelo carnavalesco Chico Spinosa e celebrará a trajetória vitoriosa de 90 anos da escola. O desfile ocorre às 4h de segunda.

"Muitas pessoas se criaram na escola, muitos sambistas surgiram, como o próprio Thobias da Vai-Vai", afirma Clarício Aparecido, do conselho gestor da agremiação. "É um Carnaval de superação [em 2020], sem um real de verba pública e com o apoio da comunidade", diz. No entanto, segundo ele, "se a escola de samba não se profissionalizar, não vai conseguir. Tradição não ganha Carnaval".

Claudete concorda. De acordo com a sambista, antigamente "todo mundo se conhecia, falava a mesma língua e hoje existe muita desunião. Falta simplicidade, falta deixar para quem é do Carnaval de verdade. Tem muita gente que não entende de Carnaval interferindo".

Um pouco antes da Saracura, a Camisa Verde e Branco entra no Sambódromo do Anhembi às 3h. A escola da Barra Funda (zona oeste) vai homenagear o cantor baiano Carlinhos Brown com o enredo “Ajayô: Carlinhos Brown, Candombléss, Tambores e Batuques Ancestrais”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Cláudio Cavalcante.

Com nove títulos, a agremiação é a quarta escola com o maior número de conquistas no Carnaval paulista e uma da que mais influenciou o samba da cidade. "Essas três escolas estão na raiz do samba paulistano e a Camisa Verde e Branco sempre foi criadora. Criamos a roda de samba do São Paulo Chic, tivemos a iniciativa da Rua do Samba que cantava Beth Carvalho e Ivone Lara", relembra Mário César, o Bolão, membro da Velha Guarda da agremiação.

Nas décadas de 60 e 70, as rodas de samba do Camisa eram frequentadas por sambistas como Mussum e os Originais do Samba. Anos depois, a escola continuou essa tradição e ajudou no surgimento de diversos grupos. "Tivemos o Botequim do Camisa que revelou Negritude Júnior, Sensação", conta o sambista de 77 anos que desfila na agremiação há 68.

"A escola foi fundada em 1953 no bairro negro da Barra Funda e é a única tetra campeã do Carnaval: 1974, 1975, 1976 e 1977", afirma Demis Roberto, diretor de Carnaval. "Nosso trabalho buscou esse caminho, trazer ao componente da Camisa o orgulho de ser Barra Funda, resgatar os títulos e valorizar a comunidade". O último título da escola ocorreu em 1993, com o enredo Talismã.

"Na verdade temos hoje um grande problema porque as mudanças constantes nos regulamentos e manuais do julgador trouxeram um prejuízo para as escolas tradicionais. O engessamento dos componentes tirou a espontaneidade do desfile causando um prejuízo às escolas que tinham seu samba no pé. O fato é que as escolas hoje desfilam todas muita parecidas e isso, além de afastar os componentes, também causa uma mudança muito brusca na avaliação do desfile", diz o dirigente. 

Carro alegórico da Nenê de Vila Matilde traz homenagem ao fundador da escola de samba, seu Nenê, representado como um anjo - Rubens Cavallari - 20.fev.20Folhapress

Já a Nenê de Vila Matilde, segunda maior campeã do Carnaval paulista com 11 títulos, desfila às 23h deste domingo com o enredo que irá mostrar porque a cerveja é um símbolo nacional. "É disparada a bebida alcoólica mais consumida aqui. Além disso, é um ícone de confraternização, de estar junto com pessoas que gostamos. O último setor trará a relação da cerveja com o mundo do samba e finalizaremos com um grande brinde da águia, símbolo da escola, e uma homenagem ao Seu Nenê [patriarca da agremiação]", conta Gledson Neix, diretor de Comunicação.

Sobre a presença de algumas das maiores campeãs do Carnaval de São Paulo no Grupo de Acesso, o dirigente acredita que "hoje o Carnaval é resultado, todos partem com a nota máxima e, de acordo com o desfile, a nota se mantém ou vai caindo. São diversos aspectos, mas todos seguem um regulamento, é seguir o que ele manda e fazer tudo o mais perfeito possível", conta. 

