A falta de leitos dos hospitais públicos da cidade de São Paulo para tratar pacientes com o novo coronavírus está fazendo com que as administrações desses locais improvisem espaços, nem sempre adequados, para receber os doentes.
Sem ter leito para atender sete mulheres que testaram positivo para Covid-19, e uma oitava, que ainda aguarda resultado de teste, a direção do Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste), as colocou em leitos instalados em dois quartos do setor da maternidade na última quarta-feira (4), segundo funcionários.
A prefeitura admitiu que houve transferência temporária, mas de apenas dois pacientes se, citar se foram para a maternidade.
Funcionários disseram que a situação colocou em risco as gestantes e bebês que estavam em outros quartos, tanto pela proximidade entre os quartos ocupados pelas pacientes de Covid-19, quanto pelo fato de o setor contar com apenas um posto de enfermagem para atender o andar.
As sete pacientes com Covid-19 e a mulher que apresentava sintomas mas ainda não teve a confirmação pelo exame, foram remanejadas para leitos da clínica médica e observação no final da tarde desta quinta-feira, após a reportagem questionar a Secretaria Municipal de Saúde sobre o caso.
Um funcionário afirmou que administração do hospital chegou a pedir a transferência das pacientes para outras unidades de saúde, porém, não foram localizadas vagas disponíveis.
A notícia de que a maternidade do hospital abrigou pacientes com Covid-19 foi recebida com espanto por um médico de outro setor.
Segundo afirmou à reportagem, na condição de anonimato, tal situação poderia colocar em risco os bebês com imunidade mais baixa, que, se fossem contaminados, poderiam ficar mais vulneráveis ainda.
Transferência temporária
A Secretaria Municipal da Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que vem realizando remanejamento de leitos no Tide Setubal para ampliar o atendimento de casos de CoviD-19, mas não fala se são para maternidade.
Segundo a pasta, na quarta-feira (3), durante remanejamento de novos leitos, dois pacientes foram transferidos temporariamente e ficaram em dois quartos isolados, sem contato com os outros pacientes, sendo encaminhados depois para a ala de Covid-19. "Os quartos receberam a limpeza especializada para desinfecção", afirma. (CF)
Zona sul
Para fazer frente à alta demanda, a Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), disse nesta quinta-feira (4) que criou 200 leitos para pacientes de Covid-19 no hospital municipal Doutor Moysés Deutsch, mais conhecido como hospital do M'Boi Mirim (zona sul). Serão 70 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), e outros 160 de enfermaria. Esses leitos já existiam e foram adaptados.
Boletim da Secretaria da Saúde apontou que nesta quinta a cidade estava com 77% de taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) e 76% de taxa de ocupação de enfermaria.
Congestionamento de ambulâncias
Desde segunda-feira (1º), funcionários do hospital percebem um movimento atípico no estacionamento: o de congestionamento de ambulâncias trazendo pacientes com Covid-19.
Um motorista, que transportava uma pessoa com complicações e que aparentava sentir dores, chegou a discutir com funcionários do hospital. A resposta que obteve, segundo contou à reportagem, na condição de anonimato, foi a de que não havia leitos disponíveis, e que estavam remanejando pacientes para poder receber novos doentes.
Dados da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp, indicam que nos últimos sete dias o Vila Alpina registrou alta de 55,17% no número de internações na UTI (unidade de terapia intensiva), destinada a pacientes mais graves, e de 65,52% na enfermaria.
Funcionários dizem que o hospital está operando acima do limite de sua capacidade e que não é possível receber pacientes.
Resposta
A Secretaria de Estado da Saúde, gestão João Doria (PSDB), diz que não há movimentação atípica de ambulâncias e que o hospital Vila Alpina opera com protocolos e fluxos organizados para recebimento e desembarque de pacientes.
"O hospital tem quadro clínico completo com mais de 1.200 médicos e profissionais de enfermagem para garantir assistência", diz. Ainda segundo a pasta, a unidade dispõe de 20 leitos de UTI e 36 de enfermaria dedicados a atender pacientes de Covid-19.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.