São Paulo era outra cidade quando espanhóis, italianos e descendentes de escravos de Brás, Bexiga e Barra Funda dividiam a cidade-operária entre corinthianos e palestrinos.
Nem existia a avenida Alcântara Machado para ligar o centro velho à nova periferia e aprofundar as diferenças sociais em progressão geométrica a cada quilômetro percorrido na radial no sentido leste. Existia menos ainda a linha vermelha do Metrô ligando o extremo-leste Itaquera ao centro-oeste Barra Funda.
De lá, a pé ou saltando do ônibus após três pontos, se chega a Perdizes. Perdizes, Sumaré ou Água Branca? Nomenclatura. Corinthians e Palmeiras são almas incrustadas no barro, no asfalto esburacado das ruas. Paralelepípedos, mundos paralelos que se cruzam na rivalidade infinita. No CEP, o estádio de Itaquera é Vila Carmosina. Ex-distante, Tatuapé hoje ficou quase central, de fácil acesso marginal e ferroviário à parte baixa, de carrão importado ao alto Anália.
Minha cidade, há 110 anos, pulsa Corinthians, nome inspirado no xará inglês. E, desde 1942, minha terra tem Palmeiras, fundado, há 106 anos, como Palestra Itália. Terra onde corinthiano come espaguete à bolonhesa ao som de "Funiculí, Funiculá", palmeirense é nóis, mano do lado de lá.
Paulistano, que mandava na bola na pauliceia desvairada nos idos da gripe espanhola, não joga mais bola. Os maiores rivais sobreviveram como maiores rivais até os desiguais tempos atuais de pandemia.
Corinthians x Palmeiras não é ciência. É amor. Mudou tudo sem mudar a essência. Surgiu a Portuguesa, o São Paulo da Floresta, o São Paulo Futebol Clube. Não tem mais grito de torcida no Ypiranga. Guapira é trem da história no Jaçanã. Germânia é Pinheiros. Mooca é Juventus, que faz o Juvenal com o Naça. O turfe deixou de ser popular. Tudo mudou para não mudar.
Dérbi é, foi e sempre será o confronto principal, o clássico que agita, divide a velha e a nova cidade, os antigos e os torcedores de tenra idade.
Que vença o melhor. Melhor ainda, que vença o Corinthians do meu saudoso vô Pepe Ruiz, andaluz de Granada. Se der Parmera? Porca miséria, parabéns à saudosa nonna Cida Cantarelli, filha de italiano. Amor e ódio, o eterno Dérbi paulistano.
Oswald de Andrade: "Era uma vez um Mundo".
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