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Igreja de Santo Antônio terá a sua 1ª restauração completa

Mais antigo templo católico remanescente do século 16 espera liberação para início de obras

São Paulo

A igreja de Santo Antônio, a mais antiga remanescente do século 16 em São Paulo e imóvel tombado pelos órgãos municipal e estadual, na praça do Patriarca (região central), será restaurada em sua totalidade pela primeira vez na história. A partir do início das obras, ainda sem data confirmada, a reforma deverá levar dois anos.

O projeto contempla desde a recuperação das fundações, como as partes elétrica e hidráulica, até os sinos da torre. A restauração também chegará ao interior da igreja, que conserva valiosos testemunhos da arte do período colonial.

O forro em madeira, os vitrais e os pisos também serão recuperados. A última etapa da restauração será a fachada do templo religioso, que tem data de fundação incerta (1592 é uma das hipóteses).

O início das obras, porém, depende das autorizações do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), órgãos responsáveis pelo tombamento.

“As aprovações devem vir  até o fim deste mês”, diz a advogada Sylvia Pariz Campos, presidente do Instituto Actos, entidade responsável pelo trabalho de restauração e manutenção da igreja quadricentenária.

Burocracias à parte, a pesquisa cromática, através de prospecções estratigráficas (remoção de camada por camada de pintura até chegar na cor original), começou em julho. Por exemplo, em um batente da área externa para o velário, 15 camadas de pintura foram encontradas —a mais antiga foi um tom de cinza.

A investigação ocorre na igreja toda, nas partes de alvenaria e madeira, entre paredes, portas, janelas e forro, segundo a arquiteta Rosângela Martinelli Biasoli, especializada na área de restauração de patrimônio histórico. “Só de piso encontramos 23 tipos, entre ladrilho hidráulico com vários desenhos, cerâmica e assoalho de madeira”, conta.

O piso do altar da nave da igreja, pelo tipo de desenho, foi o mais antigo garimpado pela equipe. “Só não dá para saber de quando é.”

Painéis grafitados

Grafiteiro da periferia de São Paulo, Daniel Cardoso, 35 anos, morador Artur Alvim (zona leste), foi de bicicleta ao centro para produzir os seis painéis que circundam o canteiro de obras na fachada da igreja de Santo Antônio.

Com a técnica de aerografia (pintura semelhante ao grafite feita com pistola de ar comprimido), o artista reproduziu cenas de São Paulo de outras épocas no entorno da praça do Patriarca.

“Foi bem gratificante”, diz Cardoso, que foi contratado pelo Instituto Actos. O local inclusive virou ponto turístico para fotos e selfies.

Ao longo do tempo, a igreja de Santo Antônio sofreu restaurações pontuais —a última no forro e nos altares da nave, em 2005.

Desta vez, a igreja se beneficiará de recursos provenientes da TPC (Transferência de Potencial Construtivo), incentivo da Prefeitura de São Paulo para os imóveis tombados do centro —são cerca de R$ 8 milhões captados com parceiros para o projeto.

Bisturi

Eles são conhecidos como “médicos de paredes” por desvendarem tesouros escondidos por trás de camadas e camadas de tintas. Na mão, um simples bisturi de lâmina fina, o mesmo usado pelo profissional de medicina no centro cirúrgico. 

Além de dom e sensibilidade, os restauradores de patrimônios públicos e privados devem, antes de tudo, ter gosto pelo que fazem.

“Uma vez fiquei 48 horas sem sair do lugar. Esqueci do tempo, de comer, de dormir”, conta Sidney José Fischer, 66 anos, referindo-se a um trabalho de restauração na Matriz de Nossa Senhora da Candelária, em Itu (101 km de SP).

Agora, o novo desafio do restaurador é desvendar os segredos culturais da igreja de Santo Antônio.

No currículo, são cerca de 900 projetos nos 32 anos de carreira. Ele já restaurou igrejas, escolas estaduais, prédios públicos e privados tombados. Entre eles, fez a investigação do imponente prédio do Tribunal de Justiça de São Paulo.

É um dos artistas que atua nos bastidores e contribui para realizar o sonho do padre Sestilio Focchesatto, responsável pela Santo Antônio. “Vamos restaurar um patrimônio de todos.”

Autorização

Sede provisória da Catedral de São Paulo por duas décadas, a Basílica Menor de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, no bairro Santa Ifigênia (região central da cidade), também conhecida como igreja de Santa Ifigênia, está sendo restaurada desde outubro de 2018.

As autorizações dos dois órgãos de tombamento, entre município e estado, para a realização da obra de restauro vieram em novembro e dezembro de 2017, respectivamente.

O padre responsável pela Basílica, Antonio Ruy Barbosa Mendes de Moraes, diz que o tempo entre a liberação e o início da obra foi importante para a capitalização de recursos. “O trabalho de restauração é meticuloso, mas caro”, afirma.

Ao contrário da igreja de Santo Antônio, que se beneficiou de lei municipal, a igreja na Santa Ifigênia angaria recursos com a promoção de campanhas e ações sociais. Atualmente, duas barracas vendem pastel, a R$ 5, diariamente, na frente da igreja.

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