Enxaqueca afeta qualidade de vida e exige acompanhamento médico

Doença incapacitante pode causar dores em qualquer fase da vida

São Paulo

A enxaqueca é uma das doenças mais incapacitante do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Ela é é um tipo de dor de cabeça, mais frequente em mulheres. Em geral, é mais recorrente em pessoas entre 30 e 45 anos, mas pode aparecer desde a infância.

Antônio César Galvão, professor-assistente da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, conta que pessoas com enxaqueca podem ter atividades do cotidiano e sua produtividade comprometidas devido à doença. “Muitas crises são tão fortes que a pessoa não consegue trabalhar”, afirma.

Galvão explica que a enxaqueca já nasce com a pessoa e tem uma relação com a genética familiar. “Se o pai e a mãe tem, a chance do filho ter é muito alta”, exemplifica. Segundo ele, o “cérebro enxaquecoso” tem alterações neurofisiológicas que levam às crises.

Paulo Nakano, neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, percebe que os pacientes que já tem pessoas com enxaqueca na família, costumam procurar tratamento mais cedo.

O médico explica que quem tem predisposição para enxaqueca costuma ter “gatilhos” que desencadeiam a dor. Os gatilhos não são a causa da doença e variam de pessoa para pessoa. Entre os exemplos estão falta de sono, estresse, problemas emocionais como ansiedade e depressão, ingestão de alimentos embutidos, frituras, bebidas alcoólicas entre outros. Galvão complementa explicando que as mulheres podem ter crises antes ou durante a menstruação devido a queda do estrogênio (um hormônio).

Ilustração para a coluna vivabem
Enxaqueca - Arte Agora São Paulo

Segundo Caio Grava Simioni, membro da ABN (Academia Brasileira de Neurologia) e médico do ambulatório de cefaleia do Hospital das Clínicas, parte dos pacientes com enxaqueca podem ter aura antes de uma crise de dor. Isso significa que a pessoa terá alterações na visão como pontos brilhantes.

Os médicos explicam que a enxaqueca é uma dor latejante que costuma afetar apenas um lado da cabeça, mas também pode ocorrer nos dois. Além disso, a pessoa pode ter náuseas, vômito, intolerância à luz e ao barulho. Durante uma crise, “a tendência é que o paciente procure ambientes escuros e calmos”, afirma Nakano. As dores podem durar de quatro horas a três dias. Após uma crise, pode haver mal-estar, cansaço e sonolência.

Segundo os especialistas, em caso de dor de cabeça súbita ou persistente por mais de três dias, é recomendado procurar um médico para saber o que é. Em relação a enxaqueca, é preciso fazer acompanhamento para tratar a doença e controlar os episódios de dor.

Segundo Nakano, dormir bem, ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas e relaxantes podem ajudar a aliviar e diminuir crises. Galvão completa dizendo que pessoas em que a dor aparece após situações de estresse e tensão, terapia, ioga e acupuntura também podem ajudar. “A doença não tem cura, mas o tratamento vai propiciar qualidade de vida”, comenta Simioni.

Galvão, Simioni e Nakano alertam para o abuso de analgésicos. Apesar destes medicamentos poderem aliviar a dor por um tempo, ultrapassar a dosagem recomendada e utilizar mais de um tipo podem complicar a situação. Em vez de aliviar, há dor de cabeça devido ao exagero, pode dificultar o tratamento da enxaqueca e o problema não é resolvido.

Impacto da pandemia

Nestes meses de pandemia, os neurologistas Caio Simioni e Antônio Galvão notaram aumento das crises em pacientes em seus atendimentos, mesmo em quem já estava em tratamento. Galvão comenta que alguns tiveram Covid-19 — um dos seus sintomas é a dor de cabeça — e mesmo depois de curados do vírus, as dores permaneceram.

Além do novo coronavírus, o neurologista também relaciona as questões emocionais durante o isolamento com as eventuais pioras. Ele explica que pessoas que ficaram mais estressadas, ansiosas ou deprimidas por não poderem sair, estudar e trabalhar normalmente.

A enxaqueca

O QUE É

  • Um tipo de dor de cabeça primária
  • Ou seja: ela não é um sintoma, a enxaqueca é a doença
  • Costuma doer de forma latejante ou pulsátil
  • Frequentemente, dói de um lado da cabeça, mas pode afetar os dois
  • A enxaqueca prejudica a qualidade de vida da pessoa
  • Crises de dor podem impedir que a pessoa faça atividades do dia a dia, como trabalhar
  • Não há cura

O que a causa?

  • A pessoa que tem enxaqueca já nasce com essa tendência
  • Há uma predisposição familiar
  • Por exemplo: se os pais já tem enxaqueca, a chance do filho ter é alta
  • Há alterações neurofisiológicas no cérebro da pessoa que levam às crises
  • A dor aparece quando os vasos do cérebro ficam inflamados, dilatados e sensíveis

O que leva uma crise de dor?

