Pelo menos 5.000 crianças da capital paulista sofreram algum tipo de violência doméstica durante a quarentena imposta pela pandemia da Covid-19. Os dados são da prefeitura, gestão Bruno Covas (PSDB).
O número, segundo Berenice Maria Giannella, secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, foi contabilizado pela Secretaria Municipal da Saúde por meio de atendimentos em unidades de saúde ou hospitais desde março, quando foi implantada a quarentena no estado de São Paulo e as escolas tiveram de ser fechadas, mantendo as crianças mais tempo em casa.
As escolas começaram a ser reabertas na capital no início do mês para algumas atividades. A volta às aulas ocorre apenas no próximo dia 3 de novembro, mas apenas para o ensino médio, ou seja, para adolescentes.
“Quando envolve a suspeita de violência, o atendimento deve ser notificado à [Secretaria de] Saúde”, afirma Maria Giannella.
Segundo a secretária, os casos de maus-tratos contra crianças identificados na cidade envolvem tanto agressões físicas quanto psicológicas.
“A gente suspeitava que isso pudesse acontecer durante a pandemia, porque a maior parte da violência contra criança e adolescente, no Brasil, é praticada dentro da família”, diz ela, que também cita o aumento de violência contra mulheres.
Para tentar minimizar o problema, uma das alternativas foi a reabertura dos CCAs (Centro Criança e Adolescentes), administrados pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, e que estavam fechados por causa da pandemia.
Os CCAs, que acolhem crianças, de 6 a 14 anos e 11 meses de idade, no contraturno da escola, são voltados a quem vive em situação de vulnerabilidade social, com atividades culturais e esportivas. Também há espaço de convivência.
Berenice explica que existem 465 CCAs espalhados pela capital paulista, sendo que 93 já reabriram, desde 7 de outubro, com 20% da capacidade. “Demos prioridade a essas crianças identificadas com situação de necessidade. Não só na questão de violência, mas também porque pais estão trabalhando fora”, afirma.
Segundo ela, todos os CCAs irão retornar às atividades. Eles estão voltando conforme a Secretaria Municipal da Saúde realiza testes para detectar o novo coronavírus nos servidores e nas crianças.
Apoio é definido depois da análise de cada caso
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social tem analisado caso a caso e decidido se a família deve ser acompanhada mais de perto, com algum tipo de apoio psicológico, ou se a possibilidade de perda da guarda temporária da criança precisa ser analisada.
Os Centros de Juventude, serviço semelhante ao CCAs, mas para adolescentes com idade entre 15 e 17 anos e 11 meses, também irão reabrir a partir desta semana.
A secretária Berenice Maria Giannella diz que os serviços de assistência não pararam e que foram realizados de forma virtual. E que a verba usada para alimentar as crianças foi transformada em cestas básicas.
Educação diz fazer trabalho unificado
A Secretaria Municipal da Educação afirma manter contato com alunos com dificuldades na rede municipal, além de crianças em extrema vulnerabilidade.
“A ideia é ajudar e auxiliar os alunos e famílias no aprendizado em casa, combater a evasão escolar, detectar vulnerabilidades e prestar suporte e encaminhamento caso os estudantes necessitem de apoio, seja social ou de saúde. São mais de 1.000 auxiliares de vida escolar, atendendo essas crianças”, afirma.
Segundo a gestão Bruno Covas, o projeto conta com equipe de suporte da área da saúde e assistência social, como psicólogos, fonoaudiólogos e assistentes sociais.
A secretaria diz que, em parceria com o Instituo Liberta, criou um site para atender estudantes adolescentes que queiram dividir suas angústias no período da pandemia (www.naapa.com.br).
Ainda segundo a pasta, o desenvolvimento ocorreu após o aumento na solicitação de apoio de crianças e adolescentes neste período de distanciamento social. Os casos podem ser encaminhados para o Conselho Tutelar.
Pandemia aumenta estresse
As relações familiares sofreram com o desgaste provocado pelo período de quarentena, diz Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“Ao identificar algum caso, deve-se fazer a denúncia, e não tentar intervir”, afirma. “O estresse provocado pela quarentena, vivenciado por pais e crianças tem, consequências”, explica o psicólogo.
Segundo ele, o acompanhamento psicológico para a família pode amenizar este o problema.
Busin afirma que este tipo de ação pode trazer conceitos novos para os pais saberem lidar com atitudes como “birra”, típicas do público infantil.
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