O tenente-coronel da Polícia Militar Evanilson Correa de Souza, 50 anos, foi alvo de ofensas racistas, na tarde desta terça-feira (9), quando ministrava um seminário que abordava exatamente a intolerância racial, durante curso online promovido pelo Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo).
A vítima é presidente da comissão responsável pela revisão do Manual de Direitos Humanos da PM.
O oficial afirmou ao Agora, nesta quarta-feira (10), que após se apresentar para cerca de 200 alunos, que acompanhavam pela internet o curso Segurança Multidimensional nas Fronteiras, iniciou a apresentação de slides.
Quando comentava o teor do segundo slide aos alunos, um suposto hacker invadiu a plataforma de conversa em vídeo e começou a riscar a tela. “Pensei que tinha mexido no mouse, mas depois vi um “m” [escrito]”, explicou o policial.
O invasor escreveu na tela onde ocorria o curso a palavra “macaco” além de desenhar dois órgãos sexuais masculinos e um homem caído, como se estivesse morto. “Quando percebi isso, comentei com os alunos que havíamos sido invadidos e sofrido um ataque racista na tela.”
Além deste ataque, o coronel acrescentou que o hacker também invadiu o chat do curso, onde também escreveu palavras de cunho racista. “Todos presenciaram, ao vivo, um ataque de intolerância e ódio”, acrescentou o oficial.
Por fim, o coordenador do seminário suspendeu a apresentação e encaminhou novos links, para que os alunos entrassem em outra sala de aula online para dar continuidade ao curso.
“Racismo, qualquer homem e mulher preto no Brasil já sofreu, de formas maiores ou mais veladas. Mas da forma que ocorreu [no curso online] nunca havia acontecido comigo”, desabafou o policial.
Um boletim de ocorrência de invasão de dispositivo informático e de preconceito racial consumado foi registrado no 14º DP (Pinheiros), que trabalha para identificar quem teria realizado os ataques racistas.
Polícia Militar
A PM repudiou o ataque sofrido pelo tenente-coronel, que segundo a corporação foi convidado para realizar a palestra por ser membro do grupo revisor do Manual de Direitos Humanos da PM e “profundo conhecedor da matéria.”
“Assim, a Polícia Militar se solidariza à vítima e reforça sua posição contra toda forma de discriminação étnico-racial e na missão perene de promover os Direitos Humanos no estado”, diz trecho de nota, compartilhada em redes sociais.
A corporação acrescentou prestar apoio ao oficial, disponibilizando atendimento psicológico caso ele sinta necessidade. A PM disse ainda acompanhar as investigações da Polícia Civil.
USP
A USP (Universidade de São Paulo) repudiou o ataque sofrido pelo oficial da PM, classificado pela instituição de ensino como "inaceitável", ferindo os princípios constitucionais "da honra e dignidade da pessoa humana."
A universidade destacou que o PM é coordenador do Programa de Combate ao Racismo da Polícia Militar de São Paulo. "O convidado iria fazer uma exposição sobre o programa e os desafios para o combate ao racismo no contexto da atividade policial", diz trecho de nota.
Os coordenadores do curso enviaram denúncia ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). O caso, porém, foi registrado e será investigado pelo 14º DP.
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