"É claro que a diferença de orçamento de uma escola para outra faz diferença. É uma pena que as escolas mais tradicionais estejam no acesso, são muitos títulos juntas. Ele já está sendo chamado de terceiro dia do Grupo Especial. Posso falar pela Nenê, vamos fazer um desfile digno de Vila Matilde, a Nenê vem imponente, a comunidade cantando alto e vamos juntos buscar nosso lugar de onde não deveríamos ter saído", afirma.

A azul e branco foi fundada em 1949. A última conquista da escola da zona leste ocorreu em 2001, com o enredo "Voei, voei. Na Vila aportei, onde me deram a coroa de rei".

Leandro e Tucuruvi

Embora sem nenhum título, outras duas escolas conhecidas do público também estão no Grupo de Acesso deste ano.

A Leandro de Itaquera foi fundada em 1982. Subiu para o Grupo Especial em 1989 e frequentou constantemente a elite das escolas de samba, embora nunca tenha conseguido ficar entre as três primeiras.

A escola da zona leste ajudou a dar visibilidade a cantora Eliana de Lima, que foi interprete do samba-enredo "Babalotim". A música marcou história no Carnaval de 1989, é tocada até os dias de hoje em rodas de samba da cidade e chegou a ser regrava pelo líder do grupo Art Popular, Leandro Lehart.

Em 2020, a escola desfila com o tema “Das savanas africanas às savanas de Itaquera… – Sou África! Berço do Mundo". O desfile ocorre a meia-noite da segunda-feira (24).

O Acadêmicos do Tucuruvi entra no Sambódromo do Anhembi às 2h, da segunda. A escola da zona norte, fundada em 1976, também era frequentadora assídua do Grupo Especial. 

Em 2020, a agremiação tem como enredo "Faces de Anysio, O Eterno Chico... Sorrir é... E sempre será o melhor remédio", em homenagem ao humorista Chico Anísio.

Mudanças e gestão

"Desfile de escola de samba mudou tudo. Eu sou saudosista. E hoje o que está mandando é estrutura financeira. O interesse maior, hoje em dia, é ver grandes alegorias. Ficou de lado o samba, o samba-enredo bom e isso acabou prejudicando as escolas tradicionais", analisa a cantora Leci Brandão.

"Me entristece muito ver Camisa, Vai-Vai e Nenê no Grupo de Acesso. Esse domingo acabou ficando fortalecido", afirma a sambista que foi a primeira mulher a entrar para a ala dos compositores da Mangueira (Rio de Janeiro) em 1972.

"Depende muito do julgador. Tem essa coisa de jurado, que não sei bem como está sendo feito isso. O modo de julgamento, o que o Carnaval foi transformado. Uma escola pode perder por ir rápido ou devagar demais, parece uma parada militar, perdeu a espontaneidade", afirma.

Leci, no entanto, não exime as escolas de responsabilidade. "Tem a questão da gestão também. Quem conseguiu manter a comunidade integrada e tratar com respeito, sofreu menos".

Opinião parecida tem Moisés da Rocha. Para o jornalista, "depois que o visual virou quesito perdeu-se a espontaneidade, o Carnaval deixou de ser para sambar".

Apresentador do programa o "Samba Pede Passagem" na rádio USP, há cerca de 43 anos, ele considerada que as novas escolas conseguiram se adaptar mais rápido aos novos padrões exigidos por patrocinadores e mídia. "Hoje o interesse maior está em ver alguém famoso desfilando".

Desfiles de hoje

Horário Enredo
21h – Independente Tricolor Utopia - É Preciso Acreditar
22h – Estrela do Terceiro Milênio No Coração da Floresta Nascem Estrelas que Brilham no Meu Carnaval
23h – Nenê de Vila Matilde O Presente da Deusa e o Brinde da Águia
0h – Leandro de Itaquera Das Savanas Africanas às Savanas de Itaquera... Sou África! Berço do Mundo. Leões de uma Força Abençoada!
1h – Mocidade Unida da Mooca A Ópera Negra de Abdias do Nascimento
2h – Acadêmicos do Tucuruvi Faces de Anysio, o Eterno Chico. Sorrir é… e Sempre Será o Melhor Remédio
3h – Camisa Verde e Branco Ajayô: Carlinhos Brown, Candombléss, Tambores e Batuques Ancestrais
 
4h – Vai-Vai Vai-Vai de Corpo & Álamo 

Fonte: Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo

 
 
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