Descrição de chapéu quadrinhos

Polícia de SP faz alerta sobre uso de caveira de Justiceiro em uniformes da corporação

Comunicado interno da Delegacia Geral orienta agentes a utilizar somente símbolos oficiais da instituição

São Paulo

A Delegacia Geral enviou um comunicado interno para que policiais civis paulistas deixem de usar símbolos não oficiais da instituição durante ações policiais, destacando a caveira do personagem de quadrinhos O Justiceiro, da americana Marvel, anti-herói conhecido por fazer justiça com as próprias mãos, sem respeitar a lei.

"Chegou ao conhecimento desta Assistência Policial de Comunicação Social, que policiais civis do Estado de São Paulo estão utilizando oficialmente símbolos alheios à Polícia Civil de São Paulo, tanto em operações policiais como em entrevistas, na maioria em forma de patches [bordados] presos aos coletes, destacando-se o símbolo da caveira estilizada do personagem 'O Justiceiro'", diz trecho do documento, assinado por Márcia Heloisa Mendonça Ruiz, delegada divisionária da Assistência Policial de Comunicação Social da Polícia Civil.

Simbolo do Justiceiro, personagem da Marvel - Divulgação

O comunicado interno diz que usar o símbolo do personagem dos quadrinhos "não está previsto no manual de identidade visual da Polícia Civil", mencionando portaria de 2019 que proíbe a utilização de símbolos alheios à instituição em uniformes, viaturas e "demais elementos oficiais da instituição."

A delegada divisionária reforça no comunicado para que a mensagem seja amplamente divulgada entre os policiais, "a fim de que se abstenham da utilização do referido símbolo [caveira], haja vista não representar os valores da Polícia Civil de São Paulo, bem como estar em desacordo com o manual de identidade visual", diz outro trecho do documento.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Marvel no Brasil condenou a associação feita entre policiais e o personagem, mencionando um trecho da história em quadrinhos em que, o próprio Justiceiro, fala sobre isso.

Ao perceber uma caveira usada por ele em uma viatura policial, o personagem afirma, segundo o trecho destacado pela Marvel: "Eu só vou dizer isso uma vez. Nós não somos iguais. Vocês [policiais] juraram cumprir a lei. Vocês ajudam as pessoas. Eu desisti de fazer isso há muito tempo. Vocês não fazem o que eu faço. Ninguém faz. Vocês precisam de um bom exemplo? O nome dele é Capitão América, e ele ficaria feliz em ouvir de vocês", afirma o personagem aos policiais.

Um investigador da Grande São Paulo afirmou ao Agora, em condição de anonimato, que alguns policiais começaram a se identificar com a caveira do Justiceiro.

"Alguns policiais passaram a colocar no colete [a caveira do personagem] não porque o policial é justiceiro ou que é matador. É uma questão do policial gostar do símbolo”, afirmou.

O investigador acrescentou que, como muitos policiais passaram a usar a caveira, inclusive em coletivas de imprensa, o Justiceiro ganhou destaque. “Por causa disso, alguém decidiu que não podia mais usar a caveira. Agora é para a gente usar somente o brasão da Polícia Civil e nenhum outro símbolo além desse”, afirmou o policial, há mais de dez anos na instituição.

O delegado Carlos Alberto da Cunha, titular do Cerco (Central Especializada de Repressão ao Crime Organizado), a antiga Equipe de Intervenção Estratégica, da 8ª Delegacia Seccional, ficou famoso na internet por causa de seu canal no YouTube, chamado de Delegado da Cunha.

Em vários vídeos, ele aparece com uma caveira semelhante à da personagem da Marvel, principalmente em operações gravadas e depois compartilhadas no canal, com quase um milhão de seguidores.

A postagem mais recente em que o policial aparece com a caveira no uniforme tinha quase 362 mil visualizações.

Um internauta questionou Cunha sobre o uso da caveira do Justiceiro, em agosto deste ano. O policial, após ter ciência de que o símbolo contava com um significado dúbio, o trocou por uma pantera. Depois da determinação da Delegacia Geral, nenhum símbolo, além do brasão da instituição, é usado pelo delegado.

