Voltaire de Souza: A idade não importa

Voltaire de Souza

Festas. Baladas. Aglomerações.
Muitos jovens não ligam para o vírus.
Enquanto isso, a crise aperta.
Terezinha deu a notícia para a família.
—Minha mãe vem morar com a gente.
Aos 74 anos, dona Lélia não podia mais pagar o aluguel.
Terezinha chamou o filho.
—Téo… sua avó já tem idade…
O rapaz não tirou os olhos do celular.
—Hã.
—Se ela se contaminar…
—O que é que tem?
—Pode morrer, sabia?
A conclusão era clara.
—Melhor você não sair tanto de noite.
Téo frequentava bares na Vila Madalena.
—Não é problema meu.
Ele explicava.
—Se a prefeitura não fiscaliza… ué.
Avisaram pelo interfone.
Dona Lélia chegava com alguns caixotes.
—Peguei só o essencial.
Ela parecia feliz.
—Cansei de ficar sozinha.
Naquela noite, Terezinha reforçou.
—Por ela, Téo… fica em casa.
O rapaz já estava com a chave do carro.
—Até parece.
Ele acelerou o Honda Fit no rumo da noitada.
Foi quando ele ouviu a tossinha no banco de trás.
—Téo… vai ser funk? Porque eu prefiro sertanejo.
—Vamos nessa, vó.
—Botando pra quebrar.
A juventude é um estado de espírito.
Mas no país das ampolas vazias, não há idade para ter a cabeça oca.

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