A Prefeitura de São Paulo, gestão Ricardo Nunes (MDB), autorizou o início dos preparativos e das medidas administrativas para a realização dos desfiles das escolas de samba e das comemorações do Carnaval em 2022, no Sambódromo do Anhembi, na zona norte da capital paulista. Com isso, as agremiações começaram a se preparar.
A medida, que cita um decreto de julho que criou comissões para discutir a festividade, foi tomada após uma reunião dos representantes da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo com a diretoria da SPTuris (São Paulo Turismo), empresa que administra os eventos na capital paulista.
Apesar disso, a realização do evento não está autorizada. O que foi permitido é o começo das preparações para o evento, mas a realização do Carnaval vai depender de autorização dos órgãos municipais de saúde e de que, pelo menos, 70% dos paulistanos já estejam vacinados completamente.
“A realização do referido evento estará condicionada à verificação, no correspondente período, das condições epidemiológicas relativas à pandemia da Covid-19”, informa o decreto publicado no Diário Oficial do Município desta quarta-feira (15).
A festividade, junto com o tradicional Réveillon da avenida Paulista, foi cancelada pela gestão municipal em 2021 por causa da pandemia de Covid-19.
Desde os anos 1990, as escolas de samba da cidade de São Paulo recebem artistas vindo de Parintins, no Amazonas, para a confecção das alegorias e fantasias para os desfiles e para o próximo Carnaval não será diferente. Com a autorização, algumas agremiações já começaram a se preparar.
A Império de Casa Verde, na zona norte da cidade de São Paulo, já conta com o trabalho de 17 artistas parintinenses há 12 dias.
“Eles voltaram com força total e estão a mil. A expectativa é a melhor possível porque passamos quase dois anos sem fazer o que a gente mais ama”, diz Fábio Leite, vice-presidente da Império de Casa Verde.
O diretor de alegoria, Nei Meireles, que é de Parintins e está em seu 22º na escola de samba, celebrou o fato de poder voltar a trabalhar com o que gosta. “O pensamento é que dê tudo certo, que a pandemia acalme ainda mais para que a gente consiga fazer essa festa. Estamos com uma sede de Carnaval”, afirma.
Contratado há quase dois anos, o carnavalesco Mauro Quintaes, que vai dividir o trabalho com Leandro Barbosa, falou sobre o andamento dos preparativos. “O processo criativo já está completo faltando apenas algumas adaptações por causa do regulamento, mas é o processo normal”, diz.
Já a Acadêmicos do Tucuruvi, da zona norte de São Paulo, informou à reportagem que os profissionais da equipe de Parintins vão chegar no início do mês de outubro e que a escola optou por começar as atividades do barracão de alegorias um pouco mais tarde, para que desse tempo de todos tomarem a segunda dose da vacina contra a Covid-19.
“Além de prezar pela segurança de todos, estávamos aguardando a autorização para iniciarmos os projetos do barracão”, diz Rodrigo Delduque, diretor de carnaval da agremiação.
“Como já trabalhamos há anos com os mesmos colaboradores de Parintins, temos a certeza que será confeccionado as melhores alegorias da história do carnaval de nossa agremiação”, completa.
A Rosas de Ouro, da Freguesia do Ó (zona norte da capital paulista), disse que o pessoal de Parintins vai chegar no dia 22 e que todos já estão vacinados.
“A chegada da nossa equipe de profissionais de Parintins é um marco importante na construção do nosso Carnaval, pois é pelas mãos desses artistas que o projeto desenvolvido pelo carnavalesco ganha vida e cores”, destaca Evandro Souza, membro da direção de carnaval da Rosas de Ouro.
Já a Vai-Vai, do Bexiga (região central da cidade), ainda não determinou uma data oficial para a chegada dos artesãos, mas disse que o trabalho dos profissionais vai ser iniciado em outubro.
“O pessoal de escultura já está por aqui e deve começar em breve. Vou começar em outubro com o pessoal de Parintins”, diz Claricio Gonçalves, presidente da Vai-Vai.
Especialistas dizem que ainda é cedo para planejamento
A reportagem entrou em contato com médicos e especialistas para ouvir a opinião deles sobre a autorização da Prefeitura de São Paulo em relação aos preparativos para o Carnaval de 2022.
O médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gonzalo Vecina, disse que ainda não é hora de pensar no Carnaval, mas que se realmente acontecer no sambódromo, regras rígidas devem ser adotadas. “Eu acho que não deveria acontecer nada, mas como as pessoas não aguentam mais, acredito que com restrições acho que dá para acontecer os desfiles”, diz. “Precisa de regras bem delimitadas, como comprovante de vacina para quem vai para a arquibancada e quem participa do desfile”, ressalta Vecina.
Hélio Bacha, médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, destacou a imprevisibilidade da doença.
“Não é com toda segurança que posso dizer que os desfiles podem acontecer no sambódromo. Vai depender muito da quantidade de vacinação da população, se existem novas variantes e da capacidade de fazer uma assistência médica e organizar o carnaval ao mesmo tempo” afirma Bacha.
“É prudente fazer um planejamento porque não se organiza Carnaval na última semana, mas é preciso fazer uma previsão otimista e pessimista, fazendo com que o planejamento mude conforme a situação”, destaca o infectologista.
Já o médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis e Mauri Bezerra, Jorge Kayano, diz que o governo municipal deveria se preocupar primeiro com a vacinação.
“A vacinação ainda não chegou ao nível necessário. É importante priorizar antes isso do que pensar no Carnaval”, enfatiza.
“Além disso, acho precipitado falar que em fevereiro a pandemia vai estar controlada a ponto de poder ficar fazendo desfile e enchendo o sambódromo de pessoas”, afirma Jorge Kayano.
Na mesma linha, Soraya Smaili, farmacóloga da Unifesp e coordenadora do Centro de Saúde Global e do Centro SOU Ciência, diz que diante de tanta incerteza, não é possível pensar em Carnaval.
“Se até o final do ano o número de casos continuar caindo e a vacinação subindo, pode ser planejado alguma coisa, mas não agora. É momento de pensar no combate ao coronavírus”, diz a especialista. “A prefeitura deveria estar trabalhando para antecipar a segunda dose e não no Carnaval”, ressalta Soraya Smaili.
Filipe Prohaska, infectologista do Grupo Oncoclínicas, afirma que é possível planejar os desfiles no sambódromo, mas seguindo os protocolos sanitários à risca.
“Seria importante contar com a marcação de cadeiras com distanciamento, uso obrigatório de máscaras, comprovante de vacinação. São regras que precisam ser otimizadas para garantir a maior segurança ao evento”, ressalta Prohaska.
Resposta
Em nota à reportagem, a Prefeitura de São Paulo, gestão Ricardo Nunes (MDB), por meio da Secretaria Especial de Comunicação Social, diz que autorizou a SPTuris (São Paulo Turismo) a dar início às medidas administrativas e preparativos para a realização dos desfiles das escolas de samba e das comemorações do carnaval no Sambódromo de São Paulo em 2022.
“A realização do evento, como informa a publicação no Diário Oficial do Município (DOM), está condicionada ao quadro epidemiológico relativo à pandemia do Covid-19 e conforme entendimento das autoridades de saúde pública e sanitárias, bem como o cumprimento de todo e qualquer protocolo sanitário vigente”, escreve.
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