Delegado da Cunha
Delegado ostenta caveira do personagem dos quadrinhos O Justiceiro durante ação policial compartilhada por ele em redes sociais - Reprodução/Youtube

A advogada Thaís Paes Salomão, especializada na defesa de policiais civis, afirma que o texto distribuído pela Delegacia Geral teve o intuito de orientar os agentes a deixar de usar imagens, como a caveira do personagem dos quadrinhos.

“Se os policiais não respeitarem a orientação, uma portaria pode ser editada pela Delegacia Geral, proibindo o uso dos símbolos. Isso teria mais peso proibitivo, pois acarretaria eventuais responsabilizações funcionais”, explicou Thais.

A advogada ressaltou que, por enquanto, entende que o documento distribuído pela Delegacia Geral é uma orientação. “Proibição, neste momento, é uma palavra muito pesada do que de fato é o documento: uma orientação”, afirmou.

O Justiceiro

Nas histórias de ação, O Justiceiro surgiu após o capitão do corpo de fuzileiros navais Frank Castiglione ir ao Central Park com a família, em Nova York. Durante o passeio, ele, a mulher e os dois filhos testemunham uma briga entre gangues rivais, resultando em um assassinato. Para não deixar testemunhas, os criminosos também atiram contra Castiglione e seus familiares. As informações constam no site oficial da Marvel.

O texto explica que milagrosamente o capitão sobrevive e, a partir de então, decide vingar a morte de seus familiares com sangue. Após encontrar e matar os envolvidos na morte de sua família, Castiglione decide continuar sua caça a criminosos. Como recursos, o anti-herói também pratica crimes como assassinatos em série, sequestros e torturas.

O personagem apareceu pela primeira vez em um quadrinho do Homem Aranha, em fevereiro de 1974. O escritor Gerry Conway o criou, em um primeiro momento, para ser um participante recorrente do HQ do Aranha. No entanto, sua aparição impactou público e crítica, fazendo O Justiceiro ser incorporado como anti-herói no universo Marvel.

A criação artística dele foi feita por Ross Andru e John Romita e contou com aprovação, à época, do lendário Stan Lee, quadrinista da Marvel morto em 2018, aos 95 anos.

Assim como nos quadrinhos, o personagem ( The Punisher, no título original) teve três versões para o cinema. A primeira, de 1989, Dolph Lundgre interpreta o Justiceiro. Em 2004, Thomas Jane fez a interpretação e em 2008, Ray Stevenson foi o protagonista em "O Justiceiro em Zona de Guerra". ​

Jon Bernthal em cena da série "The Punisher"
Jon Bernthal em cena da série "The Punisher" - Reprodução

A séries de ação e aventura "Marvel - O Justicero" tem duas temporadas disponíveis na Netflix, mas a terceira foi cancelada no ano passado. O cancelamento marca o fim da parceria da Netflix com a Marvel, que se iniciou em 2013. Naquele ano, as duas companhias anunciaram a produção de ao menos quatro séries originais.

Respostas

A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que os símbolos permitidos à Polícia Civil constam em um “manual de identidade visual” da instituição, disponível para todos os agentes na intranet. A pasta não se manifestou sobre a orientação dada para que agentes não usem caveiras nos uniformes.​

O Agora solicitou uma entrevista com a delegada Márcia Heloisa Mendonça Ruiz, por meio da SSP., porém a policial declinou do pedido.

A Marvel afirmou não ter sido procurada pela Polícia Civil para discutir um eventual uso de seus personagens pela corporação. “Para utilizar uma imagem oficial, por exemplo, é necessário que seja feito um licenciamento junto à Disney [detentora dos direitos da Marvel], que não faz licenciamento para governos, órgãos oficiais, etc”, afirma trecho de nota.

Erramos: o texto foi alterado

O delegado Carlos Alberto da Cunha é titular do Cerco (Central Especializada de Repressão ao Crime Organizado), a antiga Equipe de Intervenção Estratégica, da 8ª Delegacia Seccional, diferente do publicado na versão anterior desta reportagem. O texto foi corrigido.    

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