A crise econômica tem levado as famílias brasileiras a falarem mais sobre finanças em casa. Uma pesquisa do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil e CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) junto ao Banco Central mostra que oito em cada dez dos entrevistados conversam em casa sobre orçamento, sendo que metade deles (51%) fala do assunto com frequência. O total cresceu sete pontos percentuais em relação ao ano passado. Apenas 15% não abordam o tema.
O vendedor de autopeças Marcos Roberto Pedrão, 47 anos, admite que não falava muito de grana em casa, mas precisou adotar estratégias de planejamento financeiro. “A gente [família] acabava gastando mais do que tinha por causa de algum passeio ou viagem, mas, de uns tempos para cá, com a crise, resolvemos dividir as contas em duas datas de pagamento, dia 10 e dia 20, e colocar tudo na ponta do lápis”, conta ele, que se organiza com a esposa, a assistente administrativa Gina Aparecida Gonçalves Pedrão, 41.
“Um de nós fica responsável pelas contas fixas [água, luz, telefone, por exemplo] e o outro por mercado e passeio. Neste ano, por causa da crise, a saída foi fazer uma planilha para os gastos”, complementa. O vendedor diz ainda que, desde que os filhos de 15 e 17 anos eram crianças, foram ensinados a valorizar o dinheiro e entender que nem sempre daria para comprar o que queriam. “Quando eles vão ao mercado, se têm, por exemplo, R$ 100, eu uso a seguinte frase: o céu é o limite até R$ 100.”
José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, diz que a tática é interessante, mas dá outra dica. “Seria bom aproveitar a oportunidade e explicar que eles não precisam gastar todo o valor. Um desafio saudável é estimulá-los a fazer sobrar.”
Educação financeira desde cedo
Na visão do especialista, não há idade mínima para ensinar aos filhos o valor do dinheiro, já que, hoje, as crianças passam horas em frente à televisão ou à tela do celular recebendo informação, o que colabora para “desenvolver a vontade de comprar”.
A professora Fabiana Alves de Souza, 34, começou cedo com a filha Lara de Souza Domingos, de 5 anos. “Agora ela já entende que para ela conseguir alguma coisa, precisa do dinheiro, que vem do meu trabalho e do meu marido”, conta.
“Quando ela tinha três anos e meio ganhou um cofrinho, que a família toda ajudava a encher. Abrimos no fim do ano e dissemos que ela poderia usar o dinheiro para comprar o presente de Natal.”
As moedas maiores, como de R$ 1, vão para o cofre, enquanto as menores são guardadas em uma bolsinha que a pequena leva a tiracolo quando vai ao mercado com os pais. Neste ano, porém, Lara está juntando as ‘moedas maiores’ para ir a um parque de diversões.
Gastos de casal são divididos
A professora divide os gastos mensais com o marido. “Dividimos as contas da casa e os gastos com a nossa filha, mas vamos tentando juntar o que sobra porque estamos investindo em um imóvel.”
Em relação ao orçamento de casais, o especialista do SPC diz que é importante para fazer a grana sobrar é anotar o que gasta com as despesas em comum, mas não basta guardar comprovantes. “Se fazem compras no cartão de crédito, é preciso fazer uma análise da fatura, que é diferente de conferi-la.
Conferir é olhar, por cima, o quanto gastou, mas analisar é entender gasto por gasto para ver o que levou a extrapolar, por exemplo.”
Grana vira assunto das famílias brasileiras
Uma pesquisa do SPC Brasil e da câmara de lojistas mostrou que falar sobre dinheiro tem sido uma rotina frequente entre as famílias
Isso porque 85% dos entrevistados disseram que conversam em casa sobre orçamento; metade deles com frequência
Apenas 15% disseram que não tocam no assunto
Entre os brasileiros que moram com famílias:
- 79% tomam decisões em conjunto sobre os gastos na
- 21% deixam as decisões para um único morador
Organização dos rendimentos
- 51% mantêm os ganhos em contas separadas
- 25% têm conta conjunta para os rendimentos da família
- 19% disseram que cada familiar separa parte dos rendimentos para guardar na conta única da família e se vira com o restante
Sobre a reserva financeira dos casais
- 23% nunca têm sobras e usam o dinheiro só para pagar contas
- 17% têm sobras que são usadas para gastos pessoais
- 17% têm sobras que ficam guardadas para o mês seguinte
- 15% têm sobras que vão para poupança ou algum tipo de investimento pessoal
- 15% têm sobras que vão para algum investimento familiar
Briga por dinheiro
Entre os casais
- 54% não entram em conflito por causa de dinheiro
- 46% brigam por questões financeiras, principalmente por causa dos gastos do parceiro
- 89% compartilham com o cônjuge ou companheiro o quanto ganham por mês
- 95% abrem seus gastos pessoais ao parceiro, sendo que 29% desses omitem algum gasto
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Dicas para falar de dinheiro sem brigar
1 - Guarde tudo
Os gastos do dia a dia (como com pães, frios e produtos de limpeza) geralmente acabam sobrando para quem fica mais tempo em casa
Porém, no fim do mês, esses gastos têm de ser abatidos para que a conta não fique desigual
A dica é guardar todos os comprovantes, mesmo dos pãezinhos!
2 - Respeite os gastos pessoais
O ideal é que os rendimentos cubram as contas do mês e também sobrem para as despesas pessoais do casal
Mas é importante que cada um já reserve uma parte da própria renda para itens pessoais
3 - Analise (e não só preencher) a planilha
Um erro muito comum é achar que incluir os gastos numa planilha é o suficiente para organizar as despesas
Porém, não basta anotar tudo e repetir comportamentos mês a mês
É necessário fazer uma análise crítica para ver o que poderia ser melhorado
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Como falar com as crianças
Especialistas consideram saudável falar desde cedo com os filhos sobre dinheiro
O velho hábito de manter a grana em um cofrinho pode ser um aliado da educação financeira
Mas não basta juntar um montante: é preciso usar parte da grana para que a criança entenda o quanto gastou
Veja mais dicas
- Um erro comum dos pais é repor o valor que a criança precisou usar para uma compra, mas ficar um tempo sem colocar dinheiro de volta no cofre pode fazê-la querer economizar
- Ao estipular um valor para um gasto específico (uma quantia dada para ir ao mercado, por exemplo), vale a pena estimular a criança ao desafio de não torrar tudo
Fontes: SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil e reportagem
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