Descrição de chapéu Coronavírus

Febre nas baladas, narguilé preocupa mais na pandemia

Cachimbo aromatizado é usado por jovens em festas e pode ser fonte de transmissão do vírus

São Paulo

Usar narguilé é sinônimo de socialização, de “resenha” e diversão entre os jovens. Mas as baforadas em ambientes fechados, compartilhados com muitas pessoas, são também motivo de preocupação para autoridades de saúde e para a fiscalização durante a pandemia da Covid-19.

Blitze têm flagrado baladas clandestinas em lounges de narguilés, com bandas, DJs e centenas de pessoas aglomeradas. São espaços onde a máscara é acessório inexistente.

O vendedor Bruno Ferreira Silva, 22 anos, já chegou a frequentar baladas na pandemia com mais de cem pessoas. “Você está no meio da galera, é pelo ar. Lógico que fiquei com medo”, afirma Silva. Ele diz, porém, que agora só vapora em casa e não vai a festas.

Quem se diverte com narguilé conhece pequenos lugares onde se monta rosh para alugar por R$ 30 a “dose”, compartilhando a fumaça e o espaço fechado.

Para Leonardo da Silva Alves, 20, o narguilé faz parte do trabalho e da diversão. Ele é vendedor do produto na região da 25 de Março e consome com os amigos em casa, usando piteiras individuais para não passar de boca em boca.

“É arriscado, mas fazemos sempre com as mesmas pessoas. De qualquer jeito, estaria rodeado delas, então não tem problema.”

O vendedor Leonardo da Silva Alves, 20 anos, usa narguilé em sua casa, na zona leste de SP; ele trabalha em uma loja de narguilé na região central - Rubens Cavallari/Folhapress

Já o atendente Pablo Pereira, 21 anos, diz fugir de eventos clandestinos e aderiu ao que considera “redução de danos” com aquilo que gosta: o “vape”, individual, com o funcionamento parecido com o do cigarro eletrônico.

“É um vapor, não fumaça. Vai se desfazer”, afirma. “Não saio faz tempo. Vejo os vídeos [de clandestinos] dos amigos e nem comento, não falo nada.”

Pneumologistas dizem que é inseguro

Pneumologistas afirmam que não há maneira segura de se consumir narguilé, individualmente e muito menos em grupo. Piteiras higiênicas, descartáveis, vape ou uso compartilhado com pessoas do círculo próximo são vistos como insuficientes para evitar a contaminação pelo coronavírus.

“É altamente não recomendável. Tem que estar sem máscara para usar e a transmissão é diretamente relacionada ao ambiente. Pouco importa trocar piteira ou não compartilhar, porque a transmissão se dá pelo ar”, diz a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo.

Ela explica que a concentração de fumaça tóxica para os pulmões é muito grande. “São substâncias causadoras de DPOC [Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica]. É algo catastrófico”, diz.

Margareth lembra que a taxa de transmissão no momento é altíssima e pessoas mais jovens estão ficando doentes. “Jovens manifestam sinais de uma certa valentia inocente. Uma falta de consciência coletiva, de colaboração e solidariedade.”

Professor da FMUSP e diretor da divisão de pneumologia do Incor, Carlos Carvalho diz que, fora o risco evidente de transmissão do coronavírus, o uso dessas substâncias é muito nocivo para o indivíduo. “É um grande problema de saúde que deve piorar ainda mais.”

Ele diz que empresas vendem a ideia de malefício menor que o do cigarro, algo equivocado. “São formadas substâncias que sofreram combustão inadequada. Inala uma quantidade maior de potenciais poluentes nocivos.”

A modelo Marquieli Sigolin, 28 anos, fuma narguilé em sua residência, na região dos Jardins (zona oeste de SP) - Rubens Cavallari/Folhapress

Modelo opta por usar só com amigos

A modelo Marquieli Sigolin, 28 anos, conheceu o narguilé em viagem à Argentina. Gostou tanto que o hábito está registrado até mesmo em algumas fotos do seu Instagram.

Marquieli diz que chegou a ir a algumas baladas no início da pandemia, mas parou. “Hoje, prefiro reunir três, quatro amigos em casa. Sei que eles não estão com o vírus”, diz.

Alertada sobre críticas diretas feitas por especialistas ao produto e às reuniões, mesmo entre conhecidos, a modelo diz que “nem todas as pessoas pensam assim”, citando um “amigo médico”. “No máximo, fumo uma vez por dia em casa”, afirma.

Vendedor evita as baladas para preservar família

O vendedor de narguilé Ivan Cristaldi, 21 anos, frequentou baladas em 2020 até tomar um susto, quando a própria mãe teve a suspeita de ter contraído o novo coronavírus. Para ele, foi o limite. “Não damos bola até acontecer com alguém importante. Foi algo muito assustador”, diz. Cristaldi conta que o vírus ainda não foi embora.

O vendedor aconselha pessoas a se cuidarem. “Imagina ir para um lounge com centenas de pessoas que você não sabe por onde passaram? Ninguém é santo. Chego em casa, minha mãe contrai o vírus e morre. Vou me sentir culpado pelo resto da vida.”

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