Hospitais recebem a visita de animais para animar pacientes

Lei municipal autoriza a entrada de pets em unidades públicas de saúde, mas com algumas regras

São Paulo

Se um animal de estimação já traz alegria para os moradores de uma casa, imagina receber a visita de um cachorro, gato ou pássaro quando estiver doente, internado em um hospital. 

Ainda não há pesquisa científica que comprove a melhora na saúde do paciente, mas o bem-estar que os pets promovem pode ser percebido com o sorriso de adultos e crianças.

A visita de animais de estimação em hospitais públicos e particulares da cidade de São Paulo está autorizada por lei desde fevereiro de 2018, mas algumas unidades de saúde autorizam a entrada há mais tempo.

A lei libera a entrada a partir do cumprimento de algumas regras básicas, como a autorização do médico do paciente e atestado de saúde do veterinário do animal, que deve estar vacinado e de banho tomado. Mas cada hospital tem liberdade para definir dia, hora, local e tempo de duração da visita.

Em alguns hospitais, por exemplo, é permitida a entrada apenas de animais treinados para a visita hospitalar. Em outros, apenas o pet do paciente é liberado.

No Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch, no M’Boi Mirim (zona sul), a visita dos cães começou em 2017 a partir de uma experiência positiva com pacientes do Hospital Albert Einstein, que administra a unidade.

“É necessário que o animal seja de pequeno porte e dócil. Se o paciente estiver em ambiente coletivo, ele é levado para outro local para receber o seu pet. O benefício paciente é a melhora no seu bem-estar e a diminuição da ansiedade”, afirmou a gerente assistencial do hospital, Lucélia Bastos.

Já no Hospital Geral de Itapevi, na Grande São Paulo, o projeto Acãolhimento, que recebe visitas de cachorros treinados, começou em 2013. Os animais são levados por seus tutores, que acompanham toda a visita.

Segundo a gerente administrativa do hospital, os cães fazem visitas a pacientes das unidades de pediatria, psiquiatria e ortopedia, além de áreas administrativas. “Nós consultamos os pacientes que podem e gostariam de receber a visitas dos animais, que vêm uma vez por mês e ficam por três horas no hospital”, afirmou.

Treinamento

A ONG (organização não governamental) Patas Therapeutas é uma das organizações que treina animais para visitas monitoradas em hospitais públicos e particulares da capital paulista.

Todo o trabalho da entidade é voluntário e segue rígidos controles de comportamento e sanitários para que possam entrar nas unidades de saúde.

Segundo a fundadora da ONG, Silvana Fideli Prado, além de gato e cachorro, animais silvestres e exóticos, como furão e porco da índia, também visitam pacientes nos hospitais.

“Temos um cronograma anual de visitas que fazemos uma ou duas vezes por mês em cada hospital. No dia e hora agendados, vamos até o hospital, fazemos uma adaptação em um ambiente do hospital e depois vamos até o leito ou outro local para visita coletiva, como brinquedoteca”, disse Silvana.
Mas não é só o paciente que fica feliz com a visita dos animais. Para os tutores o encontro também é gratificante.

A visita dos cães da ONG Patas Therapeutas era esperada com alegria por Mariah Vitórya Centurião Amaral, 3 anos, que estava internada desde os três meses no Hospital Municipal Menino Jesus, na Bela Vista (centro), no dia  que a reportagem foi à instituição médica. 

Nascida em Campo Grande (MS), ela tem síndrome do intestino curto. 

“Ela estava dormindo quando eles chegaram. Tive que acordá-la, e se arrumou toda para se encontrar com os cachorros. Se não fosse a ONG, ela nem saberia o que é brincar com um cachorro”, diz Alice Centurião Alves, 19, mãe de Mariah.

Os cachorros também conquistaram o coração de Rita de Cássia do Nascimento Silva, 12. Em dois meses de internação, fez quatro cirurgias, a última delas no esôfago. “Nós temos um gato. Hoje ela está perdendo o medo de cachorro. Acho que está gostando, pois está até sorrindo”, afirma a mãe, Maria Aparecida Santana do Nascimento, 46.

A auxiliar de cozinha Francisca Amanda da Silva, 20, também confirma que a visita dos cachorros fez bem ao seu filho Nicolas Gabriel, de 1,3 ano, que se recuperava de uma cirurgia para corrigir um desvio na uretra. “Com certeza é bom para ajudar na recuperação dele, pois ele estava irritado no hospital. Com o cão, ficou tranquilo.”

Vínculo

Hospital Albert Einstein (zona sul) foi um dos primeiros da capital a liberar a entrada de animais para visitar os pacientes. Desde 2009, pets de pequeno porte podem ir até o leito do paciente, desde que esteja limpo, vacinado e com atestado do veterinário.

Segundo a psicóloga Ana Merzel, coordenadora do Programa de Experiência do Paciente do Einstein, se o paciente manifestar o desejo de receber a visita, principalmente aqueles que estão internados há muito tempo, o hospital libera a visita. “Alguns pacientes têm uma relação muito próxima com o animal, com tratamento semelhante ao ente familiar. Como o animal aproxima esse vínculo afetivo do paciente, faz com que ele se sinta melhor.”

O hospital também autoriza a visita de animais treinados para visitas hospitalares, o que acontece mensalmente.

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