Escolas municipais de SP ficam sem equipes de limpeza às vésperas da volta às aulas

Fim de contrato com empresas terceirizadas atinge pelo menos 12 colégios da rede municipal da capital paulista

Gabriela Bonin Fábio Munhoz
São Paulo

Às vésperas do início das aulas presenciais, na próxima segunda-feira (15), escolas da rede municipal de São Paulo estão sem equipes de limpeza e material de higiene, por causa de contratos com empresas prestadoras de serviço que não foram renovados.

O encerramento do contrato no início de fevereiro afeta ao menos 12 escolas, segundo o presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), Claudio Fonseca.

Questionada sobre quantas escolas estão sem contrato e quanto a situação vai se normalizar, a Secretaria Municipal da Saúde afirmou em nota apenas que o contrato das escolas chegou ao fim e um novo será assinado. Mas não informa se os colégios estarão com equipes de limpeza na segunda e quantas unidades estão na mesma situação.

Em uma escola municipal na zona leste, professores e funcionários foram informados sobre a saída da equipe terceirizada durante uma reunião nesta quarta-feira (10). Os docentes, que já tinham agendado ir até a unidade de ensino para preparar o local para as aulas, fizeram apenas encontros online nesta quinta (11).

"Precisamos fazer as demarcações obrigatórias para o distanciamento social nas salas, higienizar e esterilizar os espaços", afirma uma professora que dá aulas no ensino fundamental. "Sem equipe de limpeza, é inviável estarmos na escola. Mesmo que uma equipe chegue na segunda-feira, não vamos dar conta de receber estes alunos às 7h."

Sala de aula de escola municipal de São Paulo; volta do ensino municipal está prevista para segunda-feira, mas algumas unidades estão sem serviço de limpeza - Divulgação - 5.out.20/Prefeitura de SP

"Os dispensers de sabonete dos banheiros, por exemplo, foram todos levados embora [pela empresa que não renovou o contrato", diz a professora. A higienização das mãos faz parte das diretrizes do protocolo de volta às aulas da Secretaria Municipal de Educação.

Em grupos de docentes e funcionários nas redes sociais, não há consenso sobre qual será a postura adotada na segunda-feira. "Não podemos receber as crianças na escola dessa maneira, porque é um perigo sanitário em meio a uma pandemia", argumenta a professora da escola na zona leste.

As entidades que representam os profissionais de educação da rede municipal planejam até iniciar uma paralisação na segunda. Além do Sinpeem, apoiam a decisão o Sindesp (Sindicato dos Servidores Municipais), Sinesp (Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal), Sedin (Sindicato dos Educadores da Infância) e Aprofem (Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais).

"A situação da falta de equipe de limpeza não é algo isolado de uma ou outra escola. Em algumas, há falta também de professores. Não há condições de retomar as aulas agora", diz Fonseca

As associações reivindicam o trabalho remoto de todos os profissionais da educação "até haver segurança sanitária para o retorno presencial".

Especialista diz que faltou planejamento

A professora Anna Helena Altenfelder, presidente do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), afirma que o poder público não fez um planejamento adequado para a retomada presencial das aulas, mesmo depois de tantos meses em que as escolas ficaram fechadas na quarentena.

"A pandemia acaba escancarando situações que já aconteciam antes e já eram inaceitáveis e que nesse contexto ficam ainda mais graves", diz a especialista, a respeito de problemas enfrentados pelos alunos na volta às aulas.

Escolas da rede estadual foram reabertas na última segunda-feira (8) com problemas de estrutura na capital paulista, como falta de luz, condições de ventilação e circulação de ar, além de mato alto.

"A manutenção já era uma agenda prioritária e importante e as condições físicas de algumas escolas já eram inadmissíveis. O espaço também educa: se estiver degradado e sem os cuidados necessários, que mensagem ele passa no sentido de acolhimento, respeito e garantias de direito? O cuidado com o espaço escolar deveria ter sido priorizado antes da pandemia", comenta Anna.

A especialista considera que os cuidados com a infraestrutura deveriam ter sido priorizados durante o fechamento dos colégios, principalmente porque as obras em escolas, geralmente, são feitas em momentos em que não há alunos, por motivos de segurança.

Sobre a questão dos contratos para limpeza, Anna disse não conhecer detalhes específicos da situação, mas afirmou que as prefeituras podem utilizar recursos como prorrogações e aditivos contratuais justamente para que não se corra o risco de ficar sem o serviço.

Resposta

Em nota, a Secretaria Municipal da Educação confirma que o contrato para as escolas citadas "chegou ao fim" e, sem especificar data, diz que "um novo será assinado". Por telefone, a assessoria de imprensa da pasta afirmou que "a expectativa" é de que, na segunda-feira (15), os novos contratos já estejam vigentes.

A pasta também não informou o número exato de unidades de ensino que estão com os contratos de limpeza sendo encerrados.

"Desde 2017 a pasta está adequando seus contratos, baseando-se em critérios técnicos, como os Estudos Técnicos de Serviços Terceirizados do Governo do Estado de São Paulo – CadTerc. A Pasta utiliza a metodologia em contratos desde 2020 para se enquadrar na legislação vigente (Lei n° 17.273)", acrescenta a secretaria.

Procurado, o TCM (Tribunal de Contas do Município) diz que está "levantando dados sobre o tema junto às relatorias".

Veja as escolas que estão com os contratos sendo encerrados

EMEF Professora Nilce Cruz Figueiredo - Lauzane Paulista (zona norte)
EMEFM Antônio Sampaio - Santana (zona norte)
CEI Parque Novo Mundo - Parque Novo Mundo (zona norte)
EMEI Ana Neri - Parque Novo Mundo (zona norte)
EMEFM Professor Derville Allegretti - Santana (zona norte)
EMEF Padre Antônio Vieira - Artur Alvim (zona leste)
EMEF José Bonifácio - Cidade Patriarca (zona leste)
CEI Parque das Paineiras - Parque das Paineiras (zona leste)
CEI Edna Rosely Alves - Jardim Coimbra (zona leste)
EMEI Maria Lacerda de Moura - Vila Dalila (zona leste)
EMEF Irineu Marinho - Vila Prudente (zona leste)
EMEF Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz - Pedreira (zona sul)

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