  • A pessoa que tem predisposição à enxaqueca terá crises quando algo interferir no seu organismo
  • São mudanças que “estressam” o cérebro e fazem a dor aparecer
  • Elas não causam a doença, mas “despertam” a dor
  • As interferências são diferentes para cada pessoa
  • Algumas pessoas podem ter mais de uma, outras nenhuma
  • Quem tem a dor, precisa se atentar ao que acontece antes dela chegar
  • Alguns exemplos são:
    • Alimentos: ingerir vinho tinto, bebidas alcoólicas, chocolate, queijos, frituras, alimentos industrializados, embutidos como salame, mortadela e presunto
    • Dormir pouco ou em excesso
    • Devido a alterações hormonais, mulheres podem ter enxaqueca antes ou durante a menstruação
    • Mudança de tempo, sol quente, local abafado
    • Estresse, preocupação excessiva ou nervosismo
    • Está relacionada a problemas emocionais como ansiedade, depressão e transtorno do pânico
  • Outras dores, como alterações na região da coluna cervical ou na articulação da mandíbula com o crânio (temporomandibular) podem potencializar a dor
  • Estas podem ser associadas a outros tipos de dor de cabeça
  • Assim, o paciente precisaria tratar tanto a sua dor de cabeça quanto o problema na articulação com o respectivo especialista

Fase da vida

  • Enxaqueca pode afetar pessoas em qualquer idade, inclusive crianças
  • Costuma doer mais entre os 30 e 45 anos
  • Após os 60, a tendência é que a intensidade diminua

OS SINTOMAS

Antes da crise

  • Há pessoas que têm enxaqueca com aura
  • Isso significa que, antes da crise, ela terá alterações na visão como zig zag luminosos e pontinhos brilhantes
  • Dependendo do caso, podem aparecer junto com a crise
  • Quem não tem aura, precisa se atentar a sintomas “menos óbvios” como quadros de mal estar e tristeza antes da dor

Durante a crise

  • Além da dor de cabeça, pessoas em crise de enxaqueca podem ter:
  • Náuseas
  • Vômito
  • Fotofobia (intolerância a luz)
  • Fonofobia (intolerância ao barulho)

Depois da crise

  • Quando a dor passa, é possível que a pessoa se sinta:
  • Cansada
  • Sonolenta
  • Além disso, caso haja vômito, a pessoa pode sentir fraqueza e mal estar geral

AS CRISES

  • Sem tratamento, podem durar de quatro horas a três dias
  • Há pessoas que têm crises de enxaqueca uma vez por ano e outras mais de uma vez por mês
  • Se a pessoa tem três ou mais crises de enxaqueca por mês, é recomendado fazer tratamento preventivo
  • Isso é feito com medicamentos específicos de uso contínuo
  • Quando o que "desperta" a dor é emocional, terapias, yoga e acupuntura podem ajudar
  • No caso dos alimentos, é possível evitá-los
  • Estes cuidados associados aos medicamentos também variam para cada pessoa e dependem das orientações médicas
  • É essencial fazer acompanhamento com o neurologista para definir o tratamento

Cuide da saúde

  • Tenha uma alimentação balanceada e saudável
  • Noites de sono adequadas
  • Pratique atividades físicas e relaxantes
  • Uma boa saúde contribui para evitar ou aliviar crises

Como lidar com a dor

Em geral, as pessoas procuram descansar em um quarto escuro e silencioso em momentos de crise

Não abuse de analgésicos

  • Eles podem tirar a dor por um tempo, mas não resolve o problema
  • Se a dor voltar, a pessoa continuar tomando e ultrapassar o nível recomendado por dia pode piorar a situação
  • O exagero levaria a um “efeito rebote”, com mais dor de cabeça
  • As crises de enxaqueca também podem ser mais prolongadas, intensas e difíceis de tratar
  • Não ultrapasse a dose permitida e nem tome diferentes analgésicos no mesmo dia

Quando procurar ajuda?

  • Pessoas com dor de cabeça por quatro dias ou mais por mês precisam procurar um neurologista
  • Lembre-se que há outros tipos de dor que podem ser sinais de alerta para outras situações:
  • Dor que vem de maneira súbita; associada a outros sintomas como febre ou alteração de força e sensibilidade; com piora progressiva, etc. também exigem atendimento médico

FONTES

Antônio César Galvão, professor-assistente da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e neurologista-chefe do Hospital Nove de Julho; Caio Grava Simioni, membro da ABN (Academia Brasileira de Neurologia) e médico do ambulatório de cefaleia do Hospital das Clínicas; Paulo Nakano, neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo e diretor clínico da Clínica Nakanuy.

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