Descrição de chapéu Coronavírus

Ciência paulistana mostra a sua força no combate ao coronavírus

Projetos e pesquisas desenvolvidos na cidade fazem a diferença na pandemia

São Paulo

A cidade de São Paulo chega aos 467 anos e reconhece, neste 25 de janeiro, o trabalho de profissionais e entidades que têm lutado ininterruptamente contra o coronavírus. São cientistas, médicos, profissionais da saúde e voluntários que, nos últimos meses, de uma forma ou de outra, impediram que a tragédia provocada pela pandemia fosse ainda maior.

Não é só pizza, pastel de feira, múltiplos sotaques e povos de todos os cantos do mundo que compõem a parte saborosa, bela e menos cinzenta de São Paulo. Quando o caldo engrossa, a ciência produzida na capital paulista também ajuda a fazer a diferença.

Seja com ação direta ou com projetos e pesquisas que tentam combater os efeitos do coronavírus, a USP (Universidade de São Paulo) tem se destacado como orgulho paulistano no conhecimento e inovação por meio de suas faculdades. Desde a identificação do Sars-CoV-2 até a testagem de máscaras mais eficientes contra a contaminação, a universidade contribuiu diretamente com a diminuição da mortalidade.

Quando a pandemia dava mostras de que chegaria para ficar, a universidade promoveu uma série de ações para integrar diversas áreas do conhecimento e abriu espaço, por meio do programa USP Vida, para receber doações da iniciativa privada e de pessoas físicas contra o vírus. “Foi uma minirrevolução de 1932”, diz o professor da Escola Politécnica Marcelo Zuffo, do Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas. Entre outras coisas, o grupo do qual faz parte produziu o Inspire, respirador de baixo custo.

Os trabalhos não ficaram restritos à produção de dispositivos ou tecnologia para abordagem a pacientes com Covid-19. Mais de cem pesquisas foram desenvolvidas entre as faculdades. Em economia e administração, por exemplo, calculou-se desde como o vírus se dissemina em meio à comunidade até o impacto da paralisação das atividades. Também foram estudados quais os fatores que impulsionam ou restringem a adoção de tecnologias digitais no ensino, em um momento em que alunos estão em casa.

O reitor da USP, Vahan Agopyan, disse que a cidade e seus moradores têm superado os desafios com a ciência, e lembrou uma curiosidade histórica. “No dia do aniversário de 380 anos da cidade de São Paulo, em 1934, o governo estadual resolveu presentear a sociedade paulista e brasileira com a criação da Universidade de São Paulo, reforçando a tradição deste município enquanto importante centro de ensino e pesquisa”, diz Agopyan.

Respirador de baixo custo vira solução

Com a explosão do número de pessoas internadas no mundo inteiro, respiradores viraram artigo de luxo, evaporaram no mercado, quase provocaram guerra comercial entre países e deixaram à mostra as deficiências dos sistemas de saúde.

Respirador desenvolvido pela USP com tecnologia nacional - Divulgação/Governo do Estado de Sao Paulo

Foi aí que a USP se mobilizou para apresentar uma solução de baixo custo e viável em curto prazo, por meio do Inspire, o equipamento de suporte respiratório que, hoje, está ajudando pacientes até em Manaus (AM). Na semana passada, com o colapso da Saúde na capital do Amazonas após a escassez de cilindros de oxigênio, o governo de São Paulo, sob gestão João Doria (PSDB), enviou 40
respiradores para lá.

Com tecnologia brasileira e ideal para usar em hospitais de campanha, o respirador da USP custa cerca de R$ 5.000, já com acessórios. Na média, um produto tradicional, importado, tem saído por R$ 60 mil, quando há para comprar. Olhar para fora da Cidade Universitária e ver o que São Paulo e o país precisam neste momento norteou o trabalho dos pesquisadores.

“A gente sabe que o mais importante não é só produção científica, mas o impacto transformador na sociedade. Qual diferença que a universidade faz na sua região, país e mundo? Essa realmente é uma pergunta feita e um dos qualificadores de impacto”, afirma o professor Marcelo Knörich Zuffo.

Ele também faz questão de agradecer aos mais de 1.100 doadores do programa USP Vida. Segundo o site da universidade, já foram doados mais de R$ 14 milhões em materiais e R$ 4,3 milhões em dinheiro. “A gente percebeu nessa história que o paulista é arredio, mas, quando acredita, ele vai pro pau”, afirma Zuffo.

​Cientistas têm papel de destaque no combate

O papel das cientistas mulheres também é destacado nos trabalhos desenvolvidos pela USP. A equipe da doutora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical, foi capaz de sequenciar o vírus em apenas 48 horas, ainda no início da pandemia, o que permitiu identificar exatamente a origem do coronavírus que veio parar aqui no Brasil.

Entre tantos bons exemplos, no Instituto de Biociências foi desenvolvido pela equipe da pesquisadora Maria Rita Passos-Bueno um exame capaz de detectar o coronavírus por meio da saliva, nada incômodo perto do RT-PCR, quando é enfiado “cotonete” (swab nasal) na narina da pessoa.

Peças foram compradas na Santa Ifigênia

Parte das peças usadas nos trabalhos do grupo da USP vem de um lugar bem paulistano, onde se encontra todo tipo de equipamento eletrônico. “A gente usou material da Santa Ifigênia”, diz o professor Marcelo Zuffo, que cita também serigrafia da Freguesia do Ó e produtos e serviços de diversas regiões da Grande São Paulo e cidades próximas da capital. “Temos uma frota de carrinhos levando para cima e para baixo, todo dia”, afirma.

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