Brasileiro corta de cafezinho a almoço na rua

Desemprego e preço alto têm freado hábito; consumo de itens supérfluos dentro de casa cresceu, diz pesquisa

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São Paulo

Que o brasileiro adora um cafezinho, todo mundo sabe. Mas, agora, a crise econômica parece ter afetado até esse pequeno hábito da vida de milhões de pessoas.

É o que mostra pesquisa da Kantar, que apontou que, do ano passado para cá, o número dos que tinham costume de tomar a bebida fora de casa todos os dias passou de 22% para 20%.

Só no estado de São Paulo, a queda foi de 27% para 23%: 610.177 paulistas cortaram a bebida fora do lar.

Os motivos não são novidade: preços altos, aumento do desemprego e crescimento do endividamento.

A pesquisa mostrou também que, para economizar, os brasileiros têm puxado o freio de mão na hora das refeições: entre 2018 e 2019, passou de 61% para 58% o total daqueles que tinham o hábito de comer fora.

É o caso do técnico Gilberto de Souza, 58 anos. Ele agora almoça na rua apenas duas vezes por semana. Nos outros dias, leva marmita para o trabalho.

“Estava impactando meu orçamento, então dei uma segurada”, afirma.

O aposentado Sílvio Silva, 63 anos, também se queixa.

“Desde que me aposentei, não ganho mais o vale-refeição. Fica pesado comer todo dia fora, então só almoço na rua quando encontro meus amigos”, explica.

Já o analista de sistemas Rodrigo Alves dos Santos, 37 anos, diz que não cortou o almoço na rua por uma questão de comodidade.

“O ticket acaba sempre perto do dia 20, mas prefiro pagar por fora e não ter que cozinhar em casa”, diz.

Combater a inadimplência é desafio

A tendência de se alimentar mais em casa do que na rua é um indicador de que o brasileiro está mais preocupado com as finanças, diz Giovanna Fischer, diretora de marketing da Kantar.

“O consumidor está mais racional. Mesmo numa crise, ele não quer deixar de ter conforto, então acaba fazendo trocas inteligentes de produtos similares, mas com preços mais atrativos.”

A professora do Insper Juliana Inhasz diz que, mesmo com a mudança gradativa de padrões, o brasileiro ainda tem um caminho árduo pela frente.

“Muita gente ainda está endividada. Parte da população está, sim, cortando gastos, mas é preciso avançar no combate à inadimplência e isso tudo começa com educação financeira.”

Orçamento apertado | Brasileiros fazem trocas

  • Pesquisa feita pela consultoria Kantar Brasil apontou que, entre 2018 e 2019, os brasileiros passaram a economizar mais nas despesas com alimentação

  • O estudo mostrou que a população começou a fazer menos refeições fora de casa e até a tomar menos cafezinhos na rua

Motivos: aumento do desemprego, crescimento do endividamento e alta dos preços

Entre 2018 e 2019…

  • Em São Paulo, as pessoas que faziam refeições fora de casa caíram de 68% para 62% da população. São 720.250 pessoas que deixaram de comer fora

  • No Brasil, a tendência foi a mesma: caiu de 61% para 58% a porcentagem de pessoas que comiam na rua

Sobrou até para o cafezinho

  • Em São Paulo, aqueles que pediam o bom e velho cafezinho na rua passaram de 27% para 23% da população: no total, 610.177 paulistas cortaram a bebida fora de casa

  • No Brasil, o resultado foi o mesmo: caiu de 22% para 20% a porcentagem de quem tinha o costume de sempre pedir um expresso na rua

Consumo em casa

  • Por outro lado, como forma de não abrir mão de certas ‘vontades’, aumentou dentro de casa o consumo de alimentos ‘supérfluos’ associados a conforto e conveniência

  • Dentre os exemplos estão sobremesas prontas, bolos industrializados, sorvetes, cappuccino e café com leite em pó, chá gelado, água de coco etc.

Paulistas têm consumido mais alimentos supérfluos dentro de casa

Sorvete: + 8,4%
Água de coco: + 6,5%
Leite fermentado: + 5,9%
Sobremesa pronta: + 5,7%
Massa instantânea: + 3,9%
Bolo industrializado: + 3,8%
Cappuccino: + 1,3%

Dicas para quem está com dificuldade para fechar as contas do mês

  • Coloque na ponta do lápis todas as despesas (dinheiro que sai) e todas as receitas (dinheiro que entra)

  • Divida os gastos em categorias. Exemplos: aluguel, supermercado, energia, condomínio, cartão de crédito, plano de saúde, medicamentos, educação, transporte, gasolina, roupas e calçados, lazer etc.

  • Avalie e veja o que pode ser eliminado e/ou reduzido

Faça trocas:

  • Em vez de comprar pipoca no cinema, como um lanche antes ou um salgadinho

  • O ingresso de cinema pode ser substituído por filmes por plataformas online em casa

  • Em vez do cafezinho na padaria perto do trabalho, leve uma cápsula de café para usar na máquina compartilhada da empresa

Fontes: Juliana Inhasz, professora de economia do Insper; Giovanna Fischer, diretora de marketing da Kantar, e reportagem

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