Doenças crônicas podem deixar o corpo mais vulnerável para ação da Covid-19

Cardiopatias e pneumopatias são alguns dos riscos para desenvolver estágio grave

São Paulo

Algumas pessoas têm mais chances de desenvolver as formas graves da Covid-19, infecção respiratória causada pelo novo coronavírus, do que outras. Apesar de não serem as únicas afetadas e os estudos sobre o assunto ainda estarem em andamento, há pessoas em grupos considerados de maior risco para a doença.

“Nem sempre é possível explicar exatamente porquê um fator de risco é um fator de risco”, afirma Gerson Salvador, infectologista associado da Sociedade Paulista de Infectologia. Esses grupos são formados ao se comparar os pacientes mais graves com aqueles que apresentam casos mais leves.

Médicos italianos analisam o raio-X dos pulmões de um paciente internado com Covid-19; o órgão é o que mais sofre com a doença
Médicos italianos analisam o raio-X dos pulmões de um paciente internado com Covid-19; o órgão é o que mais sofre com a doença - Piero Cruciatti - 3.abr.20/AFP

Salvador afirma que quanto mais saudável uma pessoa for, sem doenças crônicas e com a capacidade intelectual e física adequadas, maior é a chance para sobreviver às doenças de forma geral.

Roberto Muniz Júnior, infectologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, ressalta que a minoria dos pacientes que contraem a Covid-19 precisa de internação. “Cerca de 80% das pessoas não vão ter nada ou apenas algo mais tranquilo”, diz.

Segundo o Ministério da Saúde, pessoas acima dos 60 anos, associadas ou não, com cardiopatias graves (doenças que afetam o coração), pneumopatias graves (que afetam o pulmão), imunodepressão (que tem o sistema de defesa do corpo menos eficiente), doenças renais crônicas em estágio avançado, diabetes e gestação de alto risco podem desenvolver complicações.

Ainda não há uma prevenção específica para Covid-19. Logo, segundo Salvador, a recomendação é semelhante para todas as pessoas: higienizar as mãos, ter etiqueta respiratória e cumprir o isolamento social.

O médico lembra que pessoas com doenças crônicas bem tratadas, que tomam os remédios conforme a necessidade, têm menos chances de desenvolverem estágios graves.

Salvador recomenda que em casos de dúvidas, entre em contato com um serviço de orientação a distância, um médico ou a Unidade Básica de Saúde (UBS). Se tiver desconforto respiratório, alterações de consciência e até desmaios, que podem acontecer com pessoas idosas, procure um serviço de emergência.

Novo coronavírus afeta principalmente o pulmão

Os infectologistas Gerson Salvador e Roberto Muniz Júnior explicam que o órgão mais afetado pelo novo coronavírus é o pulmão. O vírus entra pelas mucosas da boca, nariz e olho e infecta as células respiratórias.

Gerson conta que a infecção pela Covid-19 causa lesões no pulmão. Quanto mais grave ela for, menor será a distribuição de oxigênio.

Um efeito indireto da doença está relacionado ao sistema imunológico. Como vírus não tem células próprias, o corpo precisa destruir as que foram infectadas por ele, o que também causa lesão no órgão e diminui a oxigenação.

Quando há menos oxigênio no corpo, o coração precisa fazer mais esforço para bombear sangue. “É possível desenvolver insuficiência cardíaca, que é a incapacidade do coração de levar oxigênio para onde o corpo precisa”, explica o médico sobre casos mais graves.

Segundo Roberto, o novo coronavírus também pode causar insuficiência renal. Onde há um acúmulo de substâncias que deveriam ser eliminadas do organismo e os rins não conseguem cumprir a sua função. Neste caso, também há possibilidade de o paciente precisar fazer hemodiálise.

Os médicos explicam que quando órgãos como esses já são afetados por condições prévias como doenças crônicas, torna-se mais difícil responder à Covid-19.

