O vacinômetro, ferramenta que permite o acompanhamento em tempo real do número de vacinados no estado contra a Covid-19, mostra que as cidades com mais idosos e a distribuição de vacinas fazem o diferencial no ranking.
Na liderança do ranking está Flora Rica, distante 620 km a oeste de São Paulo, onde 33,2% da população já foi vacinada até as 13h desta terça-feira. A situação confortável da cidade permite adiantar a vacinação do público-alvo. Atualmente, aquelas com 61 anos já estão sendo imunizadas. No estado, começou a imunização das pessoas com 67.
Natália Lacerda Redivo Vilar, 32 anos, secretária municipal de Saúde de Flora Rica, diz que, pelo tamanho da cidade, foi possível se organizar melhor na imunização. Para evitar deslocamentos, aqueles com 70 anos de idade foram vacinados em suas casas. "Temos cobertura de 100% do PSF [Programa de Saúde da Família] e fazemos busca ativa", afirma a secretária.
Apenas Serrana vacinou mais que Flora Rica, mas cidade foi alvo de um estudo inédito que tem como objetivo analisar qual o impacto da medida na contenção do novo coronavírus. Dos 45.644 habitantes, 29.305 (64,2%) do total foram imunizados.
Águas de São Pedro, distante 184 km de São Paulo, está em 5º lugar no ranking, com 25,3% de taxa de imunização. Além da cidade concentrar 24,9% de sua população acima de 60 anos, a estratégia adotada pela prefeitura é a de aplicar os imunizantes assim que eles chegam. Para conscientizar a população a respeito da importância da vacinação, um carro de som percorre a cidade com informativos para que as pessoas que estão no alvo da atual campanha busquem a vacinação.
Cidades com mais idosos em vantagem
Cidades que concentram uma alta taxa de idosos, como no caso de Santos (72 km de SP) e São Caetano do Sul (ABC), acabam recebendo mais doses de vacinas e figuram constantemente nas primeiras posições.
Santos tem 22,3% de sua população acima de 60 anos, e São Caetano, 23,1%, segundo dados do IBGE. Pessoas com mais idade foram são o público prioritário na fila da vacinação.
Às 13h desta terça (13), Santos ocupava a 20ª colocação, com taxa de vacinação de 20,3%. Já São Caetano, que vacinou 21,8% de sua população, o 14º posto.
"Claro que a população sendo idosa, temos uma vantagem quanto a isso, porque recebemos mais vacinas do que alguns municípios", diz Adriano Catapreta, secretário de Saúde de Santos. Ele também credita esse desempenho ao reforço das equipes, infraestrutura e ainda a busca ativa, feita por telefone ou com a ida dos agentes de saúde até a casa das pessoas.
Segundo a secretária de Saúde de São Caetano do Sul, Regina Maura Zetone, além de possuir uma das mais altas taxas de idosos do estado, um dos fatores que explicam essa alta taxa é a infraestrutura existente e programas de saúde da família e vacinação em domicílio para os acamados e também para quem possui mobilidade reduzida.
Reavaliação
Última colocada na lista, Itaquaquecetuba (Grande SP) imunizou apenas 5,1% de seus moradores até as 13h desta terça-feira (13). Segundo a prefeitura, outras cidades com o número populacional parecido recebem o dobro de vacinas. "Essa discrepância em número de vacinas recebidas versus número populacional fez com que o município ficasse em último lugar no ranking. A prefeitura vai solicitar ao estado que faça uma reavaliação no parâmetro usado", afirma a nota. Dados do governo estadual indicam que a cidade de Itaquaquecetuba recebeu um total de 35.324 doses de vacina. Desse total, utilizou 26.205 (74,18%).
Outros fatores influenciam as últimas da lista, tais como população flutuante, como por exemplo a dos presídios. Entre elas está Balbinos, distante 400km da capital, que está na "vice-lanterna” do ranking de vacinação na 644ª posição, com apenas 5,3% de taxa de imunização. A cidade tem apenas 8,3% de sua população com 60 anos ou mais.
Agente penitenciário licenciado para ocupar o cargo de prefeito, Benedito Jackson Balancieri (PSDB), credita a situação à população dos dois presídios instalados na cidade, que, juntos, somam 2.932 detentos, quase metade dos 5.934 moradores do município. “Vixe, tá ruim é? Bem, aqui eu tenho quase mais presos do que moradores da cidade. Aí fica difícil mesmo. Sem a população carcerária não estaria nessa posição aí não”, afirmou.
Os presos entram na contagem oficial pelo fato dos locais onde estão serem considerados “domicílios coletivos”, assim como acontece com asilos, orfanatos, e quartéis, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A situação de Balbinos não é única e acontece também em Pracinha (a 575km de São Paulo). A cidade só havia vacinado até as 12h desta terça-feira (12) 242 dos seus 4.212 moradores, numa taxa de 5,7% de índice de imunização. Assim como Balbinos, Pracinha tem uma penitenciária, onde estão detidas 1.429 pessoas. Outro fator que faz com que a cidade ocupe a 643ª posição no ranking paulista é o fato de possuir 9,9% de sua população acima de 60 anos.
Números podem ter influências
Segundo a epidemiologista Ana Paula Sayuri Sato, da Faculdade de Saúde Pública da USP, a forma como os dados são apresentados no Vacinômetro –que faz o cálculo das doses aplicadas usando como denominador a população total– não indica a cobertura vacinal, já que pode sofrer influência de outros fatores que envolvem questões como tamanho do município, população do público-alvo e flutuante (como no caso dos presídios).
