Alfred Hitchcock e seus filmes são a principal herança cinematográfica que recebi de minha mãe. Como já contei aqui, ela me apresentou às obras-primas do diretor inglês quando eu era uma garota, pré ou já adolescente, não me lembro com precisão. Passamos muitas madrugadas assistindo, na TV, a "O Homem que Sabia Demais", "Um Corpo que Cai", "Disque M para Matar", entre outros.
E Hitchcock se tornou um dos meus cineastas preferidos. Nos anos 1990, ao receber um 13º salário, comprei meu primeiro aparelho de DVD (na época, o equipamento era caro) e, para acompanhá-lo, os primeiros filmes de minha coleção: uma caixa dedicada ao diretor, com alguns de seus clássicos.
Portanto, já era hora de falar de Hitchcock nesta coluna. Mas sem cair em clichês: sua fixação por atrizes loiras, suas aparições-relâmpago nos filmes e seu apelido de 'mestre do suspense' são sempre lembrados. Mas o diretor e suas obras extrapolam estereótipos e influenciam a indústria cinematográfica até hoje. A perfeição técnica, a atenção aos detalhes, a importância dada à divulgação dos filmes são lições de Hitchcock a todo cineasta.
Poucos diretores, por exemplo, souberam usar tão bem a trilha sonora no desenvolvimento de suas tramas. Para isso, foi importante a parceria com Bernard Herrmann, um dos principais compositores da história do cinema. Ele foi o responsável pelas trilhas de "Psicose", "Um Corpo que Cai" e "O Homem que Sabia Demais", entre outras obras de Hitchcock. Imagine esses longas sem suas trilhas. Impossível.
Hitchcock também sabia como ninguém surpreender a plateia, não apenas com o suspense, mas na forma de contar as histórias. Quando lançou "Um Corpo que Cai", em 1958, foi muito criticado por desvendar o segredo do filme antes do final. Hoje, é uma de suas principais obras.
Em "Psicose", de 1960, a montagem do assassinato da personagem de Janet Leigh transmite ao espectador toda a brutalidade do crime sem, em nenhum momento, ser explícita. E a opção por filmar em preto e branco não foi à toa: Hitchcock dizia que as cores deixariam o longa muito chocante (décadas depois, Gus Van Sant refilmou "Psicose" em cores, provando que o diretor inglês estava certíssimo).
Por fim, os filmes de Hitchcock possibilitam inúmeras leituras. "Janela Indiscreta" não é apenas a história de um fotógrafo com a perna quebrada e sua namorada socialite (James Stewart e Grace Kelly, os atores ícones do diretor) espionando a vida de vizinhos e testemunhando um provável crime. É o próprio cinema que vemos na tela, a nossa grande janela. Afinal, nós, espectadores, não estamos também bisbilhotando a vida dos personagens?
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