Após uma decisão tomada pelo governo João Doria (PSDB), algumas unidades estaduais de saúde da capital paulista vão restringir o atendimento a pacientes com a Covid-19.
A medida atinge quatro hospitais da cidade: Itaim Paulista, Vila Alpina, Grajaú e Pedreira e pode sobrecarregar os atendimentos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) das zonas leste e sul, onde estão localizados.
O secretário executivo da Secretaria Estadual da Saúde, Eduardo Ribeiro, disse que o governo conta com o apoio do município para o atendimento da população em quadros leves. “Essas pessoas, com casos de dor de cabeça ou dor nas costas, casos leves, têm condições de serem atendidas na boa rede municipal da cidade de São Paulo”, afirma.
Com relação aos hospitais estaduais, o Ribeiro defende que é importante utilizá-los para os casos mais graves da doença. “E esse não é um modelo que estamos criando agora. O Hospital das Clínicas de São Paulo já atende dessa forma selecionando os casos mais graves e a atenção básica do município atende os mais leves. É isso que permite que o Hospital das Clínicas tenha o importante papel de salvar vidas.”
A manicure Raijlla Maria de Jesus, 24 anos, diz que vai ser difícil ficar sem o Hospital Geral de Pedreira, que atende a região onde ela mora, Vila São José, na zona sul. Ela teve a bebê Alice na maternidade da unidade, em 2019, e disse que muitos amigos e vizinhos dependem do atendimento. “Ficaremos sem ter onde ir, restando apenas opções bem mais longe.”
Moradora do Grajaú, a desempregada Yngrid Camargo da Silva, 22 anos, afirmou sentir-se insegura sem o atendimento do hospital de sua região. “Aqui perto de casa tem o [hospital] Grajaú e uma AME/UBS. É uma pena, porque o atendimento da UBS não é a mesma coisa”, lamentou.
Internações em unidade da zona sul sobem 136%
Um dos hospitais afetados pela nova determinação do governo do estado, o Hospital Geral de Pedreira, na zona sul, registrou um aumento de 136% na ocupação dos leitos de enfermaria para pacientes com Covid-19, passando de 25 para 39 nesta quinta-feira (21).
Considerando o total de internações de pessoas com o coronavírus, entre enfermaria e UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a mesma unidade de saúde teve um crescimento de 92,11% na ocupação, de 38 para 73.
No Hospital Estadual da Vila Alpina, na zona leste, a alta em uma semana foi de 41,18% no número de leitos de enfermaria utilizados, saltando de 17 para 24.
Somados, os quatro hospitais estaduais envolvidos na mudança tiveram um crescimento de 63,08% na ocupação de leitos de enfermaria entre os dias 14 e 21. No mesmo período, o número de pacientes na UTI dessas mesmas unidades subiu 10,71%. O total de leitos ocupados por pacientes de Covid-19 subiu 47,31%, passando de 93 para 137.
As informações sobre internações foram obtidas na plataforma SP Covid-19 Info Tracker, desenvolvida por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade estadual Paulista) com base em dados oficiais.
Gestão Doria nega problemas
O governo do estado, gestão João Doria (PSDB), informa que o SUS (Sistema Único de Saúde) já prevê que os casos de menor complexidade sejam absorvidos pela rede primária da saúde, cabendo aos hospitais mais complexos atender casos de média e alta complexidade.
Sobre o aumento nas ocupações apontado pela Info Tracker, a Secretaria da Saúde diz desconhecer a metodologia da plataforma e, por isso, não comentou. A pasta afirma que “atua com base no monitoramento e no planejamento da rede, visando salvar vidas e assegurar atendimento igualitário”.
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), informou que participará de reunião com o governo estadual para tratar de detalhes da nova estrutura.
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