“O ideal seria o denominador da população público-alvo e demais grupos prioritários. Mas esse é um denominador mais difícil. Esse dado não está errado, é o que temos no momento”, afirma.
Marcio Nehab, autor de um estudo da Fiocruz que analisou as práticas de imunização, defende que a vacinação seja nominal. “Assim é possível individualizar e saber quem do público-alvo foi imunizado. Da forma como é apresentado [o Vacinômetro] pode não ter muita precisão, embora seja melhor ter esse dado do que nenhum”, afirmou.
O próprio criador do ranking, o governo estadual, afirmou que ele pode ter problemas. Em ofício enviado ao procurador-Geral de SP, Mário Sarrubbo, o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn afirmou que 70 municípios do estado de São Paulo deixaram de informar no sistema do governo estadual o andamento da aplicação das vacinas contra a Covid-19.
Isso “dá margem a questionamentos sobre fraude na vacinação, o que redunda em indícios de improbidade administrativa”, escreveu o secretário.
Aldeia indígena
A estratégia de 100% de cobertura do PSF e ter vacinado as pessoas mais idosas em suas casas é a também a resposta para que Arco-Íris, a 532 km de São Paulo, ocupe a 3ª posição no ranking estadual, segundo a secretária de Saúde do município, Maria Benedita de Araújo Vallim Fernandes. A quantidade de arcoirenses que já receberam a vacina contra a Covid-19 é 27,1% da população.
Outros dois fatores também explicam esse bom desempenho: a taxa de 17,6% de idosos e uma aldeia indígena, que reúne 12,5% dos moradores. “Cumprir a meta de vacinar 100% da população indígena e profissionais de saúde e quase que a totalidade de idosos interferiu diretamente nesses indicadores”, afirma Maria Benedita.
Dinâmica
Os dados do vacinômetro são alimentados quatro vezes ao dia: às 9h, 12h, 15h e 18h. Com isso, cidades que figuram em último lugar ou no topo da lista podem mudar de posição.
É o caso de Itapevi, na região metropolitana. Nesta terça-feira (6) às 13h, a prefeitura figurava no 641º lugar no ranking, com 6,1% do total. Itapevi é a terceira idade do estado com menor proporção de número de idosos em relação à população total (6,4%).
Em nota a prefeitura informou possuir um percentual menor de idosos em relação às primeiras colocadas no ranking e que o ranking deveria ter sido construído com base no número de habitantes dos grupos autorizados a serem vacinados.
“O ranking criado com base no número total de habitantes em comparação ao número de vacinados induz à leitura equivocada que a cidade está vacinando menos ou de forma lenta”, informa o texto.
Situação similar ocorre em outras cidades da região metropolitana que também figuram na parte debaixo do ranking, tais como Jandira (639º). A Prefeitura de Jandira informou em nota que o ritmo de vacinação não está lento e que está seguindo a determinação dos grupos prioritários e que está vacinando dentro do esperado. A cidade é a penúltima do estado com menor proporção de idosos em relação a população total: 6,3%.
Outro lado
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde, gestão João Doria (PSDB), informou que a campanha de vacinação contra a Covid-19 tem como referência o número de pessoas imunizadas contra a gripe de 2020 indicado no PNI (Programa Nacional de Imunizações). Nessa lógica, o Ministério da Saúde utiliza estes dados para envio aos Estados, e o mesmo ocorre em SP para redistribuição às prefeituras.
Ainda segundo o estado, o envio das doses segue as faixas etárias e públicos definidos no PEI (Programa Estadual de Imunização), e o ranking das cidades que mais vacinaram baseia-se nas estatísticas de população absoluta do IBGE.
A organização da campanha, distribuição de doses e aplicação na população cabe às prefeituras, segundo a secretaria estadual de Saúde. E são as próprias prefeituras que alimentam os dados da plataforma com os vacinados nos municípios, para, segundo o governo estadual, dar transparência à população e ajudar no monitoramento do ritmo de vacinação.
Ranking da vacinação
8.099.199 - é o total de doses já aplicadas
5.690.947 - primeira dose
2.408.252 - segunda dose
As 5 que mais vacinaram
Posição |
Cidade |
Doses (*) |
População |
% em relação a população |
Taxa de pessoas 60+ (**) |
1º |
Serrana (***) |
29.322 |
45.644 |
64,2 |
- |
2ª |
Flora Rica |
475 |
1.430 |
33,2 |
20,7 |
3ª |
Arco-Íris |
480 |
1.773 |
27,1 |
17,6 |
4ª |
Turmalina |
446 |
1.696 |
26,3 |
21,4 |
5ª |
Águas de São Pedro |
891 |
3.521 |
25,3 |
24,9 |
6ª |
Santana da Ponte Pensa |
361 |
1.467 |
24,6 |
22,6 |
As 5 que menos vacinaram
Posição |
Cidade |
Doses (*) |
População |
% em relação a população |
Taxa de pessoas 60+ (**) |
641 |
Itapevi |
14.766 |
240.961 |
6,1 |
6,4 |
642 |
Palmares Paulista |
776 |
143.486 |
5,8 |
7,2 |
643 |
Pracinha |
242 |
4.212 |
5,7 |
8,3 |
644 |
Balbinos |
316 |
5.934 |
5,3 |
6,4 |
645 |
Itaquaquecetuba |
18.992 |
375.011 |
5,1 |
6,2 |
Fontes: Secretaria Estadual da Saúde e IBGE (*)
(*) dados se referem ao consolidado da primeira dose (D1)
(***) cidade que foi alvo de um estudo inédito que tem como objetivo analisar qual o impacto da medida na contenção do novo coronavírus
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