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Alunos dão colorido às portas de escola pública da zona norte de SP

Estudantes de 12 a 15 anos se inspiraram em artistas consagrados para dar vida nova ao colégio

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São Paulo

As portas de pinturas descascadas da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Rui Bloem, no Jardim Santo Elias, em Pirituba (zona norte), se transformaram em telas para alunos dos 7º, 8º e 9º anos, entre 12 e 15 anos. O desafio era reproduzir ou recriar ali, com a alma, as obras de artistas renomados descobertos e revirados em sala de aula.

Até agora, 37 portas, entre salas de aula, cozinha, estúdio de rádio, setor administrativo e até banheiros ganharam cores. Tais como Pablo Picasso, Van Gogh e Fernando Botero, além dos brasileiros Tarsila do Amaral, Aldemir Martins e Ivan Cruz.

Até a porta da sala dos professores não escapou. A obra "O Grito", do norueguês Edvard Munch, que simboliza o sentimento de angústia dos homens, foi especialmente escolhida pelos profissionais da escola. "Eu me identifiquei com as obras de Basquiat, porque ele põe o sentimento na pintura", diz Pedro Vasconcelos Figueira, 12 anos, do 7º ano, referindo-se ao pintor rebelde neoexpressionista norte-americano Jean-Michel Basquiat, um dos cerca de 40 artistas plásticos estudados pelos alunos.

Pedro, aliás, ao lado de outras dez colegas, assina as principais obras da galeria de arte recém-criada e que se distribui entre térreo, primeiro e segundo andares da escola pública.

O projeto ocorre no contraturno escolar, com o objetivo inicial de tirar o adolescente da rua. A escola está ao lado da comunidade Jardim Santo Elias, que reúne cerca de 8.000 moradores em situação de vulnerabilidade social. O aluno permanece com atividades diárias, além de alimentação.

Idealizadora do projeto, a professora de artes Priscila Trentin, 41, vai além. "Nossos alunos carecem de cultura", diz ela, que soube trabalhar o bullying de alunos acima do peso com os personagens volumosos do colombiano Botero.


O curso de direito ficou só  no diploma

Nascida em Florianópolis (SC), Santa Catarina, Priscila Trentin resolveu seguir os conselhos dos pais, professores por vocação, para que escolhesse um caminho diferente do deles. Uma profissão valorizada e rentável. Optou pelo direito e protocolou muitos processos nos fóruns de capital paulista, para onde se mudou há 18 anos.

Com o tempo, a bacharel se decepcionou com o mundo das leis e as pessoas que o cercam, mesmo com o marido sendo um promotor de Justiça. "Perdi cinco anos cursando direito", diz. Com o abandono da nova profissão, veio a gravidez e o nascimento de Miguel, hoje com 14 anos. 

"Passei a confeccionar brinquedos, me envolver nesse mundo infantil. Me achei. Fiz pedagogia e fui dar aulas. Em 2013, comecei a alfabetizar usando os pintores e deu certo. Estava no sangue", afirma.


Mais novos gostam da pintura de animais

Além do projeto das portas, existe a oficina de pintura em telas para os alunos do ensino fundamental 1, de 8 a 10 anos. Atualmente, cerca de 30 crianças participam das aulas no contraturno escolar.

Assim como os veteranos, a turminha mais nova se mostra afiada na hora de contar um pouco da vida do artista famoso que conheceu, durante o levantamento da biografia dos pintores e grafiteiros realizado na aula de artes.

"O Tingatinga era africano. Ele gostava de pintar os animais da terra dele. Era um homem com quadros sofisticados", diz Juarez Pereira Feitosa, 9, do 4º ano, ao dar a ficha completa de Edward Tingatinga, o pintor da Tanzânia que retratou a fauna e a flora africana.

Apesar da pouca idade, Juarez, dos olhos puxadinhos da ascendência indígena, já demonstra o talento nos riscos. Simplesmente, reproduziu na tela com perfeição uma das zebras do artista.
Antes da pintura, os alunos aprendem a confeccionar a tela, desde o tecido em algodão cru e tinta apropriada até a moldura com paletes de madeira.

Diego Henrique, 11, que pintava um rinoceronte, já decidiu: "Vou ser pintor, mas não de parede".

Faltava lugar para selfies

Uma das reivindicações dos alunos da Rui Bloem era um local para tirar selfies pelo celular.
"Eles diziam que aqui só tem pichação", conta a professora Priscila Trentin, que descobriu uma das paredes no espaço aberto de alfabetização da escola.

O pano de fundo foi escolhido a dedo: uma pintura de asas na cor azul. "Porque voar é liberdade", define Keysi Kaylane Mendes dos Santos, 15 anos, aluna do 9º ano, que diz nunca ter viajado para nenhum lugar. Mas, se depender do talento que demonstra na pintura, desbravará o mundo. Keysi assina a maioria das portas, inclusive, junto de outra colega, Elaine Dina, 15, fez o risco em caneta no portão da reprodução da obra "A Árvore da Vida", do austríaco Gustav Klimt. A arte dourada está em produção pelo grupo. 

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