O bairro de Vila Edna, onde fica o morro do Macaco Molhado, em Guarujá (86 km de SP), foi ocupado por famílias desabrigadas após um deslizamento na década de 1980.
Na madruga desta terça (3), o morro foi um dos pontos em que pessoas morreram soterradas após forte tempestade no litoral.
Segundo balanço do Corpo de Bombeiros, divulgado às 21h desta quarta, as chuvas em Guarujá, Santos (72 km de SP) e São Vicente (65 km de SP) mataram ao menos 25 pessoas. Outras 24 estavam desaparecidas.
Em 1983, moradores da Vila Sônia tiveram de deixar o bairro após deslizamento de grandes pedras de morros próximos, provocando a morte de uma criança.
As famílias foram levadas a abrigos improvisados até que a prefeitura, na época sob gestão Maurici Mariano (MDB),criou o bairro Vila Edna. O político morreu em 2013 de câncer.
Quando se mudou da Vila Sônia para a Vila Edna, há mais de 30 anos, a aposentada Maria das Dores Avelino Silva, 71, imaginava que não iria mais presenciar deslizamentos, principalmente com vítimas.
Ela foi uma das centenas de pessoas que na época foram encaminhadas para abrigos improvisados em escolas municipais.
"Ficamos uns dois meses em abrigos. Depois viemos para barracos na Vila Edna", afirmou. "Comecei do zero. Criei aqui nove filhos e 26 netos", disse a idosa.
Segundo ela, os barracos foram substituídos por casas de alvenaria.
O pedreiro Gilson Souza Vieira, 46, também precisou se mudar para a Vila Edna. Ele lembra do garoto que morreu, por conta do deslizamento, e também não se esquece que viveu cerca de três meses em um abrigo, também em uma escola.
"Nunca imaginei que, depois de tanto tempo iria presenciar uma tragédia ainda pior do que aquela", afirmou o pedreiro que, assim como a idosa, não perdeu sua casa na chuva desta terça-feira.
Ocupação irregular formou morro do Macaco Molhado
As pessoas que saíram da Vila Sônia, na década de 1980, residiam no entorno do bairro de classe média Jardim Helena Maria.
Centenas de pessoas se mudaram para Vila Edna, fundada com uma ocupação irregular ao lado, no morro do Macaco Molhado.
Procurada sobre ações preventivas na área que teve ao menos três mortos, segundo balanço divulgado pelos bombeiros por volta das 18h desta terça, a Prefeitura do Guarujá não havia respondido até conclusão desta edição.
A reportagem apurou que a cidade soma cinco casos de grandes desbarrancamentos desde a década de 1970. O incidente desta semana é o mais grave.
O primeiro grande deslizamento no período foi no morro da Glória, na década de 1970. Ninguém morreu ou desapareceu na ocasião, mas o incidente fez com que centenas de pessoas fossem retiradas do local.
Na década seguinte, houve o deslizamento na Vila Sônia, que permanece sem moradias até hoje.
Em 2006 e 2009 ocorreram deslizamentos no bairro Vila Baiana. Ao menos quatro pessoas morreram nos dois incidentes.
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