Descrição de chapéu Zona Norte Coronavírus

Agentes têm dificuldade para testar crianças na periferia de São Paulo

De 17 famílias procuradas por unidade de saúde na região da Brasilândia, somente sete permitiram coleta de sangue

São Paulo

A Secretaria Municipal da Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), tem encontrado dificuldade para convencer famílias a autorizarem a realização de testes que detectem o novo coronavírus em crianças e adolescentes na região da Brasilândia

De 17 famílias acionadas pela UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Paulistano, apenas sete autorizaram a coleta de sangue em testagem iniciada nesta quinta (6).

O distrito da zona norte é o segundo com mais mortes, em números absolutos, na capital, com 368 óbitos confirmados e suspeitos, segundo balanço do dia 3.

Desde quarta-feira (5), o governo municipal iniciou a quarta fase de um inquérito sorológico para traçar o perfil de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na cidade e sobre as regiões em que vivem. Nesta nova etapa, crianças e jovens, com idades entre 4 e 14 anos, serão avaliados. O resultado, sem data ainda definida, ajudará o governo a programar a retomada das aulas presenciais em unidades municipais de ensino.

"As pessoas que negaram as coletas [de sangue] argumentam ter respeitado o isolamento social e também afirmam não querer entrar em contato direto com profissionais de saúde, com medo de se infectar [com o vírus]", afirma Rodrigo Greany, gerente da unidade de saúde do Jardim Paulistano, onde também funciona uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial).

Ele e agentes de saúde da UBS foram a quatro imóveis nesta quinta. Um deles foi na casa dos avós de Yuri Andrade Machado, 6 anos, que teve o sangue coletado sem derramar uma lágrima.

A mãe do menino, a dona de casa Eliane Andrade Machado, 35, disse que o filho "perdeu o ano escolar", pois o menino não conseguiu ter aulas online por falta de acesso à internet. Yuri passa o tempo entre a casa dos avós e dos pais, que moram na mesma rua.

A UBS atende cerca de 9.000 famílias e acompanha, por telefone, os casos suspeitos e confirmados pelo novo coronavírus. "Nos casos confirmados, acompanhamos os familiares durante os 14 dias de isolamento", disse a supervisora técnica Carolina Cazella.

Mães afirmam que filhos não irão retornar às aulas neste ano

Mesmo sentindo saudade dos colegas, Yasmin Silva Vasquez, 11 anos, tem medo de voltar à sala de aula, por causa de uma eventual infecção pela Covid-19. Ela foi uma dos quatro jovens que tiveram amostras de sangue coletadas na zona norte de São Paulo nesta quinta.

Moradora do Jardim Paulistano, Yasmin afirmou que não vai retornar às aulas presenciais, mesmo com a eventual reabertura das escolas ainda neste ano, enquanto uma vacina contra o novo coronavírus não for desenvolvida.

A mãe da menina, a cabeleireira Rochane Thaís da Silva, 29, reforçou a opinião da filha, acrescentando que os jovens "não vão respeitar protocolos de distanciamento". "Quando a meninada se ver de novo na escola, vai se abraçar e sem vacina [contra a Covid-19] os riscos são bem altos", ponderou.

A dona de casa Eliane Andrade Machado também afirmou que o filho Yuri Andrade Machado não volta às aulas neste ano, por não se sentir segura.

Yasmin, assim como o garoto, disse sentir dificuldades em estudar pela internet. Segundo ela, "falta dinâmica" nas aulas online.

A garota afirmou que, no ensino à distância, sobram tarefas e lições e faltam explicações sobre os temas.

"Quando as aulas eram presenciais, tinha mais explicações e, quando eu fazia as tarefas, memorizava melhor as lições", afirmou a estudante.

Inquérito ajudará na definição de volta às aulas na rede municipal

A pesquisa da prefeitura, gestão Bruno Covas (PSDB), ocorre em quatro etapas. Na primeira serão testadas 2.000 crianças da pré-escola, a mesma quantidade no ensino fundamental, da 1ª à 5º séries, e outras 2.000 da 6ª à 9ª séries.

A data para a divulgação dos resultados não foi informada. O inquérito com crianças e adolescentes começou na quarta-feira (5).

"O estudo também pretende calcular a proporção de crianças e adolescentes, com teste positivo, que apresentam ou apresentaram infecções assintomáticas", diz a prefeitura.

A escolha dos alunos foi feita aleatoriamente com base em dados da Secretaria Municipal da Saúde. "O estudo vai contribuir com informações para que possa ser avaliado o melhor momento para a retomada do funcionamento presencial da rede municipal de ensino. O levantamento também servirá para auxiliar no planejamento das ações de prevenção e enfrentamento à Covid-19", diz.

O governador João Doria (PSDB) deve anunciar nesta sexta-feira (7) se as aulas no estado serão retomadas em 8 de setembro, como planejado. Segundo o secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, a capital pode não seguir a data.

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