Em meio às angústias provocadas pelo distanciamento social, os medos em relação ao contágio pela Covid-19 e as preocupações relacionadas ao desemprego, os paulistas completam dois meses em quarentena, neste domingo (24).
Muitos seguem trabalhando em atividades essenciais. Outros estão conseguindo ficar em casa, seja porque a empresa adotou o home office, ou por serem do grupo de risco e, com a ajuda da família, puderam se isolar.
No período, se quem ainda não pisou na rua visse a “nova cara” da maior cidade do país, talvez estranhasse um pouco. A capital, que antes apresentava dezenas de quilômetros de congestionamento, agora tem entre 1 e 3 km de lentidão.
São Paulo também está ficando menos poluída. Já na primeira semana da quarentena, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) constatou que “a quarentena estabelecida em função da Covid-19 provocou uma diminuição das atividades e consequentemente da circulação de veículos, reduzindo as emissões atmosféricas geradas por este tipo de fonte”.
A aposentada Maria Teresa Barbosa Lima de Arruda Botelho, 60, não sai de casa desde 14 de março. O filho, de 33 anos, que mora com ela, é quem faz as compras. As outras filhas, que já não moram com ela, ficam do lado de fora da casa na Vila Mariana (zona sul de SP). “A gente se visita pela janela.”
A família é o ponto de maior tristeza para Maria Teresa, que sente falta de ver os filhos todos reunidos. “Eu também sinto falta de cuidar da minha netinha.”
A aposentada não parece ansiosa para ver as mudanças que a pandemia está causando em São Paulo. “Eu tenho restaurado móveis, catalogado fotos, gosto de estudar o histórico da família. Sinceramente, eu não sinto muita falta de sair.”
Carlos Eduardo Battendieri, 65, também morador da Vila Mariana, é outro que não sai de casa desde que a quarentena começou. Os filhos e uma irmã mais nova levam os alimentos para ele.
O economista cozinha e vende comida caseira para outros moradores da região. “Já fiz comida pra fora, tinha parado e comecei novamente. Preciso pagar as contas”, diz, sobre a mudança de atividade temporária.
Filho nasceu em meio ao período de pandemia
A pandemia do novo coronavírus pegou de surpresa a consultora de RH Bruna Giovana Ferreira, 33 anos. Quando a quarentena foi decretada no dia 24 de março deste ano, faltava pouco menos de um mês para o seu filho Joaquim nascer.
“Fiquei bastante insegura devido à situação, além do vírus. Confesso que não estava tão preocupada. Meu bebê estava previsto para maio, então estava tranquila, achei que voltaria [ao trabalho] em meados de abril e conseguiria sair de licença e passar as atividades presencialmente, quando as coisas começaram a apertar e tudo virou um caos”, relembra.
“Quando, na 37ª semana, fui fazer um exame e descobri que meu filho teria que nascer naquele dia, antecipando um mês o seu nascimento, fiquei pensativa sobre como faríamos no meio dessa pandemia, mas felizmente tudo ocorreu muito bem”, diz Bruna, que é moradora de Bragança Paulista (85 km de SP), mas trabalha na zona sul da capital paulista.
Segundo ela, estar confinada em casa, grávida e sem poder ter contato social, gerou e continua gerando muita ansiedade. “Muita gente querendo conhecer o pequeno e eu na dúvida se deixo ou não. Foram diversos sentimentos gerados. Medo, ansiedade, insegurança, impotência de não poder fazer muita coisa para proteger aqueles que amamos”, desabafa a consultora de RH.
Autônomos perdem os seus clientes
Quem trabalha como autônomo tem sofrido em dobro. Além de ter que lidar com as incertezas que a nova doença provoca, eles também precisam se virar para conseguir manter a renda em um momento em que várias atividades não estão permitidas.
É o caso da manicure Rosemeire Ribeiro dos Santos, 38 anos. Ela usa economias para passar pelo período de quarentena. Moradora do bairro Horto Florestal (zona norte), ela atendia em domicílio. Por causa da pandemia, não está conseguindo ir até a casa das clientes.
“Eu trabalhava quase todos os dias, de segunda à sábado. Foi uma mudança muito grande pra mim. Eu atendia entre 15 e 16 mulheres, por semana, agora estou sem nenhuma cliente por conta da quarentena”, relata a manicure.
“Como eu trabalho na casa das pessoas, tenho contato direto com os clientes e não consigo atendê-los [por causa do novo coronavírus]. A minha única esperança, por enquanto, é torcer para que isso tudo passe o mais rápido possível”, afirma Rosemeire.
Casamentos acabam realizados sem a presença de convidados
Quem marcou casamento no segundo trimestre deste ano teve uma mudança drástica nos planos.
O número de uniões caiu drasticamente. Na capital, foram 3.710 casamentos entre 24 de março e 15 de maio. Em 2019, no mesmo período, foram 8.403, segundo a Anoreg (Associação dos Notários e Registradores do Estado de São Paulo).
Mesmo com as dificuldades, Beatriz Loureiro, 23 anos, e Denis Alves Campos, 26, não quiseram cancelar a cerimônia. Em 9 de abril, o casal, que tem uma loja de alianças na Sé (centro), oficializou a união.
“Quando veio a quarentena, o cartório ligou dizendo que iria cancelar, depois remarcou a data, mas explicando que só nós [noivos] poderíamos comparecer, além das duas testemunhas. Ficamos tristes, pois tínhamos contratado até fotógrafa”, conta Beatriz.
O casal iria jantar com amigos e parentes e depois viajar para a cidade de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, mas teve de cancelar tudo.
Carlos Monteiro, 54, e Edneia Silva Souza, 42, também preferiram manter o casamento, que ocorreu no cartório de Parada de Taipas, na zona norte.
“Era para dia 14 de março e mudou para o dia 27 de março. A gente tinha planejado uma festinha”, conta Carlos, que trabalha como técnico em refrigeração.
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