Funcionários do Samu reclamam de falta de material de proteção contra o coronavírus

Socorristas dizem que são 600 atendimentos de suspeitos de Covid-19 por dia em São Paulo

São Paulo

Os funcionários do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) reclamam da falta máscaras, aventais e até mesmo produto para a limpeza das ambulâncias após o atendimento a pacientes com suspeita de contaminação pelo coronavírus na capital.

A preocupação não é por acaso. O atendimento a pacientes com suspeita de Covid-19 são classificados no Samu pelo código 36. Durante um período de 12 horas, uma única equipe do serviço recebeu quatro chamados dessa natureza, segundo funcionários.

São cerca de 70 ambulâncias em operação simultânea na capital. Mantida a média, são aproximadamente 600 pacientes com suspeita de contaminação pelo coronavírus atendidos pelo Samu por dia na capital, segundo trabalhadores das equipes de atendimento.

Entre os funcionários, porém, existe a certeza de que o número é bem maior. "Uma queixa que fizemos é que não há uma triagem efetiva. Tem muito mais casos que não caem como código 36 [suspeita de Covid-19]. Vamos despreparados", afirmou uma servidora.

Os profissionais do Samu relatam, também, que um gel espumoso usado na desinfecção das ambulâncias já está em falta nesta segunda-feira. "Estamos absolutamente expostos. Sem respaldo. Ficamos numa caixa fechada com paciente com Covid-19, sem material adequado para fazer a higienização", diz uma trabalhadora da saúde.

Também foi relatada a falta de máscaras e aventais capazes de impedir a contaminação pelo vírus. "A gente usa um avental amarelo permeável. Não funciona para nada, a não ser para sentir calor. Não é próprio para esse tipo de atendimento", afirma uma funcionária.

"O fato é que não tem EPI [equipamento de proteção individual] para esse tipo de atendimento. O pessoal vai porque precisa trabalhar, ainda mais em um momento como esse pelo qual todos estão passando", disse um dos trabalhadores do Samu.

Os socorristas reclamam também da falta da dificuldade para deixar os pacientes em um hospital. "A central pede para a gente fazer a transferência e não tem para onde levar. Deveria ter a vaga já definida", afirma uma profissional. "Somos obrigados a a ficar com essa vítima dentro da ambulância por até meia-hora esperando enfermeiro ou médico para avaliar. É um risco para todo mundo", diz.

Mortes

Após decreto do governador João Doria (PSDB), no último dia 20, o Samu também passou a transportar corpos de pessoas mortas pelo coronavírus. Um dos motoristas afirma que, por outros motivos, o transporte já era feito anteriormente.

"Tem que ter pelo menos três características, como livor [mudança de coloração da pele], rigor [rigidez cadavérica] e manchas hemostáticas. Se você chega e o corpo está mole ou quente, tem que levar, mesmo sabendo que já está em óbito", disse. O temor de um processo por omissão de socorro sempre fez terem esse tipo de cuidado, segundo o motorista.

Na última semana, o Ministério da Saúde lançou um documento com recomendações sobre como deve ser feito o transporte de corpos de pessoas contaminadas pelo coronavírus. A preocupação é evitar que os profissionais da saúde sejam infectados e também retransmitam a doença.

Resposta

Questionada, a prefeitura não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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