Descrição de chapéu beleza

Projeto de moda ajuda a recuperar autoestima de mulheres do Capão Redondo, em SP

Mulheres exploram diferentes questões através de consultoria de imagem e ensaio fotográfico

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A designer de moda Talita Lira (centro) mostra as primeiras fotos do projeto, com Viviane dos Santos (à esq.) e Dilma Rocha (à dir.); iniciativa dá consultoria de imagem para mulheres das periferias melhorarem a autoestima e a relação consigo mesmas - Rubens Cavallari/Folhapress
São Paulo

Trazer o empoderamento feminino em prol do coletivo. É assim que a designer de moda Talita de Lira, 32, descreve a essência do Transmutações do Feminino, projeto do qual é idealizadora. A iniciativa oferece consultoria de imagem para mulheres das periferias de São Paulo melhorarem sua autoestima e a relação consigo mesmas.

A ideia surgiu em 2019, quando Talita estava terminando um curso de pós-graduação em styling de moda. "O trabalho de consultoria é elitista, não é todo mundo que tem a oportunidade de realizá-lo. Aí pensei em achar um grupo de mulheres que estivesse afim de fazer e oferecer o trabalho", conta a designer de moda.

Foi quando encontrou o projeto da professora Sophia Bisilliat, que oferecia treinos de ioga em uma laje da favela Sabin, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Nove das alunas de ioga toparam participar da iniciativa e, durante seis meses, Talita fez o processo de consultoria de imagem coletiva e individualmente.

Dilma Rocha, 42, e Viviane dos Santos, 39, fazem parte do primeiro grupo de mulheres que participaram do Transmutações do Feminino em 2019. - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo Talita, o primeiro passo é entender o que será trabalhado com a consultoria. "Cada mulher tem uma questão, algumas têm distorção de imagem, outras têm compulsão por consumo e compram roupas em excesso", explica.

A partir disso, vários processos acontecem. É feita uma análise para entender o estilo da mulher, testes de coloração pessoal, um trabalho de reconhecimento e compreensão da estrutura do próprio corpo, revitalização do armário, entre outros.

Ao final, um ensaio fotográfico é realizado. As fotos, que podem ser mais sensuais ou não, buscam explorar os aprendizados da consultoria e as narrativas de cada mulher.

"Mudei muito minha visão ao me olhar no espelho. Eu era escondida e falava para todo mundo que eu não sabia ser negra. Agora eu sei e aprendi tudo através da moda", conta a auxiliar de limpeza Dilma Rocha, 42, que participou do projeto em 2019.

Dilma relata que, antes do projeto, tinha um bloqueio na hora de tirar fotos de si mesma. Com o incentivo da equipe e das amigas, fez o ensaio fotográfico sensual e diz que hoje "não tem vergonha de mais nada".

Devido à pandemia, o Transmutações do Feminino precisou de uma adaptação. No início desse ano, no lugar da consultoria de seis meses, pequenos grupos de mulheres realizaram somente o editorial fotográfico e tiveram um atendimento prévio com Talita.

Ao todo, 18 mulheres que moram no Capão Redondo passaram pelo projeto. Além de Talita, a equipe conta com o trabalho dos fotógrafos Tais Bértolin e Samuel Alexandre. O objetivo é expandir a iniciativa para que possa atingir mulheres de diferentes comunidades e regiões de São Paulo.

Iniciativa ajudou compulsão por compras

Para a auxiliar de limpeza e cabelereira Viviane dos Santos, 39, o projeto transformou o modo com que ela comprava roupas e sapatos. "Eu era uma consumidora compulsiva. Aprendi a desapegar, dei muita roupa embora e, hoje, sei usar o básico", conta.

Viviane explica que acumulava parcelas no cartão de crédito para pagar as roupas. Com o projeto, aprendeu a identificar seu estilo e, desde 2019, consegue vestir-se sem precisar de itens em excesso.

Ela diz que as compras em excesso também afetavam seu relacionamento. "Tinha muita briga com o meu marido, porque ele perguntava se eu era uma centopeia para ter tantos sapatos", relata.

Tamanha a mudança, Viviane resolveu participar novamente do projeto em 2021, dessa vez com a intenção de presentear seu marido. Juntos, fizeram um novo ensaio fotográfico. "A gente é da comunidade e não tem essas coisas por aqui. [...] Todos amaram, inclusive ele e os amigos dele", diz.

A participação no projeto não acabou com as fotos. "Se eu vou comprar um sapato, um óculos ou uma roupa, eu lembro da Talita, que ensinou a gente. Às vezes, até mando mensagem para ela para pedir opinião", explica.

Autoestima impacta diferentes aspectos da vida feminina

Projetos como o Transmutações do Feminino trazem novos significados para a maneira com a qual as mulheres enxergam e valorizam seus próprios corpos, segundo a psicóloga Blenda de Oliveira.

"O corpo é um lugar muito importante de constituição da identidade e, por consequência, da autoestima, ou seja, da forma como a gente se vê e enxerga nosso valor", explica.

De acordo com a psicóloga, trabalhar a autoestima feminina traz confiança e segurança, o que pode ter reflexos em outros âmbitos da vida da mulher. "Isso pode atingir os relacionamentos interpessoais, amorosos e profissionais. A mulher passa a ter maior noção de sua potência, de sua força e ela pode começar a repensar qual têm sido a posição dela no dia a dia."

Oliveira reforça que cada pessoa tem seu ritmo de mudança. Logo, essas consequências podem apresentar-se rapidamente ou de forma mais lenta, já que isso depende da realidade de cada mulher e das mudanças que são possíveis para ela naquele momento.

Com ensaios fotográficos mais sensuais, o projeto também trabalha uma área que ainda é um tabu. "Existe uma barreira na maior parte das mulheres com a questão da sensualidade, independente do corpo estar dentro do padrão ou não", relata a psicóloga.

Há um conjunto de juízos e valores que impede que as mulheres trabalhem a beleza e a sensualidade de seus próprios corpos, segundo Oliveira. "Os resultados de um projeto assim são bastante importantes e significativos para a vida dessas mulheres", complementa.

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