Os tapumes que cercam as obras do Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, recebem novas pinturas a partir desta quinta-feira (8). A segunda edição do Tapume! Festival de Graffiti reúne 32 grafiteiros, que se revezam para registrarem suas artes no entorno do local entre os dias 8 e 9 de julho. O público pode acompanhar os trabalhos através das redes sociais do museu.
O Novo Museu do Ipiranga realiza o festival em parceria com o Instituto Cidades Invisíveis, que promove ações de impacto e transformação social. Após o evento, os artistas cederão os direitos autorais das obras e o valor será revertido em ações nas comunidades dos arredores do museu.
"Um dos fundamentos do Cidades Invisíveis é a arte, principalmente, a arte urbana. Neste ano, o museu encontrou no projeto uma entidade que, além da arte, pode cuidar da parte de ação social", diz Tobias Alencastro, diretor do instituto.
Para definir as ações, segundo Alencastro, o projeto entrou em contato com entidades e líderes comunitários das regiões de Heliópolis (zona sul), Vila Prudente (zona leste) e Jardim Sinhá (zona leste). Oficinas de arte urbana, futsal e balé, investimento em jornais comunitários e em uma agência publicitária para os moradores são possíveis atividades que irão resultar da arrecadação do evento.
A primeira edição do Tapume! ocorreu em janeiro de 2020 e, nesta nova edição, o tema Água foi escolhido para nortear a arte dos grafiteiros.
"A água é sempre um problema na época das secas e, na época das chuvas, as cidades se inundam por falta de planejamento. Portanto, nós convivemos com a água nas cidades de uma maneira não tão amigável, embora sejamos completamente dependentes dela", explica Solange Ferraz de Lima, presidente da Comissão de Cultura e Extensão do Museu do Ipiranga.
Ela também explica que a comissão busca temas que tenham um acervo representativo no museu. "Temos muitas pinturas que representam a navegabilidade dos rios, das vias fluviais de São Paulo, além de cartões postais e até fotografias que retratam as inundações da Várzea do Carmo", complementa.
Seleção dos artistas
Os 32 grafiteiros escolhidos para realizar o trabalho nos tapumes do Museu do Ipiranga vêm de diferentes lugares do Brasil. Há artistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Florianópolis e Manaus.
"Na hora de montar uma equipe para fazer esse tipo de trabalho, buscamos a qualidade e a personalidade de cada artista, porque cada arte tem uma peculiaridade", explica Gustavo Verde, grafiteiro responsável pela curadoria do evento.
Verde reforça a importância da representatividade artística, que também foi levada em conta na escolha. Dentre os 32 nomes, há mulheres, indígenas, negros e membros da comunidade LGBTQIA+.
"O evento é essencial neste momento em que estamos entendendo como a arte é importante para a gente, como questão de sobrevivência mesmo", defende Cléo Moreira, grafiteira conhecida como Cléo Tamojunto.
Cléo é uma das artistas que trabalhou nesta quinta-feira. Vinda do Jardim Elisa Maria, na Brasilândia (zona norte), ela conta que a principal inspiração de seu trabalho é a vivência do cotidiano de mulheres de bairros e realidades que costumam não ter tanta voz.
Adaptação ao virtual
Devido à pandemia, o público deve acompanhar a evolução dos grafites por meio do Facebook e do Instagram do museu. Nas redes sociais, vídeos, fotos e entrevistas serão compartilhados como registro do evento.
"É um pouco diferente, porque o grafite costuma ter muito contato com outras pessoas na rua. Agora, tudo está reduzido, inclusive o contato entre os grafiteiros, e esse distanciamento é algo novo", diz Cléo Tamojunto.
Gustavo Verde, responsável pela curadoria e coordenação, acrescenta que os grafiteiros sentem muita falta dessa troca com o público, mas estão muito felizes com o evento. "Ouvi alguns dizerem coisas como 'faz mais de um ano que eu não pinto na rua, graças a Deus vai ter um evento com esse tipo de segurança para a gente poder pintar'", relata.
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