A família de uma menina negra, de 10 anos, registrou boletim de ocorrência de racismo contra a escola onde a criança estuda, em Jundiaí (58 km de SP), por causa da exclusão da menina numa publicidade da instituição de ensino. O caso foi na sexta-feira (20) passada, Dia da Consciência Negra.
O colégio Domus Sapiens disse que não foi proposital. Segundo a escola, a agência de publicidade contratada normalmente coloca a caixa de texto do lado direito dos anúncios da escola. E que por isso, o rosto da menina negra foi encoberto.
O pai da criança, um supervisor de 50 anos, afirmou em depoimento à polícia que jantava na casa de amigos, por volta das 21h30 de sexta-feira (20). Durante a refeição, a filha viu um anúncio da escola, em uma rede social, em que apareciam três estudantes brancas e ela.
Na publicidade, a menina negra, entretanto, estava encoberta por um espaço amarelo com a seguinte mensagem: “Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e convivência”, citando o nome do educador Paulo Freire. A ocultação da imagem, constatada pela própria criança, “a deixou em uma situação vexatória”, diz trecho de boletim de ocorrência, registrado no 1º DP de Jundiaí no dia seguinte.
Após o caso repercutir na internet, o colégio retirou a imagem em que a menina negra é encoberta. Em uma nova postagem, publicada no domingo, a instituição compartilhou novamente a foto, desta vez com a aluna negra visível.
O advogado Anderson Dario, contratado pela família juntamente com a advogada Silene Tonelli Regatieri, afirmou que dará andamento à averiguação do caso, após a mãe da menina, uma professora de 40 anos, prestar depoimento à polícia na tarde desta quarta-feira (25). Ele acrescentou reunir provas e documentações para mover uma ação contra o colégio.
“É uma questão delicada, pois trata-se de uma criança com apenas 10 anos de idade, negra, que no Dia da Consciência Negra teve seu rosto tampado num post [da internet] da escola onde estuda, tendo ela mesmo visualizado a foto no perfil da escola. Que isso seja exemplo para que outras instituições de ensino não façam o mesmo”, afirmou o advogado ao Agora, nesta terça-feira.
A advogada disse que a família quer uma retratação por parte da escola que, segundo ela, "terceirizou a culpa" pela publicação, atribuindo-a a uma empresa de marketing, que não teve o nome informado. "Não houve postura da escola em reconhecer o erro. A família entende que seria interessante fazer um trabalho junto aos alunos para que esse tipo de situação não se repita”, destacou a advogada.
A mãe da criança afirmou, nesta terça, que já iria transferir a filha do colégio, onde a criança estudou por cinco anos, “por outros fatores”. “Com certeza mudamos [de escola] na hora correta”, afirmou, se referindo ao suposto caso de racismo, em mensagem de texto de celular.
A mãe disse que a criança "está insegura e não quer ficar sozinha", acrescentando que a menina "não gosta de comentar no assunto."
O delegado Antonio Tota Júnior, titular do 7º DP de Jundiaí, afirmou já ter instaurado um inquérito policial, para investigar o caso. "Precisamos ouvir todas as partes envolvidas, incluindo da escola, para criar ainda uma convicção do que aconteceu de fato. Qualquer afirmação minha, neste momento, seria prematura ", explicou.
A escola ainda será oficiada pela polícia para esclarecer como a peça publicitária foi produzida e veiculada. O caso foi registrado como “preconceito de raça ou cor”.
Resposta
Segundo o departamento jurídico da escola, em nota, a agência de publicidade contratada pelo colégio elaborou 41 postagens em redes sociais em um pacote, "sendo que em praticamente todas as postagens feitas naquela oportunidade, o lado escolhido para a colocação da caixa de texto é justamente o lado direito da foto, se sobrepondo aos rostos de muitos outros alunos, em outras fotos, inclusive, alunos brancos, com o intuito de seguir um padrão estético na diagramação da publicidade [já que as fotos seriam lidas em sequência]".
"Ou seja, analisado o conteúdo da publicidade feita naquela data, não sobreleva qualquer dúvida de que a ocultação da imagem da aluna, em questão, não foi propositalmente escolhida por critério racial, e sim, pelo critério geral de posicionamento da caixa de texto nas fotos divulgadas sequencialmente na rede social", afirmou, em nota.
"O colégio, ao longo de uma trajetória dedicada à inclusão social e à censura de toda e qualquer prática discriminatória, apoia decisivamente as ações visando coibir o racismo e a disseminação de propagandas de ódio e violência. essa é a nossa missão perante a comunidade e na formação de nossos alunos", disse.
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