Pandemia pode deixar impactos duradouros nos prédios

Novas regras e tecnologias têm sido incorporadas pelas condomínios para reduzir o risco de contágio

São Paulo

Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, os condomínios precisaram adaptar suas rotinas às orientações do poder público e das autoridades de saúde para evitar a disseminação do vírus. Administradoras e gestores recorreram a regras e, em alguns casos, tecnologias para lidar com essa situação.

Moira de Toledo, diretora executiva da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), explica que os gestores precisam ficar atentos ao número de casos no condomínio, na região e na cidade em que estão inseridos para avaliar eventuais flexibilizações ou retrocessos. “No interior, houve fechamentos que foram necessários por causa da crescente de contaminação”, afirma.

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Segundo ela, os novos modos de agir devem permanecer nos condomínios, ao menos, até o fim deste ano. O uso de máscara, distanciamento, intensificação da limpeza, disponibilização de álcool em gel e agendamentos de áreas comuns são exemplos de medidas adotadas. “Ainda estamos na pandemia. Enquanto não tivermos uma solução como vacina ou medicamento muito eficiente, vamos ter que se adaptar às medidas efetivas que previnem a contaminação”, afirma Moira.

Além desta dinâmica, o advogado Rodrigo Karpat acrescenta que os impactos econômicos deste momento têm levado gestores a buscarem assessoria jurídica para auxiliar na questão da inadimplência e fazerem previsões orçamentárias menores.

Os advogados afirmam que a relação com as administradoras também mudou durante este período. A procura por soluções digitais para documentos, procedimentos de cobrança e prestação de contas e assembleias eletrônicas são exemplos. “O uso da tecnologia para questões de comunicação veio para ficar. O ganho em eficiência é muito grande”, diz Moira.

Karpat relaciona as manutenções feitas nos prédios com o uso de tecnologias pela importância de se manter atualizado. “É mais caro trabalhar de forma corretiva do que preventiva”, diz.

Claudvanea Monteiro é advogada e síndica de dois condomínios. Em um dos prédios, localizado na Água Branca (zona oeste de SP), algumas medidas adotadas durante a quarentena irão permanecer até o fim deste cenário, como o uso de máscara, agendamento dos espaços, distanciamento, intensificação da limpeza e medição de temperatura na entrada dos prestadores de serviço.

Durante este período, o prédio teve dois casos graves de violência doméstica, em que a equipe de segurança e a polícia foram acionados. Os acontecimentos levaram Monteiro a fazer uma campanha interna e a buscar uma solução na administradora que ajudasse a evitar situações do tipo. Assim, o Grupo Graiche incorporou um botão para denunciar os casos dentro do aplicativo do condomínio, onde o pedido de socorro vai para uma equipe especializada.

A tecnologia também tem ajudado nas reuniões do conselho diretivo, que passaram a ocorrer via aplicativo. “Essas medidas de segurança e proteção são importantes. Muitos ainda não se conscientizaram do mal que este vírus pode fazer”, afirma.

Como a pandemia tem afetado os condomínios

Condomínios não são ilhas

  • É natural que acompanhem os movimentos de fechamento e flexibilização das cidades
  • Enquanto não houver uma solução definitiva contra o coronavírus, as adaptações continuaram acontecendo
  • É importante que a gestão do condomínio conheça a situação interna e externa
  • A administração deve ficar atenta a quantidade de casos nas unidades, no bairro e na cidade para avaliar reaberturas ou restrições

Regras de prevenção

  • É provável que medidas tomadas contra o novo coronavírus permaneçam durante todo este período de pandemia
  • Elas existem para preservar a saúde e segurança dos condôminos
  • Alguns exemplos são:
  • Uso de máscara obrigatório
  • Distanciamento social
  • Intensificação da limpeza
  • Disponibilização de álcool em gel
  • Agendamento para utilizar áreas comuns, como academias e quadras

Recursos tecnológicos

As restrições impostas pela pandemia, impulsionaram adaptações nas rotinas condominiais:

1- Assembleias eletrônicas
Dentre os efeitos positivos, estão o aumento da participação dos condôminos e, em geral, maior eficiência nas discussões

2- As administradoras de condomínios
Diante da necessidade de adaptação, há empresas que passaram por uma transformação digital
Procedimentos como cobrança, prestação de conta e criação de canais (para comunicação, agendamento de espaços e até denúncias) são exemplos
Em relação aos funcionários, há empresas que trocaram o envio de documentos em papel para o ambiente digital
Além de economizar papel, isso diminui o trânsito e manuseio de documentos, o que é ruim diante do novo coronavírus

3- Reconhecimento facial
Condomínios, principalmente comerciais, buscaram substituir tecnologias que exigiam toque, como botões e leitor de digital por novos modos de reconhecimento
Esse tipo de recurso ainda é caro, mas já está sendo utilizada

4- Home office
O aumento de condôminos trabalhando remotamente mudou a dinâmica de alguns prédios
Síndicos buscaram soluções como limitar o horário de barulho para obras
Além do diálogo entre vizinhos para chegar a um consenso e evitar incômodos
Vale lembrar que isso não significa criar um escritório ou comércio no condomínio residencial

5- Entregas

Há prédios que adaptaram espaços para receber entregas
Este processo vai desde o recebimento até o armazenamento
O uso de “box de entregas”, por exemplo, permite que a mercadoria seja entregue sem intermédio dos funcionários e nem contato físico

Na legislação

Lei 14.010
Ficará em vigor até 30 de outubro de 2020
Estende o mandato de síndicos, que tenham vencido durante a quarentena, até esta data
Deixa claro a possibilidade de fazer assembleias digitais
Isso já era possível anteriormente, mas a lei evita a judicialização deste assunto

PL 2.510
Trata sobre a violência doméstica na perspectiva dos condomínios
No momento, está em tramitação

Dinheiro em caixa

  • As incertezas econômicas também impactaram os condomínios
  • Há locais que fizeram novas previsões orçamentárias considerando uma queda na arrecadação
  • Outros têm buscado assessoria jurídica para auxiliar na gestão da inadimplência

FONTES

Moira de Toledo, diretora executiva da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação)

Rodrigo Karpat, advogado especializado em direito condominial e sócio do escritório Karpat Sociedade de Advogados

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