Descrição de chapéu Coronavírus

Casos de Covid avançam mais rápido entre pessoas de até 29 anos

Também houve alta nos casos entre crianças até 9 anos; acima dos 30 percentual parou de crescer

São Paulo

Jovens com até 29 anos fazem parte do grupo que registrou maior avanço proporcional nos casos de Covid-19 no estado em seis meses. A aceleração no número de contaminações nessa faixa etária levou o governo paulista, gestão João Doria (PSDB), a anunciar novas medidas restritivas, como a alteração no horário de funcionamento de bares e lojas de conveniência.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, no dia 15 de junho, os casos confirmados de Covid-19 entre pessoas de 20 a 29 anos eram 14,03% do total. Na última terça-feira (15), a participação desse grupo já havia subido para 17,27%. A fatia com indivíduos com 10 a 19 anos subiu de 2,63% para 4,97%. Entre aqueles com até 9 anos, foi de 1,54% para 2,52%.

Aglomeração na rua Cesario Mota Junior, região da Consolação, no centro de SP - Ronny Santos - 20.nov.20/Folhapress

Em todas as faixas etárias acima de 30 anos, a proporção diminuiu. Isso não quer dizer que houve redução nos casos - e sim que, entre os maiores de 30, o crescimento ocorreu em ritmo menor do que o dos mais jovens.

Considerando as internações, o aumento maior foi na faixa de 30 a 50 anos. O governo estadual informa que de março a dezembro, a maioria das vagas era para pessoas com idade de 55 a 75 anos. Nas últimas três semanas, entretanto, os pacientes entre 30 a 50 anos passaram a representar a maior parte. A secretaria informa que 40% dos novos casos de Covid-19 são em pacientes com 20 a 39 anos.

Em relação ao número de óbitos, a população de até 29 anos soma 1,09% do total. Já os pacientes com 30 a 39 anos representam 2,81%. A maior parte dos mortos no estado tem entre 70 a 79 anos (25,92% da totalidade).

Comportamento

Apesar da alta nas contaminações de jovens e dos alertas feitos pelas autoridades de saúde, parte da população com menos de 29 anos demonstra não ter preocupação com a doença. Morador de Mauá (Grande São Paulo), um rapaz de 22 anos que não quis se identificar conta que pegou Covid-19 em junho. Na época, a empresa onde ele trabalha havia afastado parte dos funcionários por causa da crise econômica.

"Eu tava nos rolês. Eu nunca saí tanto na minha vida igual eu saí nessa quarentena aí. Ia jogar truco, ia para as baladinhas. A empresa estava me pagando normal para eu ficar em casa. Eu fiquei de março até agosto em casa, praticamente", diz.

Na casa onde ele mora, também foram contaminados o irmão, a esposa e a mãe do rapaz. Segundo eles, todos ficaram assintomáticos ou com sintomas leves.

Por outro lado, o jornalista Breno dos Santos, 26, morador da capital, diz ter respeitado o isolamento desde março, saindo, apenas, para ir ao supermercado. Ele acredita ter sido contaminado no dia 15 de novembro, quando foi para Santos (litoral), sua cidade natal, para votar no primeiro turno das eleições municipais.

Ele chegou a ficar internado por quase dois dias para controle e observação dos sintomas. O pai dele, de 61 anos, também teve a doença, além da sua irmã e do cunhado. Todos já estão recuperados.

"É importante as pessoas não acreditarem simplesmente que, por serem jovens, por serem saudáveis, não precisam se proteger, porque a doença é bastante imprevisível", alerta. "Eu tenho histórico de atleta, porque fui nadador federado durante minha adolescência, e tive um quadro grave", acrescenta.

Para especialista, jovens negligenciam prevenção

O médico Wladimir Queiroz, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, considera que o aumento no casos de Covid-19 entre os mais jovens está ligado a um comportamento negligente por parte das pessoas com até 29 anos.

"Os mais jovens são aqueles que acreditam que nada nunca vai acontecer com eles. É semelhante ao que a gente vê na epidemia de HIV e Aids, é a faixa etária que menos se preocupa com a prevenção", avalia o especialista.

"E eles estão se expondo, estão saturados de fazer isolamento social. Estão se encontrando em grandes ou pequenas reuniões, e isso é um prato cheio para disseminação do coronavírus", acrescenta Queiroz.

O especialista entende que a adoção de medidas mais restritivas por parte das autoridades de saúde, como o lockdown, costumam ser rejeitadas pela população, mas podem ser a solução para evitar o colapso no sistema de saúde. Ele cita como exemplo a Alemanha, que, nesta quarta-feira (16), iniciou novo lockdown às vésperas das festas de fim de ano.

Mesmo após o início das campanhas de vacinação contra a doença, o médico avalia que as medidas de prevenção contra o novo coronavírus, como distanciamento social e uso de máscara, devem permanecer ao longo do ano que vem. "Só volta ao normal quando tiver uma fatia muito representativa da população vacinada", alerta.

Governo alterou funcionamento de bares

A Secretaria de Estado da Saúde diz ter intensificado a fiscalização a respeito das medidas de prevenção contra o coronavírus. Segundo a pasta, 1.200 autuações por aglomeração ou falta de máscara já foram feitas.

Na sexta-feira (11), o governo chegou a anunciar a alteração no horário de funcionamento de bares, restaurantes e lojas de conveniência. A medida, entretanto, foi derrubada na Justiça após ação movida pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

A prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), foi procurada para informar os dados de internações de jovens na capital, mas não se manifestou até o momento da publicação desta reportagem.

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.