Saiba mais

As doenças que deixam o corpo mais vulnerável para formas graves da Covid-19

Diabetes

  • Doença causada pela produção insuficiente ou baixa absorção de insulina, que regula a glicose (açúcar) no sangue;
  • Afeta o metabolismo do corpo todo;
  • Diminui a imunidade;
  • Corpo tem mais dificuldade para destruir vírus e bactérias.

Cardiopatia grave ou descompensada

  • São doenças que afetam o coração;
  • Como insuficiência cardíaca, hipertensão arterial sistêmica descompensada, além de pessoas infartadas, revascularizadas e portadores de arritmias;
  • Como Covid-19 afeta a circulação de oxigênio, o coração precisa fazer mais esforço para compensar;
  • No entanto, se há condições prévias como essas doenças, pode ser que o coração não consiga.

Pneumopatia grave ou descompensada

  • São doenças que afetam o pulmão, onde a Covid-19 ataca;
  • Como pessoas dependentes de oxigênio, portadores de asma moderada/grave e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
  • Na forma grave, a Covid-19 prejudica a circulação de oxigênio;
  • Com a Covid-19, o pulmão debilitado por condições prévias não vai dar conta de oxigenar o sangue;
  • Provavelmente precisará de intubação.

Doenças neurológicas graves

  • São doenças que afetam o sistema nervoso;
  • As degenerativas como demência e Parkinson ocorrem mais em idosos, que já são grupo de risco;
  • Já quem tem uma doença autoimune, como esclerose múltipla, precisa tomar medicamentos imunossupressores, que diminuem a imunidade do corpo;
  • Pode comprometer capacidade de respiração por causa da coordenação dos movimentos respiratórios e fraqueza muscular;
  • Paciente com mais dependência de cuidados, ou seja, menor funcionalidade do corpo é um marcador da gravidade.

Obesidade

  • Acúmulo de gordura no organismo;
  • Paciente pode ter outras doenças associadas como respiratórias, cardiovasculares e diabetes, que já são fatores de risco;
  • Estado que deixa o corpo no limite de suas funções.

Doença renal crônica em estágio avançado

  • Diminuição da capacidade dos rins de filtrar o sangue;
  • Pacientes em estágio grave têm mais chance de precisar de hemodiálise;
  • Há casos em que a Covid-19 afeta os rins, a situação pode evoluir para insuficiência renal.

Imunodepressão

  • Redução da atividade do sistema imunológico, que defende o organismo de doenças;
  • Afeta pessoas com doenças autoimunes, Aids, que fizeram transplante, que fazem quimioterapia e que tomam medicamentos com imunossupressores;
  • O sistema imunológico reduzido fica mais aberto a uma nova doença, como a Covid-19.

Doença hematológica

  • Afetam as células do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas);
  • Como a anemia, que é uma diminuição das hemácias, células vermelhas que transportam oxigênio;
  • Distúrbios que atingem os leucócitos, os chamados glóbulos brancos, compõem o sistema imunológico, prejudicam a defesa do organismo.

Doença hepática

  • Afetam o fígado, como hepatite;
  • O fígado produz as substâncias que o corpo precisa;
  • O órgão metaboliza remédios;
  • O fígado de quem tem lesão prévia, alguma insuficiência, não consegue metabolizar as substâncias. Assim há um acúmulo do que deveria ser limpado do organismo.

Puérpera e gestante de alto risco

  • Mulher gestante ou puérpera, em período pós-parto, tem sistema imune menos rigoroso;
  • Fazem parte do grupo de risco para outras doenças como influenza e H1N1.

Síndrome de Down

  • Alteração genética no cromossomo 21, onde em vez de dois, há três;
  • Tem alterações imunológicas e cardíacas, que podem colocar pessoa no grupo de risco em um caso como esse.

Fontes

  • Gerson Salvador, infectologista e associado da Sociedade Paulista de Infectologia;
  • Roberto Muniz Júnior, infectologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e médico da unidade de terapia intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas;
  • Ministério da Saúde.
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