Rede municipal de SP deixa de fazer 2,7 milhões de procedimentos

Agendamento em UBSs e AMAs foi interrompido por causa da pandemia do novo coronavírus

São Paulo e São Paulo

Entre janeiro e julho, quase 2,7 milhões de consultas deixaram de ser realizadas na rede municipal de São Paulo. A maior parte da queda foi provocada pela interrupção no atendimento de UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) por causa da pandemia.

O agendamento foi suspenso no fim de março para evitar o risco de contaminação pelo novo coronavírus, tanto para pacientes quanto para profissionais da saúde. Os atendimentos voltaram no início de junho.

Segundo um relatório de prestação de contas da Secretaria Municipal de Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), apresentado à Câmara de Vereadores, foram realizadas 13,7 milhões em 2019 e 11 mi de janeiro a julho deste ano, o que representa uma queda de 19,5%

Em termos percentuais, a rede de atenção especializada foi a que teve maior diminuição nos atendimentos: 725 mil a menos neste ano, o que equivale a um tombo de 33,1% ante o primeiro semestre de 2019.

Segundo a prefeitura, as consultas de urgência e emergência não foram interrompidas, apesar de a redução constar na prestação de contas

Especialistas defendem que UBSs deveriam ter funcionado para atendimento e testagem de pacientes em estágio inicial de Covid-19 - Rubens Cavallari/Folhapress

A especialista em saúde pública Célia Bortoletto afirma que pacientes com doenças crônicas, como diabéticos e hipertensos, são os mais afetados. “Essas pessoas ficaram sem atendimento e podem ter tido o agravamento de seus quadros de saúde.”

Ela diz que essa situação também pode gerar prejuízos aos cofres públicos, já que a piora no estado de saúde de um paciente por falta de consulta médica pode demandar tratamentos mais complexos depois.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto critica a interrupção. “Foi um desastre. A prefeitura fechou porque foi incapaz de comprar equipamentos de proteção individual. Agora fica muita coisa acumulada”, afirma o especialista.

O infectologista Wladimir Queiroz diz que as as unidades de saúde poderiam ter sido usadas para atendimento e testagem de pacientes nos estágios iniciais da Covid-19. Segundo ele, isso facilitaria o diagnóstico precoce e o isolamento dos doentes, o que poderia ter diminuído o número de casos e mortes na capital.

03.10 Nas Ruas - Consultas na Pandemia
Arte Agora

Pacientes relatam problemas por causa dos cancelamentos

A representante comercial Maria Aparecida Ricardo Lourenço, 57, retirou o útero há dois anos e, desde então, precisa fazer consultas e exames a cada três meses para detectar o eventual aparecimento de câncer.

Porém, suas consultas de fevereiro foram canceladas e não há previsão para reagendamento. “Tentei falar com a agente de saúde, tenho aplicativo do SUS para agendamento, liguei no hospital, mas ainda não está marcando”, afirma. A paciente frequenta o Hospital Santa Marcelina, em Itaquera (zona leste).

Todos os integrantes da família de Maria Ferreira de Souza, 43, de Cidade Tiradentes (zona leste), tiveram agendamentos adiados. Ela, o marido e os dois filhos pretendiam fazer consulta e exames de rotina em abril, mas ainda não conseguiram remarcar. “A agente de saúde passou aqui em casa e pedi para avisar quando estiver marcando”, conta.

Prefeitura diz ter mantido serviços

A Secretaria Municipal de Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que, mesmo na quarentena, manteve serviços como “coleta de exames, curativos, inalações, medicação, atendimento pré-natal e puerpério, acompanhamento de doenças”.

“Com relação ao número de urgências e emergências, trata-se de demanda espontânea, que tem influência das sazonalidades. A pasta esclarece que foram suspensos apenas os agendamentos eletivos”, acrescenta a secretaria.

Sobre os pacientes que não estão conseguindo reagendar consultas, a nota diz que os atendimentos foram retomados priorizando pacientes com agendamento até o dia 23 de março. “Até agora, 170 mil pacientes tiveram as suas consultas reagendadas”.

A retomada de exames como ecocardiograma, densitometria, ultrassom transvaginal, ultrassom com doppler e endoscopia digestiva está marcada para o próximo dia 13.

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