A polícia identificou e indiciou por omissão de socorro uma jovem de 21 anos que estava no carro que atropelou e matou a ciclista Marina Kohler Harkot, 28 anos, no início da madrugada do último dia 8, em Pinheiros (zona oeste da capital paulista).
Segundo o delegado Flávio Luiz Teixeira, titular do 14º DP (Pinheiros), Isabela Serafim prestou depoimento nesta quarta-feira (18), afirmando conhecer o microempresário José Maria da Costa Júnior, 33 anos, desde a infância. “Ela também disse ter visto ele beber antes de assumir o volante do veículo”, afirmou o policial.
A jovem disse à polícia que estava com o microempresário desde a noite que antecedeu ao atropelamento, que ocorreu por volta da meia-noite do dia 8, quando ambos e mais um homem, também já identificado, foram flagrados por câmeras de monitoramento indo até um bar na região de Vila Madalena, bairro boêmio da zona oeste paulistana.
No bar, segundo o delegado titular, foram comprados uma dose de uísque e energético —ambos constam na comanda de Júnior, que pagou R$ 50,28 pelas bebidas, de acordo com o policial. “Isso implica que o autor poderá ser indiciado por homicídio culposo [sem intenção] qualificado por ter bebido”, afirmou. A defesa do motorista nega que ele tenha bebido.
O advogado de defesa da jovem, Luiz Antonio Ferreira Nazareth Júnior, afirmou ter assumido o caso na noite desta terça-feira (17), quando entrou em contato com o 14º DP para que sua cliente prestasse depoimento.
“Ela disse que estava ao lado dele [motorista, no momento o atropelamento] e que pediu para ele parar o carro”, afirmou do defensor.
O advogado disse ainda que a cliente “está muito abalada” com o caso “e que lamenta” o atropelamento. “No momento do acidente, a rua não estava muito iluminada, segundo ela me falou. Então eles perceberam que houve a colisão, mas ficaram com medo de parar, pois pensaram que isso poderia ser uma suposta estratégia para um assalto.”
Sobre o fato de a jovem ter demorado para se apresentar à polícia, o defensor não soube explicar, pois foi constituído para o caso nesta terça. “Ela está à disposição da polícia e da Justiça, para ser ouvida outras vezes se precisar.”
Investigação
O motorista já havia sido indiciado por omissão de socorro e por homicídio culposo, mas sem a qualificação por ter supostamente ingerido bebida alcoólica, o que ocorreu nesta quarta. Com isso, o empresário pode ser condenado até oito anos de prisão, segundo o titular do 14º DP.
Na comanda que está com a polícia, segundo o delegado, consta que o suspeito pagou a conta às 23h06 do dia 7, pouco antes do atropelamento. Em seguida, Júnior saiu do bar em um Hyundai Tucson, ocupado também pela amiga e outro homem, que ainda não foi localizado.
O Hyundai foi multado após radar flagrar o veículo trafegando a mais de 90 km/h na avenida onde ocorreu o acidente, segundo a polícia. O limite de velocidade da via é de 50 km/h.
Após isso, segundo outras câmeras de monitoramento, o suspeito deixou o carro em um estacionamento, ao lado do prédio onde mora, na Consolação (centro). Em seguida, ele vai até seu apartamento, acompanhado da amiga que foi ouvida pela polícia nesta quarta. Junior sorri para a acompanhante, segundo as imagens do elevador.
Cerca de dez minutos depois, ambos retornam ao estacionamento, onde uma pessoa coberta por um pano pega algum objeto no carro de Júnior.
O microempresário teve o pedido de prisão preventiva negado pela Justiça, no último dia 13. A decisão seguiu a manifestação do Ministério Público pelo indeferimento da solicitação, feita pela Polícia Civil.
Ele se apresentou no 14º DP, no último dia 10, e se negou a prestar depoimento sobre o caso, sendo liberado em seguida.
O advogado José Miguel da Silva Júnior, defensor do microempresário, afirmou que seu cliente jamais negou ter ido ao bar antes do atropelamento. Porém, reiterou que ele não bebeu. "Na pior das hipóteses, se ele tivesse bebido [uma dose de uísque] não ficaria embriagado. Mas não estou falando que ele bebeu", disse.
Sobre o fato de constar a compra de uísque na comanda do microempresário, o advogado afirmou que o cliente pagou a bebida para pessoas que estavam com ele, sem especificar quem.
Informado sobre o depoimento da amiga, no qual ela afirma ter visto o microempresário consumir álcool, o defensor disse que a jovem teria afirmado isso pelo fato de “ter sido indiciada por omissão de socorro.”
Em entrevista ao Agora, a bióloga Maria Claudia Mibielli Kohler, 56, mãe da cicloativista, afirmou que a família vai brigar na Justiça para que Júnior seja responsabilizado.
O delegado titular do 14º DP afirmou que o atropelamento e a morte da cicloativista “estão totalmente resolvidos, sem nenhuma aresta.”
O titular ainda disse que o fato de o suspeito ter se negado a prestar depoimento, quando se apresentou na delegacia, seria uma estratégia para que a polícia não chegasse até a jovem ouvida nesta quarta.
O delegado acrescentou que havia combinado para que Júnior prestasse depoimento às 16h desta terça-feira (17). “Ele, além de não vir, nem ligou para justificar. Ele não ajudou em nada na investigação. Só ficou calado, não abriu a boca e tudo em que podia auxiliar, não auxiliou.”
"Estamos à disposição para que meu cliente preste depoimento na delegacia, desde que sejamos informados com antecedência”, afirmou o advogado de defesa sobre o não comparecimento citado pela polícia.
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