No dia a dia, uma pessoa tem muitas possibilidades de se contaminar com o novo coronavírus. Se ela é enfermeira e trabalha na linha de frente do combate da Covid-19, então, a chance aumenta consideravelmente, mesmo com todos os equipamentos de proteção utilizados. Foi isso o que aconteceu com Vanessa Fonseca dos Santos, 39 anos.
Enfermeira do Hospital Paulistano, ela foi transferida no início da pandemia para o Samaritano Paulista, que centralizou todo o tratamento da Covid na rede da operadora em que trabalha. Assim, no início de maio, Vanessa começou a sentir dores musculares. Como a sobrecarga de trabalho era grande, ela acreditou estar estressada.
“Como o hospital estava 100% no atendimento da Covid, a carga viral lá estava altíssima, mas a gente nunca pensa que é com a gente, porque tem tanta paramentação, não falta nada de material. Então, pensei: não pode ser”, diz Vanessa. “Passou mais dois dias até que, quando fui preparar um jantar em casa, comecei a perceber que não sentia o cheiro do alho na fritura do arroz. E depois quando fui comer também não senti o paladar. Aí, naquele momento, tive certeza que estava doente. Só fui ao pronto socorro para colher o exame PCR e bater o martelo.”
No apartamento de 50 metros quadrados em que mora com o marido, Daniel, e a filha, Isabela, 16, não teve como evitar que os dois também se contaminassem. “Ela pegou logo depois de mim, cerca de 72 horas depois. E quando nós já estávamos no processo de finalização da quarentena, ele, que também trabalha em hospital, descobriu que estava também.”
Dois dias depois do teste, o resultado deu positivo para o coronavírus e ela, que já estava em casa, deu continuidade para completar os 14 dias de afastamento. Mas na sequência a filha começou a ter os sintomas e ela teve de levá-la ao pronto socorro.
“Passei em retorno porque em três dias eu fiquei muito pior. Passamos em consulta juntas. Passaram antibióticos para nós duas. Ela se deu bem com o tratamento, mas eu não. Eu tive uma piora muito acentuada depois disso. Depois dos 14 dias de quarentena, eu passei no médico do trabalho e ele fez a sorologia para ver se a gente havia adquirido anticorpos. O primeiro não deu (reagente). Aí fiquei em casa mais quatro dias e refiz o teste, que deu reagente e fiquei apta para voltar a trabalhar”, diz.
Vanessa explica que em momento algum teve problema de oxigenação no sangue, mas ela não conseguia subir três degraus de escada. “Quando pensei que estava melhor, tentei lavar o banheiro de casa e me arrependi amargamente. Quase morri, passei muito mal. Minha tomografia deu que estava com 25% de lesão pulmonar. Depois disso, comecei a apresentar muita dor torácica.”
Por causa das dores no tórax, ela resolveu procurar um cardiologista e descobriu que estava com uma sequela da Covid: pericardite, uma inflamação no pericárdio, que é o saco que recobre o coração. “Tomei anti-inflamatório no primeiro mês e o cardiologista me ligou para ver como eu estava. Depois ele prolongou por mais dois meses, mas só por precaução, porque estou superbem. Não sinto mais nada. Eu que pedi para voltar a trabalhar.”
O marido de Vanessa passou sem problemas pela doença. Ele teve apenas dor de cabeça e no corpo durante três dias. “Apesar de trabalhar em hospital, onde ele estava não estava centralizado Covid, então, ele foi exposto a uma carga viral menor. Eu tive a doença dessa forma exacerbada porque estava num ambiente extremamente infectado. Não tinha nenhum antecedente e não tinha por que ficar da forma que fiquei. Acredito que seja pela exposição, que foi maior. É a exposição mesmo que nossa profissão nos faz passar. Não tem o que fazer”, finaliza Vanessa.
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