Qual a cara de um bairro? Pela Vila Buarque, região central, um projeto lançado na última semana pretende mostrar um pouco da identidade da vizinhança por meio dos rostos de 500 moradores e frequentadores da região.
Lançada inicialmente no Instagram, a exposição A Cara da Vila Buarque chegou às ruas do bairro em lambe-lambes. Os rostos foram colados lado a lado em comércios locais que cederam as fachadas.
"O projeto surgiu como uma forma de a gente se conhecer, se ver, se reconhecer no outro. A comunidade é feita de pessoas e para pessoas, e essa ação vem ao encontro disso", afirma Priscilla Torelli, uma das idealizadoras da exposição.
O projeto é fruto de um trabalho iniciado em 2008 pela artista visual Bia Ferrer. A ideia dela era mostrar a identidade de cada lugar por meio dos rostos de quem está por lá. Levar a ação para o bairro no centro de São Paulo, ela diz, surgiu no início da pandemia, e, por isso, pela primeira vez aconteceu de forma colaborativa.
"Vi que as pessoas estavam se ajudando muito e incentivando o comércio local. Pensei: já que as pessoas estão tão solidárias, que tal a gente descobrir a cara dessas pessoas?" A partir daí, foi aberto um chamado nas redes sociais para que as pessoas enviassem fotos de si --todos os que foram enviados foram utilizados.
A esses, foram somados retratos tirados por Bia de pessoas que não tiveram acesso ao chamado nas redes sociais. "A proposta era que a mostra fosse a mais democrática possível." Cerca de 50 das 500 fotos foram tiradas por ela.
O catarinense Bruno Ribeiro, 35, mora na capital paulista há 10 anos. Há três está na Vila Buarque, onde diz que, pela primeira vez, se encaixou na cidade. "Aqui as pessoas têm um senso de comunidade. Eu sentia falta disso", afirma o artista plástico, um dos retratados no projeto. "A gente se sente honrado em participar porque a gente não é 'ninguém', mas a gente passa a ser valorizado e a existir nos olhos do outro."
Representar o bairro, afirma o designer Victor Ivanon, 27, é "uma honra". "O projeto reflete na rotina do bairro, que é o de viver a vizinhança. Eu não só moro, eu vivo, existo, trabalho aqui." Para ele, a Vila Buarque é uma "micro cidade" onde todos se conhecem.
Os retratos foram colados em endereços nas ruas Bento Freitas, General Jardim, Jesuíno Pascoal e Doutor Vila Nova. Segundo as idealizadoras, o objetivo é que as pessoas caminhem pelas vias para observar a obra.
"Eu chamo isso de 'da rua para a rua'. É uma exposição ao ar livre, que as pessoas não precisam mudar o rumo para ver, está no no caminho dela, no dia a dia", afirma Bia. "O projeto eleva o cidadão ao status de arte: as pessoas se veem como integrantes de uma arte urbana", completa Priscilla.
A publicitária Lia Mendes, 35, é outra das retratadas. "Quem mandou [a foto] se identifica realmente com o bairro, não tem só o CEP aqui, são pessoas que você pode ver por aí." A esposa dela e um amigo vizinho também participam. "Achei incrível porque, além de ser a cara do bairro, é arte também, e acessível."
Projeto deve ser levado para outras vizinhanças
O projeto A Cara dos Lugares, idealizado pela artista visual Bia Ferrer, deve seguir para outros bairros de São Paulo, segundo a artista visual Bia Ferrer. A próxima vizinhança, segundo ela, deve ser o Pari.
Lá, a ideia é retratar os imigrantes de outros países que escolheram São Paulo para viver. Ainda não há data definida para o início da ação.
Outro endereço de São Paulo pelo qual o projeto passou foi a Barra Funda, em 2008. Lá, ela diz, a exposição ajudou até uma mulher a encontrar o próprio pai, que nunca tinha conhecido.
Segundo Bia, já foram expostos mais de 7 mil retratos em galerias e ruas de Nova York, Berlin, Barcelona e Rio de Janeiro.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.