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Padre Júlio Lancellotti pede liberação de estações de metrô para abrigar morador de rua no frio

Uma reunião com representantes do governo do estado e da prefeitura deve definir se locais poderão ficar abertos nas madrugas com frio intenso previsto

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Nilson Hernandes
São Paulo

O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, disse na noite desta terça-feira (27), ter solicitado ao governador João Doria (PSDB) que libere as estações do metrô para receber as pessoas em situação de rua e assim protegê-las da severa onda de frio que se aproxima da capital.

“Conversei com o governador e pedi para que a população fosse abrigada nas estações do metrô durante essa onda de frio. Amanhã [quarta-feira], voume reunir com ele [Doria] e com o prefeito Ricardo Nunes [MDB] para discutir medidas concretas para o povo de rua”, afirmou o religioso.

Caso a previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) se confirme, a cidade de São Paulo terá, nesta quarta-feira (38), chuvas e baixas temperaturas. A máxima não deve passar dos 9ºC, à noite. Na sexta-feira (30), a previsão é de 2ºC. Caso esse frio venha a se efetivar, será a menor temperatura dos últimos 27 anos na capital.

Procurada, a assessoria de imprensa de Doria confirmou o pedido durante uma reunião com a participação do sacerdote, entretanto, não disse se o estado atenderá o pedido. Apesar disso, a reportagem apurou que o governador apoia a medida e já solicitou à área técnica do metrô que viabilize medidas para que isso ocorra. Uma das estações que deve receber as pessoas em situação de rua é a Dom Pedro 2º, integrante da linha 3-vermelha.

Nesta terça, a prefeitura anunciou uma série de medidas para acolher os moradores de rua da capital durante o frio intenso. Elas incluem a instalação de cinco tendas para oferecer agasalhos, cobertores e itens de higiene, além de abertura de 871 novas vagas em centros de acolhida da capital.

Doria, sua mulher, Bia Doria, que preside o Conselho do Fundo Social de São Paulo, e o padre Lancellotti, além de outros integrantes do governo estadual e o prefeito Ricardo Nunes, têm um almoço marcado no início da tarde desta quarta-feira, e um dos itens do cardápio deve incluir o pedido do religioso.

Censo

Apesar dos dados oficiais indicarem que a capital tem 24.344 pessoas vivendo nas ruas, a estimativa de quem trabalha com esse público é de que o total seja muito maior.

Segundo o padre Lancellotti, o CADÚnico (banco de dados com pessoas em alta vulnerabilidade usado pela prefeitura para programas sociais), apontava mais de 32 mil pessoas em situação de rua há dois anos, quando foi realizado o último censo, e não os números divulgados.

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“Inclusive eu já pedi, mas vou conversar novamente amanhã com o prefeito sobre a necessidade de contratar uma empresa para recensear as pessoas em situação de rua pelo critério de notório saber, não por meio de pregão eletrônico, no qual ganha quem apresentar o menor preço, pois assim não irá se repetir o erro do censo de 2019”, afirmou.

Para o presidente do Movimento Estadual das Pessoas em Situação de Rua, Robson Mendonça, o número é muito maior e chega a 60 mil.

Ele questiona o resultado oficial do recenseamento realizado há dois anos, ou seja, antes da pandemia do coronavírus, encomendado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. “No último censo, pelas nossas estimativas, a capital tinha cerca de 32.800 pessoas em situação de rua, não 24 mil”, afirmou Mendonça.

Segundo os dados oficiais, das 24.344 pessoas em situação de rua na capital no censo de 2019,11.693 estavam acolhidas na rede socioassistencial e 12.651 viviam nas ruas.

O presidente da entidade representativa da população em alta vulnerabilidade paulistana disse que houve distorções nos números apurados pela própria ação da prefeitura.

“Pessoas ligadas ao movimento foram contratadas pela empresa responsável pelo levantamento para atuar no censo de 2019. Quando os recenseadores chegavam aos locais, a zeladoria urbana já tinha passado antes e espantado a população”, disse Mendonça.

A respeito da recusa de vagas sempre relatada pela prefeitura como uma realidade do dia a dia das equipes de abordagem, o ativista não nega que aconteça, todavia enumera os motivos pelos quais as pessoas em alta vulnerabilidade preferem encarar as baixas temperaturas nas calçadas do que se abrigarem nos centros de acolhimento.

"A recusa de vagas acontece por causa da quantidade de pessoas doentes nos centros de acolhida. Também por causa da falta de higiene em muitos desses locais, como o Centro de Acolhimento Boracea [região do Bom Retiro], que ficou sem água neste momento de crise sanitária”, afirmou Mendonça.

O presidente do movimento também critica as ações de zeladoria que acabam por retirar os pertencentes das pessoas nas ruas. “Nas baixas temperaturas, a zeladoria urbana não pode recolher os pertences das pessoas de maneira arbitrária, como ainda é feito atualmente”, diz.

Mendonça também afirma que a população em situação de rua precisa que a política habitacional direcionada para ela seja retomada, pois apenas o primeiro empreendimento do programa de Locação Social foi entregue, o conjunto habitacional Asdrubal II/Edifício Mário de Andrade, com 34 apartamentos, pelo então prefeito Bruno Covas, em fevereiro de 2019.

Resposta

Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social reafirmou os números do Censo de 2019, realizado pela empresa Qualitest Ciência e Tecnologia Ltda. Segundo os dados, 24.344 pessoas estavam em situação de rua na cidade de São Paulo, sendo 11.693 acolhidos na rede socioassistencial e 12.651 em situação de rua.

A nota afirma ainda que desde julho do ano passado a prefeitura vem qualificando o atendimento às pessoas em situação de rua, acolhendo em hotéis. Segundo a pasta, uma portaria determina que os quartos e os espaços de uso coletivo são higienizados constantemente e os conviventes são orientados sobre o distanciamento social. “São também disponibilizadas máscaras, álcool em gel, sabonete líquido, toalhas descartáveis e kit de higiene para cada acolhido”, diz o texto.

A cidade de São Paulo conta com 103 centros de acolhida onde estão disponíveis 24 mil vagas para diversos perfis, entre eles: oito centros de acolhida especiais para famílias; 64 centros de acolhida para adultos (masculino); oito centros de acolhida especiais para mulheres; dois centros de acolhida para mulheres transexuais e dez centros de acolhida especiais para idosos.

A secretaria informou ainda que, por meio dos serviços especializados de abordagem social, realiza busca 24 horas por dia para identificar pessoas em situação de rua e oferecer acolhimento na rede socioassistencial. “A equipe, composta por 552 orientadores, atua por meio de escuta qualificada, visando a aproximação, construção e fortalecimento de vínculos, atendimentos sociais, orientações e encaminhamentos. Atuam das 8h às 22h. Das 22h às 8h, a abordagem é realizada pela Coordenadoria de Pronto Atendimento Social”, informa o texto.

A meta 16 do Programa de Metas 2021-2024 da gestão Ricardo Nunes (MDB), prevê a implantação de centros de acolhida e centros de acolhida especiais.

Colaborou Clayton Freitas

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