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Caneladas do Vitão: Inconsciente coletivo

Sempre dá branco no país sem memória

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São Paulo

O país das exceções Daiane dos Santos e Rebeca Andrade faz uma ginástica danada para fingir que não foi por racismo estrutural que Angelo Assumpção foi chutado para fora do sistema preconceituoso.

A pátria desmemoriada que tem dificuldade em criminalizar o colonizador que dizimou a sua gente nativa e roubou o ouro é a mesma pátria que festejou a performance olímpica da velocista Rosângela dos Santos e não se indignou quando ela virou motorista de aplicativo após também ser, a exemplo de Angelo, dispensada do Esporte Clube Pinheiros (ex-Germânia).

charge com um cartola de futebol negro levantando a cartola que está usando
Cláudio Oliveira

O país que não é solidário na dor, mas adora se associar oportunisticamente na vitória e, pois, vibrou com a medalha de ouro de Valeskinha é o mesmo indiferente país que esqueceu e não tem a menor ideia (se é que um dia teve) quem é a sua mãe Aída dos Santos.

O Brasil brasileiro que tem chilique quando se cogita taxar grandes fortunas e aplaude todos os assassinatos de direitos trabalhistas não deu um "piu" sobre as barreiras que Alison dos Santos teve que transpor para brilhar em Tóquio.

Os mesmos canais e redes antissociais que, em manobra racista radical, embranqueceram a imagem da Rayssa Fadinha Leal não deram qualquer destaque ao caso do motorista Robson do Nascimento de Oliveira. E negro sendo vítima de injustiça é notícia ou atrai atenção do público? Se ainda fosse uma vitrine de um banco ou uma estátua de um bandeirante genocida...

O autointitulado país do futebol, o mesmo que condenou o goleiro Barbosa pela derrota em 1950, mas que sempre foi reconhecido, em todo o planeta bola, pela arte de Arthur Friedenreich, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Bauer, Zizinho, Baltazar, Didi, Garrincha, Pelé, Edu, Carlos Alberto, Luís Pereira, Zé Maria, Roberto Carlos, Enéas, Ivair, Dener, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Neymar e uma centena de craques de bola, nunca teve um presidente da CBF ou um treinador negro dirigindo a seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Negro, no "democrático" futebol, tudo bem, o sistema branco até aceita, mas com parcimônia e sem radicalismos: com chuteiras, suando em campo, ok, mas nada de terno, gravata e posição hierárquica de comando técnico ou diretivo...

Haja branco, falta de memória, para repetir a mentira que não há racismo no Brasil.

Zumbi dos Palmares: "É chegada a hora de tirar nossa nação das trevas da injustiça racial".

Vitor Guedes
Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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