Aos 67 anos e diabético, José Amâncio Xavier Filho recebeu uma grande festa da família e dos funcionários do Hospital Oeste D’Or, em Campo Grande (RJ), ao receber alta na última terça-feira (12). Nada mais justo após uma epopeia pela vida que durou 42 dias, sendo 30 na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e 12 no quarto, para ser curado do novo coronavírus.
“Acho que foi um milagre, coisa de Deus”, resume o auditor tributário aposentado, nascido em Manaus (AM) e com residência em Guaratiba (RJ).
A luta contra a Covid-19 começou ainda no final de março, quando acredita ter sido contaminado por algum colaborador da empresa de tecnologia de software onde trabalha há dois anos como diretor de expansão, em São Paulo. Segundo ele, duas pessoas com quem mantinha contato tiveram testes positivos para a doença.
De início, ele acreditava estar com dengue, porque os sintomas não se pareciam com os do novo coronavírus. “Me deu um estado febril, por volta de 37º C, um mal-estar e cansaço, além de não ter apetite. Mas foi o mal-estar que me fez ir ao hospital.”
Assim que passou no médico, já foi internado para realizar exames, mas a confirmação do teste positivo só saiu três dias depois. No quarto dia, ele diz que começou a falta de ar e os outros sintomas característicos do coronavírus.
“Primeiro, o vírus bateu nos pulmões. Ele faz nossas células trabalharem para ele, para ele ir se espalhando pelo corpo. Depois do pulmão, ele foi para o pâncreas e, em seguida, para os rins. Quando chegou aos pulmões, fui intubado por seis dias, inconsciente. Depois, no pâncreas, foram mais quatro dias intubado”, conta José Amâncio, que afirmou ter entrado em um estado de delírio na fase mais aguda da doença.
“Eu via barata na parede, gritava socorro e queria arrancar as mangueiras de soro”, lembra.
Após sair da segunda intubação, José Amâncio recorda que só tinha uma preocupação. “Quando veio minha consciência, meu único medo era ter outra recaída e não ir mais para casa. A gente fica incomunicável. Só depois que você fica estável é que o hospital entra em contato com a família para avisar”, afirma, agradecendo, em seguida, a equipe médica que cuidou dele.
“A equipe é muito boa, muito competente. O lado humano trabalhou muito forte.”
Se a recuperação lenta trouxe um alívio, o ataque do vírus provocou um novo transtorno para José Amâncio. Como a diabetes deixa os rins fracos, o coronavírus agravou ainda mais a condição desses órgãos, o que o obrigou a fazer hemodiálise dia sim, dia não.
“Eu nem sabia direito o que era nefrologia. Mas comecei a fazer hemodiálise dia sim, dia não, para limpar todo o sangue em que possa ter ficado resquício do vírus.”
Após a alta, ele continua fazendo a limpeza do sangue em uma clínica particular, além da fisioterapia para voltar a andar, já que ficou muito fraco e perdeu massa muscular pelo longo tempo internado.
“Segundo a médica, vou fazer a hemodiálise por um mês, talvez dois. Existe a possibilidade de fazer por esse período e depois parar, mas vai depender do histórico. O que vai definir são os resultados. Antes eu não tinha nada, agora peço a Deus mais outro milagre para sair dessa”, disse, emocionado.
José Amâncio também agradece a Deus por sua mulher, Simone, 46, e o filho Yves, 12, que moram com ele na praia da Brisa, não terem se contaminado. E é na religião que ele se apega para continuar a recuperação e ser digno do novo milagre.
“A gente esquece um pouco esse lado espiritual. Eu acredito em Deus. E esse pensamento positivo, quando as pessoas fizeram orações por minha recuperação e ligaram em casa para saber como eu estava, ajudou muito.”
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