Aula virtual aumenta acesso de idosos a atividades físicas

Professores voluntários ensinam exercícios por meio de aplicativos de videoconferência em SP

São Paulo

Diante das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19, a realização de práticas esportivas foi uma das muitas atividades prejudicadas na quarentena. Diante do receio de parte da população, principalmente dos grupos de risco, em frequentar academias ou sair às ruas para se exercitar, a internet passou a ser uma aliada de quem não quer ficar parado.

Os mais velhos não ficaram de fora e também passaram a participar de sessões online de treinamento. Para ampliar o acesso das aulas virtuais de educação física à terceira idade, uma ONG de São Paulo criou um projeto que conecta professores voluntários a idosos que vivem em regiões carentes ou instituições de longa permanência. As aulas são transmitidas por meio de aplicativos de videoconferência.

A aposentada Elza Kimiko, 68 anos, pratica atividade física dentro da sala de sua casa, na zona oeste de São Paulo; projeto Envelhecer Saudável tem cerca de 40 alunos que fazem aula virtual - Ronny Santos/Folhapress

O projeto, chamado Envelhecer Saudável, tem cerca de 40 alunos na região metropolitana de São Paulo, o que corresponde a 70% do total de participantes. A meta é dobrar esse número até o fim do ano, segundo Amanda Alves Costa, 40 anos, diretora do instituto Sempre Movimento. Ela garante que a iniciativa irá continuar após o término da pandemia.

Para se inscrever é preciso mandar um email para contato@sempremovimento.org.br. “Vimos vários estudos sobre como o sedentarismo afetou os idosos na pandemia. Como não podemos tirá-los de casa, resolvemos levar o movimento até essas pessoas”, comenta Amanda, que cita os benefícios que as atividades físicas proporcionam tanto para a saúde física quanto mental.

A aposentada Elza Kimiko, 68 anos, afirma que, por causa do isolamento social, ficou ansiosa e desmotivada. “Praticamente não saí de casa por quatro meses. A gente fica parada no tempo, sem ter contato com outras pessoas”, lamenta. Moradora do Jardim João 23, na zona oeste da capital paulista, ela diz já se sentir melhor após um mês fazendo os exercícios.

Elza gostou tanto da novidade que agora tenta convencer o marido, de 70 anos, a participar das aulas.
A dona de casa Maria de Lourdes Medelo, 64 anos, que mora em Cotia (Grande São Paulo), conta que, além dos benefícios para a saúde, as atividades físicas orientadas pela internet são também uma fonte de diversão. “Tem ioga, pilates e aula de ritmos. A gente dança para caramba”, afirma.

Aulas duram uma hora e são feitas com objetos caseiros

Cadeira, cabo de vassoura e garrafa de água. Esses são alguns dos objetos usados pelos professores voluntários durante as aulas virtuais aos idosos, que duram uma hora e são transmitidas pelo aplicativo Google Meet.

No caso de instituições de longa permanência, uma equipe do projeto Envelhecer Saudável vai ao local e prepara uma infraestrutura com telão e som em uma sala, mas garantindo o distanciamento entre os participantes.

“Cada professor monta sua aula, mas todas têm um padrão de qualidade, com começo, meio e fim, e são adequadas de acordo com o público, com base no perfil e nas limitações do grupo”, diz a educadora física Andréa Ervatti, 49 anos, que é voluntária no projeto.

Ela explica que parte dos exercícios visa fortalecer a “musculatura estabilizadora”, que tem como objetivo melhorar o equilíbrio e reduzir o risco de quedas e lesões. “Sempre damos opção a eles, falando: ‘se doer, muda, faz de tal jeito’. De acordo com o movimento, a gente toma esses cuidados de prevenção”, informa.

Uma das voluntárias do projeto fez um grupo no WhatsApp com os participantes para ajudar quem tem dificuldade para se conectar. A aposentada Lourdes Bastos, 65 anos, foi uma das que não conseguiu acessar as aulas no começo. “Tive que pedir ajudar à minha netinha de dez anos”, admite ela, que nunca teve experiência anterior com ensino a distância.

Exercícios melhoram qualidade de vida

A realização de atividades físicas na terceira idade ajuda a prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida, como explica o médico Ricardo Nahas, do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte do hospital 9 de Julho.

Segundo Nahas, os exercícios ajudam a melhorar o controle de doenças como diabetes e hipertensão, além de auxiliar na manutenção dos níveis adequados de gordura para a quantidade de músculos. O fortalecimento muscular contribui para evitar quedas.

Para quem vai começar nos exercícios, o médico ressalta que a evolução das atividades tem de ser feita de maneira gradual, respeitando os limites do corpo. “A dor é sempre amiga . Se alguma coisa está doendo é porque está errada”, diz.

Outro alerta é para que o idoso não pare de tomar seus medicamentos. “A atividade física regular jamais dispensa a medicação e o controle médico . A pessoa só vai largar remédios se o médico falar”, orienta. ​

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