Os aposentados já estão sendo duramente impactados pelos reflexos econômicos da pandemia de Covid-19, e em 2021, a situação não deve melhorar.
Como determina a legislação, os segurados do INSS terão reajuste de seus benefícios pela inflação, mas sem ganho real. Na prática, vai ficar mais difícil manter os gastos e o padrão de vida.
Irineu Bertazo, 74 anos, já lida com a insuficiência da aposentadoria frente a despesas fundamentais. Sua aposentadoria, de cerca de R$ 1.140 reais, não é o bastante para pagar o plano de saúde que possui há décadas, no valor de R$ 1.500. Bertazo ainda considera o valor baixo se comparado ao que pagaria caso contratasse o mesmo plano hoje.
“Meu filho me ajuda com as contas. Se não fosse isso, era escolher entre pagar o convênio e comprar comida”, afirma. Apesar de aposentado, ele trabalha com o filho na empresa de conserto de eletrodomésticos.
Wilson Vidal, 68, também notou o aumento dos preços de itens básicos. Insatisfeito com seu plano de saúde, pelo qual pagava cerca de R$ 560 mensais, e diante dos aumentos que viriam, decidiu abrir mão.
“O preço das coisas básicas, arroz, feijão, óleo, açúcar, está absurdo. Aumentou muito e, no fim, o governo fica contente em dar 4% [de reajuste]. O Natal está aí, mas, neste ano, não tem Natal, e não é a Covid o problema, é porque as pessoas não têm dinheiro mesmo”, diz o aposentado.
Segundo dados do IBGE sobre o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a alta acumulada de janeiro até novembro nos alimentos chegou a 12,14%.
Os benefícios do INSS, por outro lado, são corrigidos pelo INPC, que é projetado pelo Ministério da Economia para 4,10% até o final do ano.
As perspectivas não são positivas. A falta de aumento suficiente e a alta nos preços trazem a sensação de incerteza. “Não dá para se programar para o ano que vem. A palavra é imprevisibilidade”, diz Bertazo.
Severina Silva dos Santos, 80, conta que sua filha se mudou para sua casa há oito meses e, com uma pessoa a mais sob o mesmo teto, a família passou a perceber o peso do aumento nos preços dos alimentos.
“Regulo bem minhas contas, mas estou sentindo essa alta de preços, todo mundo está”, afirma.
Alta de preços pede cuidado com as contas
Diversos itens básicos tiveram alta significativa e acima do IPCA geral. O caso mais conhecido este ano foi o arroz, que chegou a acumular alta de 17,98% em setembro. Em outubro, esse valor passou para 13,36%, ainda acima do triplo do reajuste previsto nas aposentadorias. Entre outubro e novembro, por exemplo, o arroz subiu 6,28%. Já a batata-inglesa disparou, com aumento de 29,65% no mesmo período.
Os planos de saúde estão entre as despesas que mais pesam para os aposentados.
Neste ano, apenas no caso dos planos controlados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), foi autorizado um reajuste de 8,14% por parte das operadoras. Nos demais convênios médicos, o aumento anual ficou suspenso entre setembro e dezembro, mas será aplicado em 2021.
Segundo a educadora financeira Cintia Senna, esse é um dos motivos para começar 2021 com novo planejamento e cuidado com despesas. “O ano que vem ainda é incerto. O que é certo é que o reajuste para os aposentados não será suficiente para manter a mesma qualidade de vida”, diz.
Ela sugere reavaliar gastos, buscando opções mais baratas ou vantajosas. (GB)
Aposentadoria | Veja por que e como se planejar
Muitos itens essenciais no dia a dia do aposentado já tiveram, em 2020, aumento superior à projeção de reajuste das aposentadorias de cerca de 4,10% para o ano que vem. Com o fim do ano chegando, a previsão é de que, em 2021, as aposentadorias não cubram todos os gastos.
Por que o reajuste não vai dar conta?
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O reajuste dos benefícios do INSS são corrigidos pelo INPC, índice que está sendo projetado em cerca de 4,10% para 2021 pelo Ministério da Economia.
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Os preços de produtos e serviços, no entanto, variam com mudanças de oferta e demanda do setor, valor do real em relação ao dólar e vários outros fatores.
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Assim, alguns itens que impactam muito a vida do aposentado tiveram aumento muito acima do reajuste do INSS, como os planos de saúde e alimentos. A pandemia colaborou para esse cenário.
O que deve vir pela frente?
2021 deve ser um ano de incertezas. Com o reajuste no nível da inflação, o que já significa que não haverá ganho real de poder de compra das aposentadorias, o aumento de outros gastos vai exigir cuidado com as contas e, possivelmente, algumas mudanças de hábitos para o aposentado manter o padrão de vida.
Como posso me planejar?
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Primeiro, reavalie gastos. É possível encontrar algum gasto que não está mais valendo a pena e cortá-lo do orçamento
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Reveja planos e procure por ofertas mais baratas ou vantajosas. A ideia é tornar os gastos essenciais mais eficientes, o que pode fazer toda a diferença no cenário sem ganho real após o reajuste.
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Não procure empréstimos e outros créditos que não forem absolutamente necessários. Em um cenário de incerteza e aumento de preços, isso pode dar a falsa sensação de que temos um dinheiro. Depois, sobrará um débito para pagar além dos preços mais altos de gastos fixos que continuam chegando.
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Por fim, se sobrar um pouco de dinheiro, guarde. Nessas horas é muito importante ter uma reserva.
Fonte: Cintia Senna, mestra em educação financeira
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