O amigo enrolado

São Paulo

Em entrevista ao jornal O Globo, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) admitiu que Fabrício Queiroz já pagou suas contas. Ao comentar os altos volumes em dinheiro vivo movimentados por seu ex-assessor, acrescentou: “Ele é um cara que tinha os rolos dele”.

A gíria surge sempre que a família Bolsonaro se refere ao ex-faz-tudo. Queiroz é alguém que vive de rolos —transações suspeitas, em bom português.

O ex-assessor Fabrício Queiroz na varanda do apartamento onde cumpre prisão domiciliar, no Rio de Janeiro
O ex-assessor Fabrício Queiroz na varanda do apartamento onde cumpre prisão domiciliar, no Rio de Janeiro - 13.jul.20 - Reprodução

As histórias continuam mal contadas. Em outro relato, Flávio disse que um policial, Diego Ambrósio, pagou um boleto seu de R$ 16,5 mil porque a conta iria vencer, o banco estaria fechado e ele “não tinha aplicativo no telefone”. (O próprio Ambrósio já deu outra versão para o caso.)

É urgente esclarecer as relações entre o senador, sua família e a rede de contatos em torno de Queiroz. Já existe a investigação sobre o esquema das “rachadinhas”, pelo qual seria arrecadado parte dos salários de servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. Há suspeitas ainda mais cabeludas, envolvendo conexões com as milícias da região.

Na entrevista, o senador se mostra afinado com o novo discurso adotado pelo pai para reduzir a tensão política e se segurar na cadeira de presidente.

Sumiram os ataques ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso, frequentes antes da prisão de Queiroz. A Lava Jato, antes bajulada, agora é criticada. O centrão passa de agente do mal a apoiador estratégico.

Isso mostra como era cascata eleitoral toda aquela conversa contra a “velha política”. Bolsonaro pode não ter lá muito jeito para governar, mas vai fazendo o possível para se manter no poder. Quem tem um amigo tão enrolado sabe que não pode fazer mais inimigos.

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