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Escola feita de recicláveis quer transformar bairro pobre de São Paulo

Colégio bilíngue e montessoriano foi erguido com placas feitas de caixinhas e embalagens plásticas

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São Paulo

Uma escola bilíngue, construída com material reciclável e adepta do método montessoriano de educação. Se engana quem pensa que esse colégio fica em algum bairro rico, com mensalidade na casa dos R$ 5.000. A Mangalô Montessori School está encravada em meio a 150 mil habitantes de cinco comunidades pobres do Parque São Rafael, no extremo leste da capital paulista, e promete transformar a realidade das crianças da região a partir de 2021.

"A gente sempre disse que, se for para inovar, que se inove do começo ao fim. Desde o processo construtivo até o engajamento do voluntariado, o método educacional", afirma Fernando Prieto Teles, co-fundador e CEO da ONG Mangalô. Para se tornar viável, o projeto prevê bolsas e mensalidades acessíveis .

Placas prensadas de produtos recicláveis, desde as fundações até o teto, dão forma à escola. Ao todo, 2,5 milhões de embalagens plásticas e caixinhas de leite foram transformadas em paredes. "Se fosse construída de maneira convencional, com alvenaria, gastaríamos três vezes mais no mínimo", diz.

Entrada da escola, que contou com a ajuda de 600 voluntários para ser erguida - Rubens Cavallari/Folhapress

Ricardo Teles da Cruz, irmão de Fernando, diretor e também fundador do projeto. "É acústico, térmico, não propaga chamas, antifungo, antibacteriano, com 300 anos de durabilidade."

Para botar tudo de pé, os idealizadores contaram com 600 voluntários, muitos deles do exterior. Nos próximos dias, a escola deverá ganhar painel do artista plástico e grafiteiro Mena, na parede voltada para a pista de skate, um dos únicos locais de lazer do bairro.

Quem caminha pelos dois pavimentos percebe o cuidado em cada um dos detalhes e o ambiente acolhedor. Um dos símbolos disso são os portões que cercavam o antigo centro comunitário que havia no local e que agora foram suspensos no teto, servindo de base para as luminárias. "Está muito diferente do que todos aqui têm o hábito de viver", diz Fernando.

Método faz aprender com próprio erro

Formada em pedagogia, a diretora educacional da Mangalô, Nathalia Cardoso Teles, trabalhou em escolas tradicionais. Fez pós-graduação e estudou também nos Estados Unidos, onde aprendeu mais sobre o método montessoriano, criado pela médica e pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952).

"O método convencional faz tudo em massa, uma única atividade para todos, que devem estar na mesma caixinha. No Montessori, a gente consegue olhar para a habilidade de cada criança", diz.

Inicialmente, a escola terá duas turmas, com alunos de 3 a 5 e de 6 a 9 anos. Equipar uma sala montessoriana custa em torno de R$ 70 mil, segundo os responsáveis pela Mangalô. A ONG, porém, decidiu produzir ela mesma os produtos, o que não deixa de ser uma saída aliada ao método de ensino. "Desde cedo, os materiais fazem com que a criança, quando encontra um erro, seja capaz de resolvê-lo sem que tenha um adulto ou pessoa autoritária dizendo o tempo todo o que deve ser feito", afirma Nathalia.

Uma dos fundamentos do método montessoriano é que o aluno não está na aula para agradar o professor o tempo inteiro, mas para desenvolver suas próprias habilidades. "A gente espera que sejam adultos que corram atrás, estejam preparados para resolver problemas e não tenham medo, independentemente dos erros ou empecilhos que apareçam."

Pai sonha com um futuro melhor para os 4 filhos

Na última quinta-feira (22), o cozinheiro desempregado Anderson Leandro Pires, 31 anos, levou o mais velho e o caçula de seus quatro filhos para conhecer a escola por dentro. Leandro, 6, as gêmeas Alice e Vitória, 4, e João Pedro, 3, são algumas das crianças que podem ser beneficiadas com bolsas no colégio.

"Nunca tinha visto uma construção assim, com essa proporção, feita com esses materiais. Foi inacreditável, perfeito", disse. "Em comparação com uma casa de alvenaria, tem água, iluminação, não muda nada", fala.

Durante a conversa do pai com a reportagem, os dois meninos não pararam quietos um minuto sequer, explorando o ambiente e já desenvolvendo atividades com a diretora Nathalia Cardoso Teles. "Eles chegam e querem ver o que tem. É diferente de onde a gente vive. Em casa tem TV, outro tipo de brinquedo", afirma .

Anderson sonha com um futuro melhor para os filhos. "Eles vão ocupar a mente com coisas novas. É uma sementinha que se planta."

O cozinheiro Anderson Pires, 31, com os filhos Leandro, 6, (esq.) e João Pedro, 3, na sala de aula da escola Mangalô Montessori School, onde as crianças vão estudar - Rubens Cavallari/Folhapress

Matrículas serão abertas em novembro

As matrículas para 2021 serão abertas agora em novembro e os custos para os pais vão desde a bolsa integral, gratuita, até R$ 550. "Vamos abrir pra toda comunidade. Nas inscrições, faremos perguntas socioeconômicas, para entender o perfil de cada família", afirma Talitha Martins Teles, diretora e também fundadora da Mangalô.

Segundo Talitha, a intenção é de não onerar o orçamento das famílias. "Nesse processo, vamos entender os perfis para termos as bolsas que podem chegar até 100%, que serão custeadas por pessoa física ou jurídica que queiram 'adotar' uma criança", afirma. A expectativa é de que as 100 vagas sejam preenchidas.

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