Idade. Esperança. Velhice.
O sr. Osvaldo não conseguia acreditar.
—Me chamaram para a terceira dose.
O sorriso aflorou lentamente em sua face enrugada.
—Pensei que não chegava nem na primeira…
Aos 87 anos, ele tinha medo de não dar tempo.
—E eu lá entendo de computador?
Aplicativos. Senhas. Nomes de usuário.
A fila não era pequena no posto de saúde.
—É aqui que estão dando a vacina?
As respostas eram contraditórias.
—Vim aqui para conseguir prova de vida.
—Nada disso. É vacina.
—Mas da gripe.
—Dizem que só tem da AstraZeneca.
—Meu sobrinho disse que é da Pfizer.
—Era. Mas acabou.
—Alguém trouxe celular aí?
A jovem acompanhante Inara se inclinou para falar com a avó dela.
—A senhora sentou em cima, vó.
A cadeira de rodas oscilava no meio-fio.
Foi quando o sr. Osvaldo se lembrou.
—Meus documentos. Será que deixei em casa?
Tinha só uma carteirinha de sócio da Portuguesa de Desportos.
Veio a notícia.
—Pessoal. Só amanhã.
No boteco, o sr. Osvaldo conta as moedinhas.
—Mais uma. Em homenagem ao presidente Lula.
Quem gosta de caninha não tem dúvida.
A terceira dose é a que mais faz falta.
Voltaire de Souza: Uma homenagem no balcão
Voltaire de Souza
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