Descrição de chapéu Coronavírus

Dia das Mães fica mais especial após gestantes vencerem a Covid

Mesmo na UTI, mulheres encontraram forças para superar o drama causado pelo vírus na gestação

São Paulo

Eram 23h22 do dia 28 de dezembro quando Isabella veio ao mundo. Ela nasceu prematura, com somente 34 semanas, 2,070 quilos e 42 centímetros. Enquanto o planeta se preparava para o Ano-Novo, sua mãe, a psicóloga Thais de Morais Escudeiro Scicchitano, 40 anos, lutava contra um quadro grave de Covid-19.

Em dezembro, após um episódio de tosse, Thais testou positivo para o coronavírus. Nos primeiros dias, não sentiu outros sintomas. "No Natal eu tive uma dor no meio das costas. Senti que a bebê estava mexendo um pouco menos e resolvi ir para o hospital", conta Thais, que mora no Tatuapé (zona leste de São Paulo).

No hospital, sua saturação de oxigênio era de 98%. Apesar de se sentir bem, uma tomografia revelou que seus pulmões estavam com cerca de 50% de comprometimento. "Aí já me internaram na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] para ficar no oxigênio", lembra.

Nos dias seguintes, Thais seguiu estável, mas piorou na manhã do dia 28, quando sentiu falta de ar e a saturação caiu para 89%. "Foi aquele desespero. Disseram que talvez tivessem que fazer o parto naquela hora."

A psicóloga Thais Escudeiro, 40 anos, com a filha Isabella, que nasceu após 34 semanas de gestação, enquanto a mãe estava na UTI com Covid - Ronny Santos/Folhapress

A psicóloga continuou piorando ao longo do dia e, quando chegou à noite, a equipe optou por fazer o parto. Assim que foi intubada, teve início a cesárea, que, segundo os médicos, foi feita em apenas três minutos. Após o nascimento prematuro, Isabella foi para a UTI neonatal e Thais voltou para o leito de terapia intensiva.

"Quando fui extubada, a primeira coisa que perguntei foi sobre a minha filha", recorda. "Fui conhecê-la 15 dias depois. No dia que eu tive alta, passei na UTI para pegar a Isabella. A primeira sensação foi estranha, por não ter visto nascer. Pensei: 'será que trocaram minha filha?' Mas ela é a cara do meu marido."

Hoje com quatro meses, Isabella está em casa com a mãe. "Ela está ótima, super saudável. Cresceu bem, está gordinha, é esperta e não dá muito trabalho", orgulha-se. "Ela é uma benção, uma lutadora", destaca.

Apesar de tudo ter ficado bem, Thais, que também trabalha como doula, lamenta o fato de não ter podido fazer um parto humanizado. "Eu planejei tudo para começar [o parto] em casa e ir para o hospital quando tivesse a dilatação adequada. Ia ser lindo. Mas, no fim, meu marido nem pôde entrar na sala de cirurgia. Foi bem diferente do que sonhamos", afirma.

"O vírus roubou minha gestação. Não tive ensaio de gestante e nem chá de bebê virtual. Não consegui sequer terminar de comprar o enxoval", desabafa.

'Foi o nascimento do Gabriel e o meu renascimento'

Moradora de Santo André (ABC), a comerciante Roneide Rosa, 39 anos, estava no sétimo mês de gestação quando contraiu a Covid-19. Ela testou positivo para o coronavírus no dia 1º de abril. Após o diagnóstico, foi orientada a ficar em casa para cuidar dos sintomas.

"Dali em diante eu só fui tendo piora", diz. No dia 8 de abril, diante do agravamento do quadro, ela foi ao Hospital da Mulher, que é referência para o tratamento de gestantes com a Covid-19 no município. Além da febre, tosse e falta de ar, Roneide estava vomitando com frequência.

Roneide Rosa, 39 anos, estava no sétimo mês de gestação quando contraiu a Covid-19 - Arquivo pessoal

No momento em que recebeu a notícia de que teria de ser intubada, o sentimento foi de desespero.
"Os exames mostraram que o bebê estava com um comprometimento. Então, optei por fazer a cesárea, pois ele poderia morrer", conta o médico obstetra Jorge Zamboni, que fez a cirurgia em Roneide.

Após oito dias intubada, ela revela que, ao retomar a consciência, logo pensou no filho. "A primeira coisa que eu fiz foi passar a mão na barriga e perguntar do bebê. Foi automático", lembra.

Com 30 semanas, Gabriel nasceu com 1 quilo e 400 gramas às 16h35 do dia 14 de abril. Por ter nascido prematuro e muito abaixo do peso ideal, ele teve de ficar na UTI neonatal, onde ainda se encontra. A expectativa é de que o bebê possa ir para casa daqui a aproximadamente três semanas.

"Além do nascimento do Gabriel, essa experiência toda foi como um renascimento para mim", resume Roneide.

'Fiquei apavorada quando descobri que deu positivo'

Mesmo tendo tomado todos os cuidados para se prevenir contra o coronavírus, a empresária Renata Bicov, 33 anos, testou positivo para a Covid-19 no ano passado. Na ocasião, ela estava grávida de 34 semanas.

"Eu fiquei apavorada quando descobri que estava com a doença. Chorei muito, porque a gente não sabia quais eram os impactos da Covid em uma gravidez. Eu fiquei com medo", lembra Renata.

Ela decidiu fazer o teste depois que seu marido teve dores de cabeça. "Ele nunca tinha tido dor de cabeça em dez anos. Eu achei esquisito. Ele foi para o hospital, fez o teste e deu positivo. No dia seguinte eu também tive dor de cabeça e um pouquinho de febre. Aí eu já sabia que eu estava [com a doença]."

Após passar por um infectologista e comprovar o diagnóstico, ela ficou em acompanhamento, mas não teve outros sintomas. "Depois de duas semanas, eu repeti os exames e estava tudo certo", lembra.

Apesar do susto, a gestação foi completada sem intercorrências. Seu filho, Greg, nasceu em 11 de fevereiro e em parto normal, que era o desejo de Renata.

Doença eleva risco de parto prematuro

A presença do vírus no organismo das grávidas eleva o risco de parto prematuro, segundo o ginecologista e obstetra Claudio Bonduki, do HCor e da Unifesp.

"A gestante tem alterações da parte funcional do organismo. São alterações metabólicas, circulatórias e imunológica. Por isso, acabam ficando um pouco mais predispostas a pegar infecção e ter uma evolução desfavorável", diz o médico.

Essas alterações podem fazer com que haja necessidade de interrupção da gravidez para garantir segurança da mulher e da criança.

De acordo com Bonduki, porém, estudos mostram que não ocorre transmissão do vírus da mãe para o filho por meio da placenta.

"A Covid na gravidez é um fator preocupante, pois a mãe, além de empreender energias para gerar outra vida, também tem que destinar energias para combater o vírus", explica Rosana Pereira Madeira Grasso, diretora-geral do Hospital da Mulher de Santo André.

SP começa a vacinar grávidas no dia 11

A vacinação para as grávidas e as puérperas (até 45 dias depois do parto) com comorbidades, e acima dos 18 anos, começa na próxima terça-feira (11) em São Paulo, segundo o calendário do governo estadual, sob gestão João Doria (PSDB). Pela estimativa, são 100 mil mulheres nessas condições em todo o estado.

No caso de gestantes sem doenças pré-existentes, o Ministério da Saúde recomenda que a mulher passe por uma avaliação com o seu médico e aguarde a ordem dos grupos prioritários estabelecida pelo Plano Nacional de Imunização.

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